Frase do dia – 25.04.2010

Pela clínica psicanalítica, sabemos que aquilo que atacamos de modo implacável no outro não deixa de ter relação com aquilo que não suportaríamos reconhecer em nós mesmos.

Mario Fleig, psicanalista, em artigo publicado por Notícias: IHU On-Line, hoje, sobre pedofilia, com o título: O pedófilo: vítima de seu desejo e perversão [leia o artigo para saber o contexto da frase].

O Caderno de Saramago segundo o Times

“O Caderno” de Saramago nas páginas do The Times


Com o título “A infinita Internet de José Saramago”, “O Caderno” foi recenseado no suplemento literário do jornal “The Times”. Aqui deixamos o texto publicado a 14 de Abril de 2010: A infinita Internet de José Saramago. O infindável blogue do Prémio Nobel está cheio de entusiasmo, indignação e energia.

Destaco aqui dois trechos, nos quais leio uma avaliação das posições políticas, literárias e religiosas de Saramago expressas no blog:

Saramago (…) em anos recentes foi por duas vezes candidato ao Parlamento Europeu. Aqui, no entanto, o seu julgamento é muitas vezes atraído pela retórica dos gemidos lunáticos. Uma coisa é escrever sobre Nicolas Sarkozy que “Nunca esperei muito deste senhor”; outra completamente diferente é acusar George W. Bush de ter “expulsado a verdade do mundo”. Saramago não pode acreditar que Silvio Berlusconi venha do mesmo país que Verdi. É fácil escarnecer de Saramago na sua ira, mas duas coisas devem ser ditas em sua defesa. Primeira, há algo estimulante na sua “recusa em aceitar” o mundo como se apresenta na desigualdade. Segunda, isto é um blogue, e não um manifesto, e como tal é pessoal, fragmentado e reactivo.

Muito mais gratificantes são as suas meditações sobre literatura, linguagem, teologia. “Deus”, escreve, num eco dos Cadernos de Lanzarote (ainda inéditos em inglês), “é o silêncio do universo e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio”. O acto de blogar inspirou certamente o lado aforístico de Saramago, e é particularmente memorável quando reflecte sobre os seus heróis literários. Aqui está uma sobre Fernando Pessoa: “Este Fernando Pessoa nunca chegou a ter verdadeiramente a certeza de quem era, mas por causa dessa dúvida é que nós vamos conseguindo saber um pouco mais quem somos.” Escreve um elegante tributo a Carlos Fuentes, que “tornou compatível a maior exigência crítica, o maior rigor ético, que são os seus, com uma gravata bem escolhida.” e introduz-nos ao brilhantismo de Javier Ortiz, que escreve o seu próprio obituário. O entusiasmo de Saramago é irresistível e os seus elogios agudos. Louva Kafka “por ter demonstrado que o homem é uma barata”, Montaigne “porque não precisou de Freud para saber quem era” e Gogol “porque contemplou a humanidade e descobriu-a triste”.

Fonte: Fundação José Saramago – 19/04/2010