Quem escreveu os quatro evangelhos canônicos?

Recomendo este artigo como uma boa e rápida introdução para quem nunca ouviu dizer que até hoje não sabemos quem escreveu os quatro evangelhos canônicos.

 

Evangelhos são obra de autores desconhecidos, dizem pesquisadores

Atribuição a Mateus, Marcos, Lucas e João provavelmente aconteceu de forma tardia. Com exceção do texto joanino, relatos parecem ter se baseado fortemente em Marcos.

Os Evangelhos do Novo Testamento, quatro relatos sobre a vida de Jesus aceitos por todas as igrejas cristãs, tradicionalmente são atribuídos a dois dos Doze Apóstolos (Mateus e João, filho de Zebedeu), a um companheiro do apóstolo Pedro (Marcos) e a um colaborador de São Paulo (Lucas). Para os atuais estudiosos da Bíblia, no entanto, o mais provável é que nenhuma dessas autorias tradicionais esteja totalmente correta. Embora muitos dos fatos contados pelos evangelistas possam realmente remontar à vida de Jesus, inconsistências e contradições deixam claro que nenhum de seus discípulos originais sentou-se pessoalmente para escrever uma biografia de Cristo.

“O que está claro é que os títulos que temos são um fenômeno editorial, que veio mais tarde”, resume Luiz Felipe Ribeiro, professor de pós-graduação em história do cristianismo antigo da Universidade de Brasília (UnB), que está concluindo seu doutorado na Universidade de Toronto (Canadá). “Os títulos demoraram para aparecer no corpo do texto. Os primeiros papiros com a fórmula atual para os títulos — ‘Evangelho segundo Marcos’ ou ‘Evangelho segundo João’, por exemplo — são de meados do século 3 [mais de 150 anos depois da data em que os textos teriam sido escritos].”

De acordo com Ribeiro, os estudos sobre como os livros da época recebiam seus títulos e atribuições de autoria também revelam que essa fórmula (envolvendo uma estrutura gramatical do grego conhecida como acusativo) é curiosamente única dos Evangelhos; nenhum copista anterior teria pensado em falar da “Ilíada segundo Homero”, por exemplo. “É muito improvável que essa mesma maneira de designar os textos surgisse de forma independente em quatro deles ao mesmo tempo. Por isso, tudo indica que se trata de uma mudança na maneira como os Evangelhos passaram a circular naquela época”, diz ele.

Testemunho antigo — ou não?

O fato é que, além dos títulos explícitos em papiros, a primeira referência a quatro Evangelhos escritos pelos autores que conhecemos tradicionalmente — Mateus, Marcos, Lucas e João, nessa ordem — vem do bispo Ireneu de Lyon, escrevendo por volta do 190. No começo do mesmo século, outro bispo, Papias (cuja obra original não sobreviveu, mas acabou sendo citada por escritores cristãos posteriores), menciona apenas Mateus e Marcos.

A poucas décadas de “distância” dos apóstolos originais, Papias até parece dispor de informações mais confiáveis, mas uma série de coisas em suas afirmações não batem. Primeiro, ele parece se referir a Mateus como uma simples coleção de ditos de Jesus (logia, em grego), escritos originalmente em aramaico, a língua do dia-a-dia na Palestina do século 1. No entanto, Mateus é na verdade uma narrativa, e o texto que temos parece ter sido composto diretamente em grego. Já Marcos seria o secretário ou intérprete de Pedro, o qual teria anotado (“de forma desordenada”, diz Papias), as pregações do líder dos apóstolos em Roma.

Além do fato de, na verdade, o Evangelho de Marcos ser uma narrativa altamente estruturada, sem sinal de desordem, ele não parece o tipo de coisa que um ex-colaborador de Pedro escreveria, afirma Ribeiro. “Existe, na verdade, uma hostilidade grande em relação a Pedro no Evangelho de Marcos, e talvez até uma rejeição de todos os Doze, que são retratados como covardes”, diz o pesquisador. Todos os Evangelhos mostram Pedro vacilando e até negando Jesus, mas enquanto Mateus atenua isso com a famosa cena em que Jesus promete a seu apóstolo “as chaves do Reino do Céu”, Marcos não apenas omite qualquer menção a isso como é bem provável que, originalmente, nem mostrasse Jesus aparecendo aos apóstolos depois de ressuscitar.

É que os mais antigos manuscritos do Evangelho de Marcos terminam de forma meio abrupta, no versículo 8 do capítulo 16. O relato se encerra com Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé — três seguidoras de Jesus — indo ao sepulcro de Cristo. Lá, porém, encontram a tumba aberta e um misterioso rapaz de roupas brancas (talvez um anjo) dizendo que Jesus tinha ressuscitado. As mulheres, então, fogem assustadas, “e nada diziam a ninguém, porque temiam”. O mais provável é que, mais tarde, foram adicionados os versículos de 9 a 20, que encerram o Evangelho que temos hoje e contêm as aparições do Jesus ressuscitado a seus seguidores.

Marcos, o primeiro

Na verdade, apesar de a ordem dos Evangelhos nas Bíblias atuais começar com Mateus, Marcos é quase certamente o mais antigo de todos os textos, talvez escrito um pouco antes do ano 70, quando o Templo de Jerusalém foi destruído pelos romanos. O consenso entre os estudiosos é que Mateus e Lucas usaram Marcos como a base de seus próprios Evangelhos.

“Ambos se baseiam na estrutura narrativa de Marcos; Mateus e Lucas foram aumentados acrescentando-se a Marcos extratos de uma coletânea de ditos de Jesus que hoje está perdida”, escreve Geza Vermes, professor emérito de estudos judaicos da Universidade de Oxford, em seu livro “Quem é quem na época de Jesus” (Editora Record), recém-lançado no Brasil. “Quando Lucas e Mateus concordam entre si a respeito de algo, também concordam com Marcos; quando são diferentes de Marcos, também são diferentes entre si”, diz Ribeiro.

Além disso, Marcos é o evangelista que mais coloca expressões aramaicas na boca de Jesus ou das pessoas que entram em contato com ele, como o uso de Éfata (“abre-te”) para curar um surdo-mudo e Talitha cum (“menina, levanta-te”) para ressuscitar uma menina. “É o único evangelista que permite ao leitor ouvir um eco eventual das palavras de Jesus em sua própria língua”, diz Vermes.

Judeus ou pagãos?

Por essas e outras, a identificação do autor de Evangelho de Marcos como pagão de nascimento — e mesmo de Lucas ou João, autores de narrativas que parecem muito influenciadas pela cultura grega — não é tão confiável quanto alguns estudiosos costumavam imaginar. “Eu, por exemplo, acho que Marcos poderia muito bem ter uma origem na Galileia”, diz Ribeiro. “De modo geral, essa dicotomia cultural muito forte entre judeus e pagãos de origem grega que a gente costuma imaginar é relativa. O judaísmo estava sob forte influência helenística fazia tempo.”

A influência judaica mais clara é a de Mateus, texto talvez escrito entre os anos 80 e 90 e repleto de referências à Lei de Moisés e às profecias do Antigo Testamento sobre a vinda do Messias. “Mas, mesmo no caso de Lucas, há um lado judaico bastante forte. A narrativa dele começa e termina no Templo de Jerusalém, por exemplo. Jesus nunca pisa fora do território de Israel na narrativa de Lucas. Isso não me parece à toa”, diz Vilson Scholz, professor de teologia exegética da Universidade Luterana do Brasil (RS) e consultor de traduções da Sociedade Bíblica do Brasil.

Scholz diz acreditar que, embora figuras como os apóstolos João e Mateus não tenham escrito pessoalmente os Evangelhos, é possível que as narrativas sejam obra de pessoas de “escolas” ligadas a eles, que teriam transmitido a tradição oral relacionada aos primeiros discípulos em forma escrita. Para Scholz, o Evangelho de Lucas, escrito pelo mesmo autor dos Atos dos Apóstolos (em ambos os casos a obra é dedicada a um patrono conhecido como Teófilo, e há remissões entre um livro e outro), é o que tem associação mais plausível com o autor tradicional.

Explica-se: Lucas teria sido um médico de origem grega e, de fato, sua linguagem é uma das mais polidas e de estilo cuidadoso entre os Evangelhos, diz Scholz. Os Atos dos Apóstolos também usam o pronome “nós” em certas passagens, dando a entender que o narrador estava viajando junto com Paulo. “Eu já acho que Lucas é tão problemático [como autor verdadeiro do Evangelho] quanto os demais”, afirma Ribeiro. Ele lembra que há diferenças consideráveis entre o relacionamento de Paulo com os demais membros da Igreja como é retratado em Atos e a maneira como Paulo fala de Pedro e dos demais apóstolos em suas cartas — nesse caso, Paulo é bem mais agressivo e menos condescendente em suas críticas aos seguidores originais de Jesus.

Testemunhas oculares

Um detalhe que solapa, ao menos à primeira vista, a idéia de que alguns dos autores do Evangelho presenciaram as pregações de Jesus é a falta de uma identificação de quem escreve no próprio texto, ou mesmo de afirmações diretas de que o escritor viu tais e tais fatos acontecerem. “Isso pode ser apenas um detalhe de gênero literário — uma tentativa de demonstrar objetividade, por exemplo”, pondera Scholz.

A única exceção é o Evangelho de João — justamente o “estranho no ninho” entre os quatro textos aceitos no Novo Testamento, por não seguir a mesma linha básica de narrativa dos outros três e apresentar uma visão teológica muito desenvolvida e elevada de Jesus, considerado o Verbo de Deus encarnado. Com base nisso, ele seria o texto mais tardio, escrito por volta do ano 100. “Muita gente vê influência da filosofia grega sobre João, mas a divisão clara do mundo entre luz e trevas, que a gente vê nele, já aparece nos Manuscritos do Mar Morto, a poucos quilômetros de Jerusalém”, diz Scholz. Em um ou dois trechos, o Evangelho de João diz que “a testemunha viu” os fatos narrados acontecerem.

“Eu acho possível que esse Evangelho remonte a uma testemunha ocular, mas o que ela viu foi retrabalhado pela comunidade à qual ela pertencia”, avalia Ribeiro. Seria o misterioso “discípulo amado” de Jesus — mas esse discípulo certamente não é João, o qual é mencionado separadamente no mesmo Evangelho. “Também vemos uma tensão política entre a comunidade desse discípulo amado e o grupo que seguia Pedro, por exemplo”, diz o pesquisador, lembrando que, numa das narrativas sobre o sepulcro vazio de Jesus, Pedro e o tal discípulo correm até a tumba, mas o discípulo amado é o primeiro a chegar. Pedro entra no sepulcro e vê os lençóis que cobriam o corpo de Jesus; o discípulo amado entra depois, “e viu, e creu”, diz o Evangelho. Seria uma forma de mostrar a precedência dele sobre Pedro.

No fundo, o que se sabe de seguro sobre os escritores dessas quatro obras-primas da cristandade primitiva está mesmo embutido no próprio texto — e, como tal, sujeito a interpretações. É muito difícil, por enquanto, colocar uma “cara” nos evangelistas. “Enquanto não houver outras descobertas arqueológicas de peso, ficamos nesse impasse”, diz Scholz.

Fonte: Reinaldo José Lopes – G1: 27/07/2008

 

Quem já conhece o assunto deve ler livros sobre Métodos de Leitura da Bíblia e de Introdução ao Novo Testamento, além de visitar sites e blogs criados e mantidos por especialistas na área.

Igrejas e religiões hoje: Martini, Boff, Al-Sa’Dawi

Da Itália, o biblista Carlo Martini, no artigo Que cristianismo no mundo pós-moderno? – Fonte: IHU On-Line: 29/07/2008

“Recordo um jovem que, recentemente, me dizia: “Não me diga que o cristianismo é verdade. Isso me provoca um mal-estar. É diferente do que dizer que o cristianismo é belo…” A beleza é preferível à verdade”, escreve Carlo Maria Martini, jesuíta, cardeal, arcebispo emérito de Milão, em artigo publicado no jornal italiano Avvenire, 27-07-2008.

Eis o artigo.

O que posso dizer sobre a realidade da Igreja católica, hoje? Deixo-me inspirar pelas palavras de um grande pensador e homem de ciência russo, Pavel Florenskij, que morreu em 1937, mártir da sua fé cristã: “Somente com a experiência imediata é possível perceber e valorizar a riqueza da Igreja”. Para perceber e avaliar as riquezas da Igreja, é necessário passar pela experiência da fé.

Seria fácil redigir uma coletânea de lamentações de coisas que não vão bem na nossa Igreja, mas isso significaria adotar uma visão artificial e deprimente, e não olhar com os olhos da fé, que são os olhos do amor. Naturalmente não devemos fechar os olhos aos problemas. Devemos, contudo, buscar antes de tudo, compreender o quadro geral no qual esses se situam.

Um período extraordinário na história da Igreja
Se, portanto, considero a situação presente da Igreja com os olhos da fé, vejo, sobretudo, duas coisas.

Primeiro, nunca houve, na história da Igreja, um período tão feliz como o nosso. A nossa Igreja conhece a sua maior difusão geográfica e cultural e se encontra substancialmente unida na fé, com exceção dos tradicionalistas de Lefebvre.
Segundo, na história da teologia nunca houve um período tão rico como o atual. Nem no século IV, período dos grandes Padres da Capadócia da Igreja Oriental e dos grandes Padres da Igreja ocidental, como São Jerônimo, Santo Ambrósio e Santo Agostinho, não havia uma tão grande floração teológica.

Basta recordar os nomes de Henri de Lubac e Jean Daniélou, de Yves Congar, Hugo e Karl Rahner, de Hans Urs von Balthasar e do seu mestre Erich Przywara, de Oscar Cullmann, Martin Dibelius, Rudolf Bultmann, Karl Barth e dos grandes teólogos americanos com Reinhold Niebuhr – sem esquecer os teólogos da libertação (seja qual for o juízo que façamos deles, agora que lhes vêm prestada uma nova atenção pela Congregação da Doutrina da Fé) e muitos outros que ainda vivem. Recordemos também os grandes teólogos da Igreja oriental que conhecemos pouco, como Pavel Florenskij e Sergei Bulgakov.

As opiniões sobre estes teólogos podem ser muito diferentes e variadas, mas eles certamente representam um grupo incrível, como nunca existiu na Igreja dos tempos passados. Tudo isso se dá num mundo cheio de problemas e de desafios, como a injusta distribuição das riquezas e dos recursos, a pobreza e a fome, os problemas da violência difusa e da manutenção da paz. Particularmente vivo é o problema da dificuldade de compreender com clareza os limites da lei civil em relação à lei moral. Estes são problemas muito reais, sobretudo em alguns países, e são, muitas vezes, objeto de leituras diferentes que geram uma discussão também muito acesa.

Às vezes parece possível imaginar que não todos estamos vivendo no mesmo período histórico. Parece que alguns vivem ainda no tempo do Concílio de Trento, outros no tempo do Concílio Vaticano I. Alguns assimilaram bem o Concílio Vaticano II, outros menos; ainda outros já se projetaram decididamente no terceiro milênio. Não somos verdadeiros contemporâneos, e isso sempre representou um grande fardo para a Igreja e requer muita paciência e discernimento. Mas, no momento, prefiro isolar este tipo de problemas e considerar a nossa situação pedagógica e cultural com as conseqüentes questões relacionadas com a educação e o ensino.

Uma mentalidade pós-moderna :
Para buscar um diálogo profícuo entre as pessoas deste mundo e o Evangelho e para renovar a nossa pedagogia à luz do exemplo de Jesus, é importante observar atentamente o assim chamado mundo pós-moderno, que constitui o contexto de fundo de muitos destes problemas e que condiciona as soluções.

Uma mentalidade pós-moderna pode ser definida em temos de oposições: uma atmosfera e um movimento de pensamento que se opõe ao mundo assim como o conhecemos até agora. É uma mentalidade que se separa espontaneamente da metafísica, do aristotelismo, da tradição agostiniana e de Roma, considerada como sede da Igreja, e de muitas outras coisas. O pensar pós-moderno está longe do precedente mundo cristão platônico onde se dava como certa a supremacia da verdade e dos valores sobre os sentimentos, da inteligência sobre a vontade, do espírito sobre a carne, da unidade sobre o pluralismo, do ascetismo sobre a vitalidade, da eternidade sobre a temporalidade. No nosso mundo de hoje há uma instintiva preferência pelos sentimentos sobre a vontade, pelas impressões sobre a inteligência, por uma lógica arbitrária e a busca do prazer sobre uma moralidade ascética e coercitiva. Este é um mundo no qual são prioritários a sensibilidade, a emoção e o átimo presente.

A existência humana se torna, desta maneira, um lugar onde há a liberdade sem freios, onde a pessoa exercita, ou acredita pode exercer, o seu arbítrio pessoal e a própria criatividade.

Este tempo é também de reação contra uma mentalidade excessivamente racional. A literatura, a arte, a música e as novas ciências humanas (particularmente, a psicanálise), revelam como muitas pessoas não crêem mais que vivem num mundo guiado por leis racionais, onde a civilização ocidental é um modelo a ser imitado no mundo. Ao contrário, aceita-se que todas as civilizações são iguais, enquanto que antes se insistia na assim chamada tradição clássica. Este tempo também é uma reação contra uma mentalidade excessivamente clássica. Hoje tudo é colocado no mesmo plano porque não existem mais critérios para verificar que coisa é uma civilização verdadeira e autêntica.

Há uma oposição à racionalidade que é vista como fonte de violência proque as pessoas acham que a racionalidade pode ser imposta enquanto verdadeira. Prefere-se a forma de diálogo e de troca com o desejo de sempre ser aberto aos outros e ao que é diferente, se duvida inclusive de si mesmo e não se confia em quem quer afirmar a própria identidade com a força.

Este é o motivo pelo qual o cristianismo não é acolhido facilmente quando ele se apresenta como a “verdadeira” religião.

Recordo um jovem que, recentemente, me dizia: “Não me diga que o cristianismo é verdade. Isso me provoca um mal-estar. É diferente do que dizer que o cristianismo é belo…” A beleza é preferível à verdade. Neste clima, a tecnologia não é mais considerada como um instrumento a serviço da humanidade, mas um ambiente no qual se dão as novas regras para interpretar o mundo: não existe mais a essência das coisas, mas somente o uso dessas para um certo fim determinado pela vontade e pelo desejo de cada um. Neste clima, é conseqüente a rejeição do pecado e da redenção. Diz-se: “Todos são iguais, mas cada pessoa é única”. Existe o direito absoluto de ser único e de afirmar a si mesmo. Toda e qualquer regra moral é obsoleta. Não existe mais o pecado, nem o perdão, nem a redenção e, muito menos, o “renunciar a si mesmo”. A vida não pode ser vivida como um sacrifício ou um sofrimento.

Uma última característica da pós-modernidade é a rejeição da aceitação de qualquer coisa diz respeito ao centralismo ou à vontade de dirigir as coisas de cima. Neste modo de pensar há um “complexo anti-romano”. Estamos agora além do contexto onde o universal, o que era escrito, geral e sem tempo, contava mais; onde o que era durável e imutável era preferido ao que era particular, local e datado.

Hoje a preferência é, pelo contrário, por um conhecimento mais local, pluralista, adaptável às circunstâncias e a tempos diferentes.

Não quero expressar juízos. Seria necessário muito discernimento para distinguir o verdadeiro do falso, do que é dito como aproximação do que é dito com precisão, que coisa é simplesmente uma tendência ou uma moda daquilo que é uma declaração importante e significativa.
O que quero acentuar é que esta mentalidade está, hoje, por tudo, sobretudo nos jovens, e é necessário ter isso em conta.

Mas quero acrescentar uma coisa. Talvez esta situação é melhor da que existia antes. Porque o cristianismo tem a possibilidade de mostrar melhor o seu caráter de desafio, de objetividade, de realismo, de exercício da verdadeira liberdade, da religião ligada com a vida do corpo e não somente da mente.Num mundo como o que vivemos hoje, o mistério de um Deus não disponível e sempre surpreendente adquire maior beleza; a fé compreendida como um risco torna-se mais atraente. O cristianismo aparece mais belo, mais próximo das pessoas, mais verdadeiro. O mistério da Trindade aparece como fonte de significado para a vida e uma ajuda para compreender o mistério da existência humana.

“Examina tudo com discernimento”
Ensinar a fé neste mundo representa nada mais, nada menos que um desafio. Para sermos capazes disso é preciso ter estas atitudes:

Não sermos surpreendidos pela diversidade.

Não ter medo do que é diferente ou novo, mas considerá-lo como um dom de Deus. Provar que somos capazes de ouvir coisas muito diferentes daquelas que normalmente pensamos, mas sem julgar imediatamente quem fala. Buscar compreender que coisa nos é dito e os argumentos fundamentais apresentados. Os jovens são muito sensíveis para um atitude de escuta sem julgamentos. Esta atitude dá-lhes coragem de falar que realmente sentem e de começar a distinguir o que realmente é verdadeiro do que o é somente nas aparências. Como diz São Paulo: “Examina tudo com discernimento; conserva o que é verdadeiro; evita toda espécie de mal” (1Ts 5, 21-22).

Sermos capazes de correr riscos. A fé é o grande risco da vida. “Quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perde a sua vida por minha causa, a encontrará” (Mateus 16, 25).

Sermos amigo dos pobres. Coloca os pobres no centro da tua vida porque esses são os amigos de Jesus que se fez um deles.

Alimentar-nos com o Evangelho. Como Jesus nos diz no seu discurso sobre o pão da vida: “Porque o pão de Deus é o que desce do céu é dá vida ao mundo” (João 6, 33).

Oração, humildade e silêncio
Para ajudar a desenvolver estas atitudes, proponho quatro exercícios:

1.- Lectio Divina. É uma recomendação de João Paulo II. “Particularmente é necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital, na antiga e sempre válida tradição da lectio divina que propicia que se acolha a palavra viva que interpela, orienta e plasma a existência” (Novo Millennio Ineunte, N. 39). A Palavra de Deus nutre a vida, a oração e a viagem cotidiana, é o princípio da unidade da comunidade numa unidade de pensamento, a inspiração para a contínua renovação e para a criatividade apostólica” (Ripartendo da Cristo, N. 24).
2.- Autocontrole. Devemos aprender, novamente, que saber se opor à vontade própria é algo mais gozoso que as concessões continuas que parecem desejáveis mas que acabam por gerar mal-estar e saciedade.

3.- Silêncio. Devemos nos afastar da insana escravidão do barulho e das conversas sem fim e encontrar cada dia, pelo menos meia hora de silêncio e meio dia cada semana para pensar em nós mesmos, para refletir e rezar. Isto pode parecer difícil, mas quando se consegue dar um exemplo de paz interior e tranqüilidade que nasce de tal exercício, também os jovens tomam coragem e encontram aí uma fonte de vida e de alegria que não experimentaram antes.

4.- Humildade. Não acreditemos que cabe a nós resolver os grandes problemas dos nossos tempos. Deixemos espaço ao Espírito Santo que trabalha melhor do que nós e mais profundamente. Não sufoquemos o Espírito nos outros. É o Espírito que sopra. Portanto, estejamos prontos para acolher as suas manifestações mais sutis. Para isso é necessário o silêncio.

 

Do Brasil, o teólogo Leonardo Boff, na reportagem em que diz: La Iglesia sufrirá una gran crisis – Fonte: Periodista Digital: 29/07/2008

La Iglesia Católica sufrirá una “gran crisis interna” porque los millones de católicos del mundo no tienen una adecuada representación en los asuntos administrativos del Vaticano, dijo el sacerdote brasileño Leonardo Boff, promotor de la ‘Teología de la Liberación’, el lunes.
“La futura crisis en la Iglesia Católica se dará porque en el Vaticano no se encuentran todos los genuinos representantes de los católicos en el mundo”, dijo Boff a periodistas, tras una visita al presidente paraguayo electo, Fernando Lugo, obispo católico suspendido por el Vaticano por dedicarse a la política.

“En la mayoría de los países latinoamericanos se practica el catolicismo y existe la mayor cantidad de practicantes de esa religión que en otros continentes”, sostuvo Boff. “Estos católicos no están bien representados”, agregó.

Cuando era cardenal, jefe de la Congregación de la Doctrina de la Fe, el ahora Papa Joseph Ratzinger sancionó a Boff por su prédica a favor de la Teología de la Liberación.

“El nulo crecimiento de la Iglesia Católica en el planeta” es otro factor que atizará su crisis interna, vaticinó el cura rebelde. Durante su entrevista con Lugo -que asumirá el 15 de agosto- Boff se puso a su disposición para asesorarlo.

Tras una extensa reunión con el futuro mandatario en el local de la Alianza Patriótica para el Cambio, el célebre ex sacerdote y teólogo, quien fue uno de los principales propulsores de la Teología de la Liberación, la cual fundara junto a Gustavo Gutiérrez Merino, en 1968, y que propugna el compromiso con los más pobres y con la opresión sufrida durante décadas en América Latina, manifestó que el testimonio de vida del ex obispo de San Pedro está plenamente identificado con la lucha a favor de los más carenciados.

“Yo como fundador de la Teología de la Liberación conozco a Lugo desde hace muchos años y como sacerdote se inscribía y se sigue inscribiendo dentro de la Teología. El eje fundamental y la marca registrada de esta Teología es la opción por los pobres contra la pobreza, a favor de la vida, la libertad, y esa es la línea principal del Presidente, difundir los focos de conflicto para ayudar a crear un rostro nuevo en el país”, expresó.

El teólogo brasileño manifestó que se reunió con el mandatario en su carácter de ambientalista buscando apoyo para proyectos ambientales regionales en compañía de representantes de Itaipú, y destacó la importancia de concienciar a la gente sobre la protección de los recursos hídricos. Afirmó que Paraguay y Brasil son “potencias del agua”, debido a la gran riqueza que poseen.

Indicó, además, que es justificado el reclamo que realizará el Paraguay sobre el tratado de la binacional y que existe voluntad política de ambas partes para la renegociación.

“Nadie debe prevalecer sobre el otro, todos tenemos que salir beneficiados y eso es objeto de una gran conversación política para que todos puedan tener ganancias, existe una enorme voluntad política de ambas partes”, señaló.

Boff denunció que la Cuenca del Plata, a la que calificó como “privilegiada” por su potencial hídrico, está amenazada, principalmente por la contaminación ocasionada por el vertido de pesticidas.

“Le presentamos un proyecto del Centro de Saberes y Cuidados Socioambientales “Cuenca del Plata”, para que existan personas que cuiden de los suelos, de las aguas, de las tierras, y el Presidente quiere apoyar este proyecto, que incluye a todos los países de la Cuenca del Plata y principalmente la parte paraguaya y brasileña de Itaipú; la región de la Cuenca está muy dañada, en varios sitios existe contaminación”, añadió.

Silenciado por el Vaticano

Leonardo Boff es un teólogo, filósofo y escritor nacido en Concórdia, estado de Santa Catarina, Brasil, conocido por su apoyo activo a los derechos de los pobres y marginados, y además al movimiento ecologista.

Es uno de los fundadores de la Teología de la Liberación, junto con Gustavo Gutiérrez Merino.

En 1985, la Congregación para la Doctrina de la Fe, dirigida por el cardenal Joseph Ratzinger (hoy papa Benedicto XVI) le silenció por un año por su libro La Iglesia, Carisma y Poder, que estaba en contra de la doctrina de la Iglesia Católica.

 

Do Egito, a escritora Nawal Al-Sa’Dawi, em entrevista na qual diz: Toda religión oprime a la mujer – Fonte: El País: 09/07/2008

Con 76 años, la energía y vitalidad de Nawal Al Saadawi es contagiosa. Así lo ha demostrado en el Congreso Mundo de Mujeres que concluyó ayer en Madrid. Los ojos de esta luchadora egipcia por la libertad y la igualdad transmiten una inagotable curiosidad. Dejó la psiquiatría para dedicarse de lleno a la literatura. Autora de La cara oculta de Eva (1970), Mujeres y sexo (1972) o Mujer en punto cero (1973) fue cesada de su puesto de directora de Sanidad Pública y la revista que editaba, clausurada. Siguió escribiendo y hablando en público de la situación de la mujer árabe y de los derechos humanos. En 1981 fue encarcelada. Desde allí siguió escribiendo como pudo ya que le quitaron papel y lápiz. Tras salir de prisión, en 1983, fundó la Asociación Solidaria de Mujeres Árabes para “quitar el velo de las mentes” de las mujeres árabes.

Pregunta. ¿Cuáles son los problemas de las mujeres en el mundo árabe en la actualidad?

Respuesta. La desigualdad. No habrá igualdad si no hay igualdad entre los países y las clases. El 60% de la población egipcia vive debajo del umbral de la pobreza. La mayoría son mujeres, solteras, madres con hijos, que trabajan para dar de comer a su familia.

Además, las mujeres tienen que enfrentarse también al renacimiento de los fundamentalismos religiosos; ya sean islámicos, cristianos o judíos. En cualquier caso la mujer resulta oprimida. Las mujeres siempre están oprimidas por las religiones. Sufren problemas económicos, políticos, religiosos, problemas para casarse o problemas vinculados al velo.

P. ¿El velo es una imposición?

R. Sí. Hay un paso atrás hacia el velo y la circuncisión fomentado por parte de todos los fundamentalistas religiosos. Muchas mujeres en Egipto han tenido una ablación. No tiene nada que ver con una religión particular. Los fundamentalistas cristianos también imponen la ablación de las niñas.

P. Se dice que suelen ser las mujeres las que preservan como tradición la mutilación genital.

R. Es cierto. Son las mujeres las que practican la ablación. Son las esclavas de los esclavos. El hombre también es un esclavo. Sin embargo, la esposa aparece como la esclava del marido.

P. El sociólogo francés Alain Touraine afirma que la mujer tendrá un papel predominante en la sociedad de los próximos 500 años. ¿Cree que será así?

R. ¡Espero que no sean mujeres como Condoleezza Rice! O Margaret Thatcher, Hillary Clinton, Madeleine Albright, Angela Merkel, Golda Meier… Son mujeres de derechas, que creen en el patriarcalismo. Mujeres opresoras que oprimen a otras mujeres. ¿Qué tipo de mujeres liderarán la sociedad? ¡No es suficiente ser mujer! Hay que defender la justicia.

Espero que la sociedad dentro de 500 años esté dirigida por progresistas en general, hombres y mujeres.

P. Usted se presentó a las elecciones presidenciales en Egipto…

R. Fue un acto simbólico. Utilicé mi programa electoral para conseguir más visibilidad. Cuando la policía me impidió asistir a mi reunión electoral pude decir que dejaba la campaña y denunciar que no existía un verdadero sistema democrático. La política global está relacionada con el feminismo. No hay separación entre la dominación sufrida por las mujeres y la dominación que impera en el mundo. No se puede separar los asuntos de género de los demás temas.

P. ¿Cómo ve el mundo en la actualidad?

R. No hay justicia. El poder que domina el mundo es el militar, el económico, el de los hombres, las religiones. Se está usando a Dios para oprimir a la gente, a las mujeres y a los pobres. Vivimos en la selva y tenemos que luchar en contra de ello.