O Brasil retratado na TV é o país dos que venceram e impõem suas lógicas de poder

Outro dia, discutia-se aqui o resultado de pesquisa sobre meios de comunicação feita pela empresa canadense GlobeScan e se via que a TV tem muito mais credibilidade do que sites de notícias e blogs. E eu comentava que “pode ser”, mas que, mesmo assim, dou pouquíssima credibilidade à TV brasileira…

Releia primeiro o post Pesquisa diz que TV tem muito mais credibilidade do que sites e blogs e depois leia o artigo do Professor Luís Carlos Lopes, do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro.

Agência Carta Maior: 12/05/2006

A espiral da opinião comum: a televisão aberta do Brasil, argumentos e culturas

Por Luís Carlos Lopes

A opinião comum televisiva pouco mostra da imensa capacidade dos brasileiros de superar suas dificuldades incomensuráveis, revelando que estes são aptos a exercerem papéis decisivos na modernidade. Por razões óbvias, este meio de comunicação não sublinha, a não ser de modo episódico, as várias tentativas passadas e presentes de se mudar o status quo. O Brasil retratado é o país dos que venceram e impõem suas lógicas de poder (cont.)

A novela continua: Código Da Vinci, Opus Dei e mais bate-boca

Folha Online: 12/05/2006 – 19h32

Opus Dei se defende das agressões de “Código da Vinci”

A influente associação católica Opus Dei, protagonista de uma verdadeira ofensiva contra “O Código da Vinci”, defendeu nesta sexta-feira o direito de protestar contra “as agressões” do diretor do filme, Ron Howard. Em comunicado, o porta-voz em Roma da Opus Dei, Manuel Sánchez Hurtado, afirmou que “não convém perder de vista a realidade da situação: este filme é ofensivo para os cristãos; Howard representa o agressor, e os católicos são vítimas de uma ofensa”, afirmou. A proximidade da estréia mundial do filme fez com que vários cardeais, entre eles (cont.)


Leia Mais:
Hanks defende ‘Da Vinci’ de críticas de grupos cristãos

Pesquisa diz que TV tem muito mais credibilidade do que sites e blogs

Pode ser. Mas eu dou pouquíssima credibilidade à TV brasileira…

TV é mais confiável que sites e blogs, diz estudo

Segundo pesquisa realizada pela empresa canadense GlobeScan, a tevê ainda tem mais credibilidade do que os sites de notícias e os blogs. O objetivo do estudo foi determinar qual o grau de confiança da população em relação a diferentes tipos de mídia. Ao todo, foram ouvidas 10 mil pessoas no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Egito, Indonésia, Índia, Nigéria, Rússia e Coréia do Sul. A mídia campeã de credibilidade é a tevê. Dos entrevistados, 82% dizem confiar nas notícias veiculadas pelas emissoras de televisão de seu respectivo país. Em segundo lugar, com 75% da preferência, estão os jornais nacionais. Depois vêm as emissoras nacionais de rádio (67%) e as emissoras de televisão a cabo (56%). Sites de notícias e blogs ficaram no fim da lista, com 38% e 25% respectivamente. Mesmo com a baixa credibilidade dos recursos jornalísticos na web, 56% dos entrevistados acreditam valer a pena obter notícias online. Quem mais faz isso são os sul-coreanos, com 85%, seguidos pelos americanos (60%) e ingleses (57%).

Fonte: Info Online: 11/05/2006

Jesus Decodificado – Jesus Decoded

Isso ainda vai render! Na minha opinião, quanto mais soprar, mais o fogo aumenta… Pois, então, leia:

Folha Online: 10/05/2006 – 21h13

Igreja se prepara para estreia de “O Código Da Vinci”

da Ansa, em Nova York

 

As igrejas cristãs dos Estados Unidos preparam uma contraofensiva para enfrentar a estreia do filme “O Código da Vinci”, baseado no livro de Dan Brown, que já vendeu 46 milhões de exemplares em todo o mundo. O filme estreará na próxima semana. A Conferência dos Bispos Católicos produziu um documentário e criou um site de internet, ambos titulados como “Jesus decodificado”, para responder ponto a ponto ao livro. O medo é de que o sucesso do filme possa dar credibilidade aos aspectos da trama que não agradam à Igreja, como que a divindade de Cristo foi inventada depois de sua morte por razões políticas, que Jesus e Maria Madalena eram casados em segredo, que sua descendência continua até a época moderna, e que uma sociedade secreta está tentando esconder a verdade sobre essa relação. O documentário foi entregue à NBC, apesar de muitas das afiliadas da rede televisiva não terem decidido se o emitirão (…) O objetivo comum de batistas, católicos, luteranos e metodistas é desacreditar as teorias teológicas do livro, e reafirmar a ortodoxia cristã (cont.)

Leia Mais:
As movie nears, churches trying to debunk novel
Groups set to decode ‘Da Vinci’ film

Procura-se Dan Brown. Vivo ou morto!

Isso ainda vai dar o que falar… olhem só essa!

Folha Online: 10/05/2006 – 11h25

Grupo católico indiano quer Dan Brown “vivo ou morto”

da Efe, em Nova Déli

O Fórum Social Católico da Índia convocou uma greve de fome por tempo indeterminado a partir de sexta-feira, em protesto contra a estréia no país do filme “O Código da Vinci”. O fórum também oferece uma recompensa em dinheiro para quem capturar o escritor Dan Brown “vivo ou morto”, informou hoje o jornal local “Hindustan Times”. O grupo considera o livro do americano Dan Brown, que deu origem ao filme, uma obra “anti-cristã” (cont.)

Hindustan Times: May 10, 2006Da Vinci stokes passions

Having inflamed passions and sparked heated debates across the globe, Da Vinci Code is set for a run-in with controversy in India. Days before the film based on Dan Brown’s bestseller hits cinemas in the country, the Catholic Social Forum has called people of all faiths in Mumbai to fast unto death from May 12 if the government fails to ban the “anti-Christian” film. If that were not enough, a former corporator Nicholas Almeida, has done a Haji Qureishi, announcing a reward (…) for anyone who “brings the author dead or alive before him” (cont.)

Chico Buarque em mais uma entrevista

Carta Capital: 10 de Maio de 2006 – Ano XII – Número 392

Preconceito na Mira

Chico Buarque lança um novo CD [Carioca] depois de oito anos e, com a lucidez de sempre, fala sobre política, velhice e criação. Ouça trechos da entrevista [em formato MP3].


Por Maurício Stycer

Eleitor histórico de Luiz Inácio Lula da Silva, Chico Buarque aproveita o lançamento de um disco inédito, depois de oito anos sem gravar, para dar o seu recado: nunca viu a figura do presidente da República ser tão desrespeitada quanto agora. Chico vê “uma rejeição despropositada”, “preconceitos arraigados”, e a vontade furiosa de “despachar” Lula do poder, o que seria um grave “retrocesso” para o País (cont.)

Entrevista com Chico Buarque: hoje eu voto no Lula

Chico diz que vota em Lula de novo; leia entrevista

“É duro jogar na defesa.” Foi esse o comentário bem-humorado que Chico Buarque fez assim que terminou a primeira parte de uma entrevista feita em dois tempos, no domingo à noite e na segunda-feira à tarde, no seu apartamento no Leblon. O compositor se referia à defesa que acabara de fazer do governo Lula.

Mas Chico Buarque não sabe, não gosta e não joga na defesa. Como no futebol, que, perto de completar 62 anos, em junho próximo, continua praticando três vezes por semana, Chico partiu logo para o ataque. Disse que o escândalo do mensalão o deixou, sim, decepcionado com o governo e é desastroso para o PT. Mas disse com ênfase ainda maior que as críticas da oposição e de parte da mídia a Lula exorbitaram tanto no tom quanto no conteúdo e são, por isso, inaceitáveis.

Mais ainda, Chico vê o recrudescimento do preconceito de classe contra o presidente: “Como se fosse uma concessão, deixaram o Lula assumir. ‘Agora sai já daí, vagabundo!’. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu esse luxo de ocupar a Casa Grande”, diz Chico.

“Carioca”, que chega hoje às lojas, está distante oito anos do CD anterior, “As Cidades”, de 1998. No meio do caminho, o também escritor lançou o romance “Budapeste” (2003). Depois da Copa, ele deve retornar aos palcos apresentando o novo trabalho pelo país.

 

Folha – Em dezembro de 2004, em entrevista à Folha, você falou pela primeira vez desde a eleição do Lula a respeito do que pensava do governo e do país naquele momento. Fez críticas pontuais à gestão petista e ponderou que algumas oportunidades históricas de reforma social pareciam estar sendo desperdiçadas. Não obstante, o foco central da sua crítica se dirigia à escalada do pensamento reacionário no Brasil, do qual o ódio com que parcelas da classe média e parte da mídia se referiam ao presidente iletrado seria um dos exemplos mais gritantes. Entre o seu diagnóstico de então e a situação de hoje existiu o escândalo do mensalão, com todas as suas consequências. Você está decepcionado? O que mudou na sua avaliação do governo e da situação do país?

Chico Buarque – É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido o escândalo é desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a ideia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos).

Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer “espera aí”. Quando aquele senador tucano canastrão vai para a tribuna do Senado dizer que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante –aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas.

Folha – Como assim?

Chico – Pergunte a qualquer pequeno empresário como faz para levar adiante seu negócio. Ele é tentado o tempo todo a molhar a mão do fiscal para não se estrepar. O mesmo vale para o guarda de trânsito. E assim sucessivamente. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda a parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente eles, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover. Eles fazem o papel da oposição, está certo. O PT também fez no passado o “Fora FHC”, que era uma besteira.

Mas o preconceito de classe contra o Lula continua existindo –e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: “Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?”. Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! –até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram o Lula assumir. “Agora sai já daí, vagabundo!”. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu esse luxo de ocupar a Casa Grande. “Agora volta pra senzala!”. Eu não gostaria que fosse assim.

Folha – Você acredita que o Lula seja de fato visto como uma ameaça pelos mais ricos?

Chico – A economia, na verdade, não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo o Lula. Considero deseducativo o discurso em voga: ‘Tão cedo esse caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas”. Acho tudo isso muito grave.

Folha – Você vai votar no Lula? Tem a intenção de participar da campanha de alguma maneira?

Chico – Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: “Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa sacos”. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes de ele tomar posse, num encontro aqui no Rio.

Folha – Vários artistas, de Daniela Mercury a Cristiane Torloni, de Lima Duarte a Caetano Veloso, fizeram recentemente, em diferentes graus e circunstâncias, críticas ao PT, ao governo e ao próprio Lula. O meio artístico, ao que parece, não vai mais embarcar, como fez em 2002, no “Lula lá”.

Chico – Pelo que eu ando lendo, a grande maioria dos artistas está contra o Lula. Tenho a missão de contrabalançar um pouco isso (risos). Há também entre os artistas um pouco daquela competição: quem vai falar mais mal do presidente? Mas concordo em parte com o que diz o Caetano. Em parte.

Quando ele fala que as pessoas do atual governo se cercam da aura de esquerda para justificar seus atos e reivindicar para si uma posição superior à dos demais, tudo isso também vale para o governo anterior. Os tucanos costumam carregar essa aura de esquerda com muito zelo. Volta e meia os vemos dizendo que foram contra a ditadura, que são intelectuais de esquerda. Fernando Henrique foi eleito como candidato de centro-esquerda. Na época a vice entregue ao PFL parecia algo estranho. Depois se provou que não era. As pessoas se servem do passado de esquerda como se fosse um título, um adorno. Na prática política efetiva essa identidade não funciona mais. Mas não funciona não apenas porque as pessoas viraram casaca. A história levou para isso. Levou o PSDB a se tornar o que é e obrigou o PT a abdicar de qualquer veleidade socialista ou revolucionária.

Folha – Por falar nisso, o que você acha do PSOL e dessa turma que deixou o PT fazendo críticas pela esquerda?

Chico – Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula. Acompanhei o PT desde a sua fundação e vi de perto muitas dessas discussões. Em 1985, na eleição à prefeitura de São Paulo, eu achava que o Fernando Henrique era o único candidato da esquerda capaz de derrotar o Jânio Quadros. O PT lançou o [atual senador Eduardo] Suplicy. O que eu briguei com gente do PT –e por causa do Fernando Henrique Cardoso (risos). A candidatura do Suplicy no fim ajudou a eleger o Jânio Quadros.

Folha – Como você vê a atuação da mídia no escândalo do mensalão? Tem gente na órbita do PT que ainda diz que a mídia criou ou inventou essa crise.

Chico – Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chamados chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.

Folha – O rumo que as coisas tomaram no Brasil e no mundo o faz se sentir historicamente derrotado? A sua geração perdeu?

Chico – Qualquer tipo de frustração histórica que possa existir –e existe– não me abate enquanto artista. Pessoalmente é outra coisa. É evidente que parte da minha geração que chegou ao poder não lutou a vida inteira para isso. Eu vou dizer: até mesmo pessoas que hoje são execradas publicamente, como o Zé Dirceu…

Não tenho maior simpatia pelo Zé Dirceu, acho que ele errou, que ele tem culpa, sim, por tudo o que aconteceu, mas eu respeito uma pessoa que num determinado momento entregou a sua vida, jogou tudo o que tinha em nome de uma causa coletiva, do país.

Como o Zé Dirceu eu poderia citar outros nomes que chegaram ao poder, mas chegaram despidos daquele sonho em nome do qual eles lutaram a vida toda. Quem sabe para chegar ao poder tiveram justamente que se adequar à realidade, se render ao pragmatismo. A pessoa que chega ao poder é um pouco um fantasma daquela que deu a vida por algo que não se realizou.

Não assinei manifesto pelo Dirceu, não participei de nada disso, mas admiro uma pessoa que num determinado momento entrega sua própria vida por alguma coisa, um sonho coletivo. Isso me toca num ambiente político em que as pessoas se vendem por uma ninharia, defendendo interesses pessoais, pequenos, na maior parte das vezes escusos. É uma pena ver niveladas pessoas com histórias tão díspares.

Falar hoje de socialismo soa inviável e anacrônico. Parece haver uma condenação do país á receita que está aí. Ao mesmo tempo, disso resulta uma certa apatia. Também acho perigoso o discurso de que a política é nojenta, de que os políticos são todos iguais, todos ladrões. Lutamos mais de 20 anos por democracia, saímos nas ruas, cantamos pelas Diretas. Acho muito chata essa conversa de voto nulo.

Folha- Quando pensamos nas mazelas do Rio, a imagem que nos vem à cabeça é a dos morros, das favelas dominadas pelo tráfico, da miséria pendurada na paisagem da zona sul. Sua canção “Subúrbio” desloca nossa atenção para as costas das montanhas, onde o drama social parece condenado ao esquecimento e ao silêncio. É como se a própria miséria tivesse também a sua periferia…

Chico – Existe mesmo na canção a intenção de fazer cantar a periferia –ou antes a periferia da periferia da periferia. O Brasil sempre ocupou uma posição periférica no mundo e o Rio, cada vez mais, está numa situação periférica em relação às decisões nacionais, ao poder, a São Paulo. O subúrbio do Rio é a periferia dessa cidade meio marginalizada e está literalmente fora do mapa.

Fui procurar mapas do Rio quando estava fazendo a canção e não encontrei nenhum incluindo o subúrbio. As pessoas se lembram de Vigário Geral por causa da chacina, sabem que existe Olaria e Madureira por causa do futebol, mas não se vai muito além disso.

Folha – Quando você se refere ao subúrbio, não fala apenas da vida inviável, da violência, da condenação ao esquecimento, mas de um lugar que, para além disso, preserva tradições populares e formas de arte como o samba de roda, as cabrochas e o próprio choro. Isso convive com o rap, o hip-hop, o funk, o rock. Enfim, há vários tempos históricos convivendo na canção.

Chico – Isso existe, esses tempos estão lá. Até mesmo esse subúrbio idílico, que aparece muito nas novelas, isso também existe, mas misturado a outras formas de existência e expressão dessa realidade.

Folha – Um dos achados da canção são os versos “Fala no pé/ Dá uma ideia/ Naquela que te sombreia”. A canção mimetiza e estiliza a língua dos “manos” para mandar um recado do subúrbio à cidade maravilhosa que está do lado de cá da montanha.

Chico – É. Dar uma idéia para alguém é português. Agora, dar uma idéia em alguém é outra coisa. Consultei várias pessoas sobre o sentido da expressão, ouvi respostas variadas, mas achei que se encaixava bem na canção.

Folha – Agora está na praça a expressão “Vou dar um psicológico” em fulano.

Chico – Essa não conhecia (risos).

Folha – Você diz, entre sério e irônico, que “Carioca”, o título do CD, é uma homenagem a São Paulo, pois era assim que lhe chamavam os amigos paulistanos quando você vivia na cidade. Já foi mais fácil ser carioca?

Chico – “Carioca” é o nome do disco, não sou eu me declarando –não se trata de uma afirmação pessoal. O disco acabou resultando carioca pela temática de várias canções e pelo clima musical, a linguagem musical– essa, sim, talvez mais acentuadamente do que em outros discos meus, é carioca.

Folha – Você não teme reavivar ou ser vítima de velhos bairrismos?

Chico – Não pensei nisso e não tenho essa intenção, pelo contrário. Talvez também porque tenha morado muito em São Paulo e algum tempo fora do país eu sempre achei qualquer forma de bairrismo uma grande besteira. Enquanto é brincadeira, vá lá, tolera-se, mas quando começa a virar coisa séria não dá. Às vezes eu percebo um tom bairrista muito acentuado em articulistas da imprensa paulista. Não precisaria. São Paulo já é hegemônica. E no Rio, quando vejo uma manifestação bairrista, é um pouco uma reação de defesa, de quem se sente ameaçado.

Folha – Para muita gente você continua sendo um paulista no Rio. É curioso, porque na sua juventude, quando era um carioca em São Paulo, o centro dinâmico da vida nacional também estava do outro lado, no Rio.

Chico – É verdade. Quando fui morar em São Paulo, ainda bem criança, aquilo era para mim uma província. O Rio era uma cidade maior, a capital da República, tinha prédios de apartamentos, Copacabana, Flamengo, Botafogo. Em São Paulo os prédios de apartamentos estavam quase todos concentrados no centro _era uma cidade menor, parecia do interior. Na minha cabeça era. Lembro-me quando, nos anos 50, morando na rua Henrique Schaumann, eu fui até a igreja do calvário, ali atrás da praça Benedito Calixto, e voltei correndo pra dizer à minha irmã: “Descobri onde São Paulo acaba!”. Não havia nada além daquele ponto, era um descampado.

São Paulo conheceu não só um crescimento demográfico espantoso, mas passou a rivalizar com Brasília em termos de exercício de poder. Decide-se em restaurantes quem é o melhor candidato à Presidência, ou qual é o paulista mais habilitado para disputar contra o Lula, por sua vez um político paulista também. O Lula fez a carreira dele em São Paulo, no ABC. Essa hegemonia paulista, tão visível na riqueza e na política, não ocorre na cultura, na música em particular. É um mistério para mim.

Folha – A sua geração escolheu o Rio como casa e isso talvez explique parte do que você está descrevendo.

Chico – Na verdade não é só a minha geração. O próprio Dorival Caymmi. As primeiras canções dele sobre a Bahia ele trouxe de lá, mas chegando aqui, nos anos 40, começou a cantar Copacabana, cantava “ai, que saudades eu tenho da Bahia”, mas continuava, como até hoje, morando no Rio (risos). Era aqui que as coisas aconteciam. Vinham todos. O meu pai [o historiador Sérgio Buarque de Holanda] era paulista e veio morar no Rio. Manuel Bandeira era carioca de Pernambuco; Drummond, carioca de Minas; Rubem Braga, capixaba.

Folha – Você acha que o público mais jovem tem interesse pelo que você e sua geração fazem hoje? O que mudou na recepção do seu trabalho?

Chico – Mudou muita coisa. Para as pessoas mais velhas, da minha geração e de gerações mais próximas à minha, as músicas costumam ter história, lastro, estão ligadas à vida de cada um ou relacionadas a momentos do país. É comum ouvir “isso me lembra as Diretas-Já, isso me lembra Geisel, isso me lembra o Festival da Record”. Para a garotada não há nada disso. Para eles sou músico de um passado só, de um tempo só. Outro dia um jovem me disse: “Adoro aquela sua música”. “Qual?”, perguntei: “Com Açúcar, com Afeto” (risos). A música tem 40 anos!.

Folha – É uma jovem senhora, mas ainda chama a atenção dos mais novos.

Chico – Isso na verdade é cíclico. Nos anos 80, em determinado momento que uma parte expressiva da mídia flertou com muito entusiasmo com uma certa idéia de internacionalização da cultura e de desbunde com o mercado, parecia que a música da gente já era. nacional, só rock e olhe lá. Eu fui considerado completamente ultrapassado. Depois voltou. Daqui a pouco pode ser que não interesse mais. A gente continua fazendo –existe uma teimosia aí. E também, a essa altura, uma natural despreocupação com o sucesso imediato. Mesmo porque o sucesso imediato não acontece.

Folha – Você considera que o novo CD exige uma digestão mais lenta?

Chico – Você e outros comentaram que, a exemplo do anterior, o disco não é fácil de se gostar na primeira audição. Talvez não seja mesmo. Eu aposto um pouquinho no fato de que a pessoa vá ouvir várias vezes. Quando se trata de um livro, você tem que gostar da primeira vez. Há até aqueles que gostam da primeira vez e lêem duas, três vezes, grifam frases, anotam coisas. A maioria das pessoas, no entanto, quando muito, lê uma vez. mas disco não. Você ouve várias vezes. Geralmente, gosta de uma ou duas músicas, vai repetindo. Às vezes aquela música que você gosta no começo vai enjoando e você então descobre outra. Eu pelo menos ouço disco assim.

É difícil no meu caso ter uma música que seja um grande sucesso, que toque no rádio –eu não conto com isso. Não estou preocupado em fazer, como diziam os italianos, uma música “orecciabile”, “orelhável”. No final dos anos 60, quando morei em Roma, eles queriam que eu fizesse outra música como “A Banda”, “orecciabile”. E eu acabei não fazendo outras músicas “orelháveis”, frustrando muitas expectativas (risos).

Hoje não existe nenhuma expectativa, nem minha nem de ninguém, de que eu precise ou vá compor uma música “orecciabile”. É natural que haja um tempo maior e um apuro maior, não apenas no processo de composição, mas também no trabalho de estúdio, durante os arranjos, as gravações. É sem dúvida um trabalho mais sério, mais cuidado do que era há anos atrás. Não quero dizer que isso resulte numa música “impopular” de propósito, uma música sofisticada demais –não acho isso–, mas é uma música que não tem compromisso com o sucesso. Isso talvez a torne mais longeva. Algumas canções vão ter maior aceitação, outras ficarão fatalmente esquecidas e talvez sejam recuperadas lá adiante, por algum outro artista.

Folha – Você às vezes transmite a sensação de que gostaria de ver seu trabalho melhor compreendido.

Chico – Sei que é difícil falar do disco. Até para mim é difícil. Em jornal, crítico de música geralmente é crítico de letra. É compreensível que seja assim –a letra vai impressa, o crítico destaca este ou aquele trecho… funciona assim. Eu cada vez mais dou importância à música e tenho vontade de dizer: “Olha, só fiz essa letra porque essa música pedia. Isso não é poesia, é canção”. Enfim, fico um pouquinho chateado com essas coisas, mas sei que é difícil mesmo. Como é que vai imprimir uma partitura no jornal e explicar aos leitores? Não dá, eu sei.

Folha – Você volta a fazer shows neste ano?

Chico – Tenho vontade de fazer shows, sim. Depois da gravação, do convívio com os músicos no estúdio essa vontade aparece. É o passo seguinte, de certa forma natural. Vamos ver isso depois da Copa.

Folha – Você acaba de gravar uma série de 12 programas dirigidos por Roberto Oliveira, que mesclam entrevistas inéditas e imagens de arquivo cobrindo praticamente toda a sua carreira. Chamou atenção a maneira desinibida com que você acabou passando a limpo a sua trajetória como artista. O que o levou a fazer esse balanço?

Chico – O Roberto foi me engabelando (risos). A idéia inicial eram dois ou três programas. Achei que a proposta de recuperar imagens de arquivo que de outra forma ficariam perdidas justificava o trabalho. Mas só fazia sentido se isso viesse acompanhado de algo mais.

Folha – Esses documentários que os programas recuperam, principalmente dos anos 70 e 80, chamam atenção pelo despojamento, pelo ambiente caseiro, pelos ensaios descontraídos. Vivia-se em outro planeta, não?

Chico – Esses programas durante alguns anos, sobretudo nos 70, eram um contraponto à programação da Globo. Fiquei muito tempo fora da Globo durante a ditadura, primeiro porque eles me vetaram, depois, quando me chamaram, porque eu não queria. Mas esses programas destoavam mesmo da estética da Globo. Mostravam os artistas gravando, bebendo. Era uma coisa meio mal acabada, meio alternativa. Alguns discos, não apenas os meus, também tinham esse clima. Era uma bagunça. Ouvindo hoje a gente tem a sensação de que o cantor bebeu, o maestro fumou e o produtor cheirou, não necessariamente nessa ordem (risos). Era muita loucura, o estúdio cheio de gente, garrafas pelo chão, uma festa. Hoje você entra num estúdio e é aquela coisa ascética. Parece um hospital. Não se come, não se bebe, não se fuma, não se faz nada ali dentro.

Naquela época havia um certo valor nessa transgressão, nesse desregramento. Você ia gravar daquele jeito, todos no estúdio estavam daquele jeito e provavelmente quem ia ouvir os discos também estava daquele jeito. Não deixava de ser também uma maneira de enfrentar e suportar a repressão. Hoje não faria nenhum sentido gravar naquelas condições.

Folha – Era uma época mais simpática?

Chico – Não acho nada simpática. Não dá para abstrair a ditadura. Uma coisa é Maio de 68 na França. Outra, completamente distinta, o nosso dezembro de 68.

Fonte: Fernando de Barros e Silva – Folha de S. Paulo: 06/05/2006

O Novo Testamento foi escrito por pessoas humildes

The Archbishop of Canterbury: the NT was written by people who made themselves less powerful, not more

 

Easter Day Sermon 2006 – Conspiracy Theories Don’t Match Up to the Truth of the Gospel

Sunday 16th April 2006

The Archbishop of Canterbury, Dr Rowan Williams has dismissed claims that newly-discovered ancient texts and fascinating conspiracy theories can undermine the truth of the Gospel.

In his Easter Sunday sermon, delivered at Canterbury Cathedral this morning, Dr Williams says that the discovery of the Coptic text of a ‘Gospel of Judas’ and the excitement generated by the publication of The Da Vinci Code might appeal to people’s sense of mystery but don’t match up to the real challenges posed by the truth of the resurrection or the evidence of transformed lives across the world.

“The Bible is not the authorised code of a society managed by priests and preachers for their private purposes but the set of human words through which the call of God is still uniquely immediate to human beings today; human words with divine energy behind them.”

“The disciples really meet Jesus as he always was, flesh and blood – yet at first they don’t recognise him, and he’s something more than just flesh and blood. At the moment of recognition, when bread is broken, when the wounds of crucifixion are displayed, he withdraws again, leaving us floundering for words.”

Conspiracies have their appeal, he says, and people have become used to asking cynical questions:

“We have become so suspicious of the power of words … the first assumption we make is that we’re faced with spin of some kind, with an agenda being forced on us. So that the modern response to the proclamation ‘Christ is Risen!’ is likely to be, ‘Ah, but you would say that, wouldn’t you? Now what’s the real agenda?'”

“Anything that looks like the official version is automatically suspect. Someone is trying to stop you finding out what ‘really’ happened, because what really happened could upset or challenge the power of officialdom.”

The New Testament account doesn’t fit this model he says:

“It was written by people who, by writing what they did made themselves less powerful, not more. They were walking out into an unmapped territory, away from the safe places of political and religious influence … it was written by people who were still trying to find a language that would catch up with a reality bigger than they had expected.”

“Whatever this is, it is not about cover-ups, not about the secret agenda of power; it may be nonsense to you, it may be unreal to you, but don’t be deceived about the nature of the message and those who lived it out in the days when the New Testament was being written.”

Dr Williams adds that praying and suffering Christians across the world are a continuing testament to the truth of the resurrection.

“If we want to know what it is about today, we need to turn to the people who are taking the same risks, struggling with the same mystery. We need to look at the martyrs and the mystics. There are still those who tell us about God in Jesus Christ by lives of intense and mostly wordless prayer.”

“Still more important there are those who tell us about God in Jesus Christ by putting their lives at risk. There are places in our world where conversion to Christianity is literally a matter of putting your life on the line. We have all been following the story of Abdul Rahman in Afghanistan and we know that his story is not unique. We can say with absolute certainty that whatever the gospel means in circumstances like that, it isn’t a cover-up for the sake of the powerful.”


A transcript of the Sermon follows:

Easter Day Sermon at Canterbury Cathedral

One of the ways in which we now celebrate the great Christian festivals in our society is by a little flurry of newspaper articles and television programmes raking over the coals of controversies about the historical basis of faith. So it was no huge surprise to see a fair bit of coverage given a couple of weeks ago to the discovery of a ‘Gospel of Judas’, which was (naturally) going to shake the foundations of traditional belief by giving an alternative version of the story of the passion and resurrection. Never mind that this is a demonstrably late text which simply parallels a large number of quite well-known works from the more eccentric fringes of the early century Church; this is a scoop, the real, ‘now it can be told’ version of the origins of Christian faith.

You’ll recognise the style, of course, from the saturation coverage of the Da Vinci Code literature. We are instantly fascinated by the suggestion of conspiracies and cover-ups; this has become so much the stuff of our imagination these days that it is only natural, it seems, to expect it when we turn to ancient texts, especially Biblical texts. We treat them as if they were unconvincing press releases from some official source, whose intention is to conceal the real story; and that real story waits for the intrepid investigator to uncover it and share it with the waiting world. Anything that looks like the official version is automatically suspect. Someone is trying to stop you finding out what really happened, because what really happened could upset or challenge the power of officialdom.

It all makes a good and characteristically ‘modern’ story – about resisting authority, bringing secrets to light, exposing corruption and deception; it evokes Watergate and All the President’s Men. As someone remarked after a television programme about the Da Vinci Code, it’s almost that we’d prefer to believe something like this instead of the prosaic reality. We have become so suspicious of the power of words and the way that power is exercised to defend those who fear to be criticised. The first assumption we make is that we’re faced with spin of some kind, with an agenda being forced on us – like a magician forcing a card on the audience. So that the modern response to the proclamation, ‘Christ is risen!’ is likely to be, ‘Ah, but you would say that, wouldn’t you? Now, what’s the real agenda?’

We don’t trust power; and because the Church has historically been part of one or another sort of establishment and has often stood very close to political power, perhaps we can hardly expect to be exempt from this general suspicion. But what it doesn’t help us with is understanding what the New Testament writers are actually saying and why. We have, every Easter, to strip away the accumulated lumber of two thousand years of rather uneven Christian witness and try to let the event be present in its first, disturbing, immediacy.

For the Church does not exist just to transmit a message across the centuries through a duly constituted hierarchy that arbitrarily lays down what people must believe; it exists so that people in this and every century may encounter Jesus of Nazareth as a living contemporary. This sacrament of Holy Communion that we gather to perform here is not the memorial of a dead leader, conducted by one of his duly authorised successors who controls access to his legacy; it is an event where we are invited to meet the living Jesus as surely as did his disciples on the first Easter Day. And the Bible is not the authorised code of a society managed by priests and preachers for their private purposes, but the set of human words through which the call of God is still uniquely immediate to human beings today, human words with divine energy behind them. Easter should be the moment to recover each year that sense of being contemporary with God’s action in Jesus. Everything the church does – celebrating Holy Communion, reading the Bible, ordaining priests or archbishops – is meant to be in the service of this contemporary encounter. It all ought to be transparent to Jesus, not holding back or veiling his presence.

Yes, the sceptic will say, all very well, but why on earth should I believe that? Especially when it comes from the mouth of a figure who clearly has a bit of a vested interest in getting me to believe it, or from an institution that doesn’t always look like a model of transparency? Well, all any preacher can do is point to how the text of the New Testament actually works. Two points at least are worth bearing in mind. First, it was written by people who, by writing what they did and believing what they did, were making themselves, in the world’s terms, less powerful, not more. They were walking out into an unmapped territory, away from the safe places of political and religious influence, away from traditional Jewish religion and from Roman society and law. As the Gospels and Paul’s letters and the difficult, enigmatic letter ‘to the Hebrews’ all agree, they were putting themselves in a place where they shared the humiliation experienced by condemned criminals going naked in public procession to their execution.

Second, the New Testament was written by people who were still trying to find a language that would catch up with a reality bigger than they had expected. The stories of the resurrection especially have all the characteristics of stories told by people who are struggling to find the right words for an unfamiliar experience – like the paradoxes and strained language of some of the mystics. The disciples really meet Jesus, as he always was, flesh and blood – yet at first they don’t recognise him, and he’s something more than just flesh and blood. At the moment of recognition, when bread is broken, when the wounds of crucifixion are displayed, he withdraws again, leaving us floundering for words. He gives authority and power to the disciples to proclaim his victory and to forgive sins in his name, yet he tells Peter that his future is one in which he will be trussed up and imprisoned and hustled away to death.

So the New Testament is not a collection of books with a single tight agenda that works on behalf of a powerful elite; it is the product of a community of people living at great risk and doing so because they sense themselves compelled by a mystery and presence that is completely authoritative for them – the presence of Jesus. They have been convinced that being in the company of Jesus is the way to become fully and effectively human. They are discovering how to live together without greed, fear and suspicion because of his company. They believe that they’ve been given the gift of showing the world what justice and mutual service and gratitude might look like in a world that is a very dangerous place because of our incapacity for these things. They take the risks because they believe they have been entrusted with a promise.

Whatever this is, it is not about cover-ups, not about the secret agenda of power; it may be nonsense to you, it may be unreal to you, but don’t be deceived about the nature of the message and those who lived it out in the days when the New Testament was being written. And that’s why if we want to know what it is about today, we need to turn to the people who are taking the same risks, struggling with the same mystery. We need to look at the martyrs and the mystics. There are still those who tell us about God in Jesus Christ by lives of intense and mostly wordless prayer; how very powerfully God was to be seen in last year’s extraordinary television series, ‘The Monastery’, where we saw some very ordinary human beings faced with the demands of a life in which you had to be truthful, where you had to be silent, where you had to search for reconciliation at all costs. But still more important, there are those who tell us about God in Jesus Christ by putting their lives at risk. There are places in our world where conversion to Christianity is literally a matter of putting your life on the line; we have all been following with agonised attention the story of Abdul Rahman in Afghanistan, and we know that his story is not unique. We can say there with absolute certainty that whatever the Gospel means in circumstances like that, it isn’t a cover-up for the sake of the powerful.

But there are also places where what brings down the violence and the murderousness is simply a willingness to make reconciliation real. Nearly three years ago, during the bloody civil war in the Solomon Islands, a major part was played in peacemaking by the local Anglican religious order known as the Melanesian Brotherhood, a community of local men committed to a common discipline of praying and teaching and spreading the gospel as they travel round the villages by drama and song and preaching. Seven of them were held hostage and killed in cold blood by a rebel group. The shock of that act of gratuitous butchery jolted almost everyone involved into beginning a peace process; the brothers continue to be involved at every level in that work.

Last summer, a number of the brothers visited England, taking their songs and their drama into churches and schools in a number of areas. Everyone who has seen them at work will remember it all their lives. One of the things they did was to perform a passion play; and this is what one of them wrote about it.
“This passion was our own testimony to our seven brothers who were murdered in 2003. For Christ-like they became the innocent victims of the violence they had worked so hard to stop. They were beaten and mocked and tortured and recorded on tape recorders in the sickening mockery of a trial before their murderers…They were put to death for the sins of the people. And they live on. I wish I could show you these men and their goodness and their innocence. And when we see real evil we must recognise it too: the opposition, the true sin of our world where brutality of this nature becomes a cause to be justified.”

“…Our story of the Passion of Christ took place 2,000 years ago but it is still taking place throughout our world today. But we have been changed. We did not travel from the other side of the world to preach a death but to preach a resurrection. For we know where we stand and we know who we belong to. And we believe there is a choice in all this, a choice to belong to the life giver.”

‘We know where we stand and we know who we belong to’. Beyond all the history of confusion and betrayal that surrounds a lot of the Church’s history, beyond the power games that we still play in the churches, this one rocklike conviction remains, the conviction that drove the writing of every word of the New Testament. Nothing to do with conspiracies, with the agenda of the powerful; everything to do with how the powerless, praying, risking their lives for the sake of Christ and his peace, are the ones who understand the Word of God. And to accept that is not to sign up to the agenda of a troubled, fussy human society of worried prelates and squabbling factions. It is to choose life, to choose to belong to the life-giver.

© Rowan Williams 2006