Em busca de terra livre: uma leitura de Josué

FERNANDES, A. A. et alii Em busca de terra livre: uma leitura do Livro de Josué. São Leopoldo: CEBI, 2022, 117 p.

O CEBI lançou o desafio de construir coletivamente um comentário de um livro não tão fácil de ler e comentar.FERNANDES, A. A. et alii Em busca de terra livre: uma leitura do Livro de Josué. São Leopoldo: CEBI, 2022

Adriana de Amorim Fernandes, Ildo Bohn Gass, Mercedes Lopes e Rafael Rodrigues da Silva, aceitaram este desafio de leitura comunitária para ajudar outras pessoas queridas da caminhada a ler o Livro de Josué com outros olhares, outras perspectivas e outras abordagens. Foram várias trocas e percepções para enfrentar as dificuldades que rondam a interpretação de um livro cheio de ameaças.

As páginas deste comentário vêm carregadas de reflexões para o serviço da leitura popular, libertadora e comunitária da Vida e da Bíblia.

Autoria

Adriana de Amorim Fernandes é graduada em administração, com formação em Teologia e Espiritualidade Bíblica e Teologia Catequética. Participa do CEBI-Bahia e atua junto a organizações sociais na defesa e garantia dos direitos. Mora em Salvador.

Ildo Bohn Gass é ministro da Palavra leigo, de tradição católica. Com formação em teologia, é especialista em Bíblia. Organizou a coleção “Uma Introdução à Bíblia”, publicada por CEBI/Paulus. Participa do CEBI e colabora em Movimentos Populares. Mora em São Leopoldo/RS.

Mercedes Lopes é Missionária de Jesus Crucificado, é licenciada em Teologia e Bíblia, diplomada em Espiritualidade, mestra e doutora em Ciências da Religião na área bíblica. É assessora do CEBI, CEBs e Congregações Religiosas. Autora de vários livros e artigos.

Rafael Rodrigues da Silva possui graduação em Filosofia e Teologia, mestrado em Ciências da Religião e em Teologia da Missão, doutorado em Comunicação e Semiótica. É autor de vários livros, colaborador do CEBI, de quem é atualmente o diretor. É professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas, no campus Arapiraca.

Sobre o uso das ciências sociais na leitura da Bíblia

Porque o intérprete bíblico ao lidar com textos deve lidar com a linguagem, e porque a linguagem é um produto social, devem ser encontrados métodos que possam lidar com essa dimensão social dos textos bíblicos.

Because the biblical interpreter in dealing with texts must deal with language, and because language is a social product, methods must be found which can deal with that social dimension of the biblical texts (Abstract).

Em um artigo de 1982 sobre o uso das ciências sociais na interpretação dos textos bíblicos, conclui Bruce Malina:Bruce Malina (1933-2017)

O resultado de tal abordagem da Bíblia deve ser uma maior compreensão do comportamento descrito nos textos – o comportamento das pessoas que povoam o texto, bem como o comportamento atribuído a Deus por analogia com o comportamento humano.

Em vez de dogmas bíblicos, conheceríamos e apreciaríamos os personagens que encarnavam a fé bíblica.

Em vez de diretrizes morais e proposições teológicas, descobriríamos pessoas em suas sociedades e os fundamentos de suas relações interpessoais.

Em vez da Bíblia como fonte da “religião do livro”, encontraríamos a Bíblia como um registro da “religião das pessoas” e seus sucessos e fracassos teocêntricos e cristocêntricos que estão na fonte de nossa tradição judaico-cristã.

Em vez de teologia, conheceríamos nossos ancestrais de carne e osso na fé e nas dimensões de sua busca por uma existência humana adequadamente significativa.

Se tais são os resultados possíveis, certamente vale a pena tentar a abordagem (p. 241-242).

 

The outcome of such an approach to the Bible should be increased understanding of the behavior described in the texts-the behavior of the persons who people the text as well as the behavior ascribed to God by analogy with human behavior. Instead of biblical dogmas, we would get to know and appreciate the personages who embodied biblical faith. Instead of moral guidelines and theological propositions, we would discover social persons and the underpinnings of their interpersonal relations. Instead of the Bible as a source of the “religion of the book,” we would find the Bible as a record of the “religion of persons” and their theocentric and christocentric successes and failures that lie at the source of our Judaeo-Christian tradition. Instead of theology, we would make the acquaintance of our flesh and blood ancestors in faith and the dimensions of their quest for an adequately meaningful human existence. If such be the hoped for outcomes, the approach is certainly worth a try (p. 241-242).

Sobre Bruce Malina, confira aqui.

Fonte: MALINA, B. The Social Sciences and Biblical Interpretation: Reflections on Tradition and Practice. Interpretation: A Journal of Bible and Theology, vol. 36, n. 3, p. 229-242, 1982.

Mês da Bíblia 2022 na Vida Pastoral

Vida Pastoral n. 347, setembro-outubro de 2022

Vida Pastoral n. 347, setembro-outubro de 2022Eis um subsídio para aprofundar o estudo do livro de Josué, texto escolhido para o Mês da Bíblia deste ano. Sua meditação nos inspire a voltar o olhar e o coração para o sonho de Deus: terra e vida para todos. No Brasil, os problemas relacionados à terra, no campo e na cidade, clamam aos céus. A multidão de irmãs e irmãos nossos vagando pelas ruas de nossas cidades e nos grotões do país é um grito pela Terra Prometida. A Palavra de Deus ilumine nossa vida e ação para que o Paraíso seja uma realidade desde já, afinal Deus nos criou para a alegria. É nossa missão enxugar as lágrimas e consolar o pranto de tantos (do Editorial).

Artigos

Terra de Deus, terra de irmãos? Entendendo o livro de Josué – Shigeyuki Nakanose e Maria Antônia Marques

Raab, mulher de fé. “Eu sei que o Senhor entregou a vocês esta terra” (Js 2,9) – Aíla Luzia Pinheiro de Andrade

Cerco de Jericó, uma releitura biblico-litúrgica – Danilo César dos Santos Lima

A Boa-Nova do Reino como o Evangelho social de Jesus – Agenor Brighenti

Livro de Josué: live de lançamento

VITÓRIO, J.; LOPES, J. R.; SILVANO, Z. A. (orgs.) Livro de Josué: “Nós serviremos ao Senhor”. São Paulo: Paulinas, 2022, 304 p. – ISBN 9786558081524.

Data: 3 de agosto de 2022, às 19h00Livro de Josué: live de lançamento em 3 de agosto de 2022

Canais de transmissão: Facebook Paulinas Brasil e Paulinas Editora / Youtube Paulinas Brasil

Mediação: Irmã Ivonete Kurten, fsp

Duração da live: em média 1h15

Convidados: Zuleica Silvano, Jean Richard, Airton José da Silva, Carlos André da Cruz Leandro, Jacir de Freitas Faria e Márcia Elói Rodrigues.

Você não pode perder a live de lançamento do “Livro de Josué – Nós serviremos ao Senhor”. O livro, que fala sobre o tema do Mês da Bíblia, é uma excelente ferramenta de leitura e estudo sobre uma importante passagem bíblica.

O primeiro Estado de Israel

MENDONÇA, E. V. S. O primeiro Estado de Israel: redescobertas arqueológicas sobre suas origens. São Paulo: Recriar, 2020, 272 p. – ISBN 9786586242263.MENDONÇA, E. V. S. O primeiro Estado de Israel: redescobertas arqueológicas sobre suas origens. São Paulo: Recriar, 2020

Por muitos séculos se acreditou que Davi e Salomão teriam formado o grande reino de Israel, a Monarquia Unida, com sede em Jerusalém. Porém, as novas pesquisas arqueológicas, históricas e bíblicas têm causado uma reviravolta na história das origens do Estado israelita.

Neste livro, você saberá como estas reviravoltas têm contribuído para uma importante descoberta: os reis de Israel, Omri e Acab, foram os responsáveis pela formação do poderoso primeiro Estado de Israel com sede em Samaria durante o século IX AEC.

Você verá como esta dinastia, apresentada em 1 e 2 Reis de forma extremamente negativa e pejorativa, na verdade foi muito influente e levou o primeiro Estado de Israel ao patamar de uma potência regional, dominando o território de Gilead, reino vizinho de Moab, o sul da Síria e o reino de Judá e, com o reinado de Atalia, filha de Jezabel, em Jerusalém, deu origem à memória da grande Monarquia Unida.

Com prefácios de Israel Finkelstein e José Ademar Kaefer.

Leia uma amostra do livro clicando aqui.

 

Sumário

Dedicatória
Prefácio I – Por Israel Finkelstein
Prefácio II – Por José Ademar Kaefer
Abreviaturas

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – A situação atual da pesquisa sobre Israel Norte
1. Abordagens sobre a dinastia Omrida publicadas até 1980
2. Abordagens sobre os Omridas publicadas entre 1980 e 2000
3. Abordagens sobre a dinastia Omrida publicadas após 2000
Considerações Finais

CAPÍTULO II – O conjunto literário sobre a dinastia Omrida
Introdução: Os Reis Omridas (1Rs 16.23 – 2Rs 11.13)
1. Omri e a Fundação de Samaria (1Rs 16.15 – 28)
2. O Reinado de Acab (1Rs 16.29 – 22.40)
3. O Reinado de Acazias (1Rs 22.52 – 2Rs 1.18)
4. O Reinado de Jorão (2Rs 3.1 – 9.29)
5. Dois Reis em Israel Norte e em Judá com os mesmos Nomes (2Rs 8.16-29)
6. A Revolta de Jeú: o Extermínio da Dinastia Omrida (2Rs 9-10)
7. Atalia: uma Rainha Omrida em Jerusalém (2Rs 11.1-3, 13-16)
8. Os Omridas e o Domínio sobre Judá em 1 e 2 Reis
9. A Dinastia Omrida nos livros das Crônicas (2Cr 18.1 – 23.15)
10. O Domínio da Transjordânia
11. O Território Omrida na Transjordânia no livro de Juízes (Jz 11.12-22)
Considerações Finais

CAPÍTULO III – A fundação de Samaria a partir da arqueologia
Introdução
1. Localização do sítio arqueológico de Sebastia (Samaria)
2. Geografia e Topografia de Samaria e Região
3. História da Pesquisa Arqueológica em Samaria
4. A Capital do Primeiro Estado Israelita
Considerações Finais

CAPÍTULO IV – O território dominado pelos Omridas a partir da arqueologia
Introdução
1. As 7 Principais Características Arquitetônicas das Cidades e Fortalezas Omridas
2. Arquitetura Omrida em Israel Norte
3. Arquitetura Omrida na Transjordânia: As Estelas de Mesha e de Tel Dan
4. Planalto de Gilead
5. Território dominado por Israel Norte
Considerações Finais

CAPÍTULO V – O Primeiro Estado de Israel: monarquia unida do séc. IX AECÉlcio Mendonça
Introdução
1. O Primeiro Estado de Israel Norte e Judá
2. Um Estado Independente
3. Dinastia Omrida: A Monarquia Unida
4. Omri e Acab / Davi e Salomão
Considerações finais

CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANEXO I – Arquitetura Omrida
ANEXO II – Fortalezas Omridas
ANEXO III – Marcas de pedreiro
ANEXO IV – Inscrições hebraicas e aramaicas
ANEXO V – Códices Massoréticos

Índice Remissivo
Referências Bibliográficas

Élcio Mendonça: Doutor e Mestre em Ciências da Religião (UMESP). Professor Doutor na Graduação em Teologia da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) e Professor de Hebraico Bíblico no Curso de Línguas Bíblicas (Fateo-UMESP). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Arqueologia do Antigo Oriente Próximo (PPG-Ciências da Religião/UMESP). Concentra suas pesquisas no área da Epigrafia Paleo-Hebraica, no estudo do Pentateuco Samaritano e na História de Israel Norte.

Artigo sobre a leitura sociológica da Bíblia

Acabei de publicar meu artigo sobre a leitura sociológica da Bíblia.

Philip R. Davies, exegeta britânico, ao falar dos métodos usados na leitura da Bíblia nas últimas décadas, sugeriu que a combinação das abordagens literárias e sociológicas apresenta hoje o mais promissor caminho para o avanço dos estudos bíblicos.

É que estas abordagens examinam não somente a literatura e a realidade social de Israel, mas também as forças sociais subjacentes à produção da literatura bíblica, onde se distingue a sociedade que está por trás do texto da sociedade que aparece dentro do texto.

Além disso, sublinhou ainda Philip R. Davies, estas abordagens situam Israel no seu contexto histórico apropriado e questionam preconceitos teológicos que, frequentemente, estorvam os especialistas em exegese bíblica.

Na mesma direção sinalizou o norte-americano Norman K. Gottwald, quando disse que a leitura sociológica fecha a porta “firme e irrevogavelmente, às ilusões idealistas e supernaturalistas que ainda impregnam e enfeitiçam nossa perspectiva religiosa”, quando abordamos um texto bíblico.

É igualmente importante salientar que a leitura sociológica da Bíblia está relacionada especialmente com os métodos histórico-críticos e com a leitura popular.

Na medida em que toda abordagem sociológica de um texto histórico é também uma abordagem histórica, a leitura sociológica tem complementado a leitura histórico-crítica. Especialmente importante é a percepção de que sua colaboração se faz necessária quando a historiografia não se contenta em descrever as ações dos grupos dominantes de determinada sociedade, mas a história quer revelar a atividade total de um povo.

Do mesmo modo, a leitura popular que vem sendo feita entre nós se beneficia das contribuições das ciências sociais. No estudo do contexto em que foram escritos os textos bíblicos, por exemplo, costuma-se olhar os quatro lados da situação enfocada: os lados econômico, social, político e ideológico. Esta é uma atitude sociológica.

Por isto, neste artigo proponho:

. descrever sinteticamente o nascimento da sociologia

. dar exemplos de leituras sociológicas da Bíblia Hebraica

. dar exemplos de leituras sociológicas do Novo Testamento

. citar alguns desafios e dificuldades da leitura sociológica da Bíblia.

O que é a leitura sociológica da Bíblia?

Estou terminando mais um artigo sobre a leitura sociológica da Bíblia.

Um texto mais curto que será publicado pelas Paulinas no começo de 2023 como um capítulo em um livro sobre métodos de leitura da Bíblia.

E um mais longo e detalhado que será publicado, na próxima semana, na minha página.

Desde 1991 venho publicando sobre o assunto.

1. O primeiro texto foi Leitura sociológica da Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 32, p. 74-84, 1991. Ainda não está online, mas deverá estar em breve.

2. Depois escrevi, em 2000, um texto bem mais longo que foi publicado como um capítulo chamado “Leitura socioantropológica” em DIAS DA SILVA, C. M. com a colaboração de especialistas, Metodologia de exegese bíblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, [2000] 2009. Este mesmo texto foi publicado em 3 partes em minha página, como:

:. O discurso socioantropológico: origem e desenvolvimento

:. Leitura socioantropológica da Bíblia Hebraica

:. Leitura socioantropológica do Novo Testamento

3. Em 2008 testei o método em Leitura socioantropológica do livro de Rute, artigo que foi publicado em Estudos Bíblicos n. 98, Petrópolis: Vozes, p. 107-120, 2008 e que está disponível também em minha página.

Uma explicação: chamo esta abordagem de “leitura socioantropológica” por utilizar em conjunto a sociologia e a antropologia cultural, ou social.

Foi o norte-americano John H. Elliott quem, em 1990, deu o nome de “social-scientific criticism” ao método, algo como “crítica sociocientífica”.

Uma leitura de Gênesis 1 e 2 por André Wénin

Um mundo sem a fratura entre o ser humano e a natureza? Uma exegese a partir do Gênesis. Artigo de André Wénin – IHU: 28 Junho 2022

No período crítico que a humanidade atravessa na relação com a natureza, esses textos me parecem de profunda atualidade. Por um lado, contestam radicalmente aAndré Wénin atitude prometeica que a sociedade dominada pelas finanças e pelas tecnociências continua a promover, em grande medida em detrimento da natureza; combatem a ganância que transforma os seres humanos em predadores e os cega para as consequências de um comportamento pautado essencialmente pela busca de poder e lucro a todo custo, sem levar em conta a limitação dos recursos que saqueiam, a miséria que causam entre muitos de seus semelhantes, e o futuro podre que preparam para seus filhos.

Por outro lado, esses textos bíblicos oferecem referências para situar os seres humanos em um lugar apropriado na natureza: assim, não deixam de sublinhar a profunda continuidade entre a natureza e eles, ao mesmo tempo em que honram a singularidade que caracteriza os seres humanos na natureza. Mas esta especificidade, longe de se apresentar como um privilégio de senhor, é introduzida antes como uma responsabilidade adicional, que inclui uma forte dimensão ética e espiritual. Porque contemplar as maravilhas da natureza (como Gênesis 1 e o Salmo 104 nos convidam a fazer), não é também uma maneira de aprender a apreciar os inevitáveis limites humanos como tantas oportunidades de se abrir à alteridade da natureza e dos outros (Gênesis 2) e de respeitá-los melhor? Mas se o poder que os seres humanos exercem subir à cabeça e os cegar, a sabedoria bíblica está aí para lembrá-los, não sem ironia, do quanto estão iludidos (Jó).

O artigo é o texto da conferência online de André Wénin, a ser apresentada na quarta-feira, 29 de junho de 2022, das 10h às 12h, no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

A atividade integra o Ciclo de Estudos Decálogo sobre o fim do mundo, que segue até o dia 22 de julho de 2022.

André Wénin é doutor em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Atualmente é professor da Universidade Católica de Louvain, Bélgica, e professor visitante da Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma.