Carlos Mesters: na brisa leve um suave perfume

Um belo texto sobre o nosso mestre Carlos Mesters. Encontrei por acaso e achei interessante transcrever aqui.

Carlos Mesters – O suave perfume da flor sem defesa expandiu-se em brisa leve

Por Mercedes Lopes – 07/06/2016

Nascido no sul da Holanda, em 20 de outubro de 1931, Jacobus Gerardus Hubertus Mesters chega ao Brasil em janeiro de 1949 e em 1951 recebe o hábito carmelita com o nome de frei Carlos. Um nome de origem germânica que literalmente significa homem. Mas, alguns estudiosos acrescentam a este nome alguns adjetivos, como “homem livre” ou “homem do povo”, qualidades que, entre tantas outras, marcam a personalidade de Carlos Mesters.

Depois de concluir o ginásio e de cursar humanidades e filosofia, em São Paulo, Carlos Mesters faz teologia em Roma, na Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino. Estuda Ciências Bíblicas no Instituto Bíblico de Roma [PIB] e faz uma especialização na École Biblique de Jerusalém. Em 1962, volta a Roma para defender a tese junto à Pontifícia Comissão Bíblica sobre o Apocalipse de São João. Em 1963, de volta ao Brasil, é nomeado professor do Curso Teológico dos Carmelitas, em São Paulo. Revela-se um excelente professor de exegese bíblica, usando com criatividade o método histórico crítico. O grande interesse de seus alunos pelo estudo chama a atenção de seus superiores. Desse modo, em 1967 é nomeado professor do Colégio Internacional Santo Alberto, em Roma.

Em 1968, dá por encerrada sua colaboração em Roma e volta ao Brasil, pois seu coração já é brasileiro e sente saudades. Passa a viver em Belo Horizonte (MG), onde o Convento do Carmo mantém uma rede de militância ligada à situação social, religiosa e política da época. Com a ditadura militar iniciada em 1º de abril de 1964, em novembro de 68 o Gal. Arthur da Costa e Silva estabelece o Ato Institucional nº 5, aumentando o número de prisões, torturas, assassinatos e desaparecimento de lideranças.

Frei Carlos começa a escrever, tendo dois destinatários bem definidos: 1º) As Comunidades Eclesiais de Base 2º) Pessoas que estudam a Bíblia e são professores. Com seus escritos, oferece um olhar novo, que ajuda a perceber a ligação entre a Bíblia e a Vida. Sua obra está inserida na Teologia da Libertação, com o objetivo de animar e iluminar a caminhada libertadora dos pobres, através da leitura bíblica, gerando uma espiritualidade comunitária de pé no chão.

Desde então, frei Carlos torna-se um peregrino da Palavra de Deus e decide passar um período de sua vida em Crateús, sertão do Ceará, sentindo na pele a vida sofrida dos pobres e aprendendo da grande sabedoria do povo do sertão nordestino. Identificou-se de tal maneira com as comunidades de Crateús que, em um encontro de religiosas, uma jovem Irmã afirma cheia de alegria que conhece a mãe do Carlos Mesters. “Então você esteve na Holanda?”, lhe perguntaram. Ela respondeu: “Por que na Holanda? A mãe dele mora mesmo é em Tauá, lá perto de Crateús! Eu fui lá participar de um curso bíblico e conheci a mãe dele”.

Carlos Mesters

Com essa proximidade simples e muita sensibilidade, frei Carlos começa um jeito novo de ler e de interpretar a Bíblia: a Leitura Popular da Bíblia. Ao criar e partilhar a metodologia da Leitura Popular da Bíblia, ele foi descobrindo e animando novos sujeitos da interpretação bíblica. Assim, ao oficializar a fundação do CEBI (Centro Ecumênico de estudos Bíblicos), em 1978, no convento do Carmo em Angra dos Reis – RJ, no dia 20 de julho, festa do profeta Elias, frei Carlos já havia despertado muitas lideranças que se apaixonaram por esta proposta e entraram para o CEBI, formando Regionais e Sub-regionais do CEBI por todo o Brasil.

A leitura da Bíblia feita em comunidade e ligada à realidade, com o compromisso de lutar em conjunto para modificar as situações injustas, gera relações de amizade e companheirismo. São essas relações de proximidade e cumplicidade que ajudam as comunidades cristãs a fazer uma experiência de Deus que escuta o grito dos pobres e caminha com seu povo oprimido. Esta nova experiência de Deus confirma a caminhada e vai exigindo maior conversão e entrega coletiva ao seu serviço do Reino. A grande aceitação e ampliação do CEBI está marcada por esta mística.

Em 1982, houve um encontro latino americano e caribenho de Teologia da Libertação, realizado no TUCA, auditório da PUC de São Paulo. Ali estava frei Carlos, não somente falando sobre a possibilidade de ler e de entender a Palavra de Deus dentro da realidade sofrida dos pobres, mas cantando a música “Mandacaru”, que celebra a resistência criativa do povo diante da miséria e da fome:

“A terra de seca não tinha suor, nem lágrimas cai nos óio que sente dor.

Tamanho verão o sol prometeu: não há quem resista tão grade calor.

No meio daquele deserto agrião um verde bonito, suspenso no ar,

de braços abertos pedindo ao céu tem dó deste povo, aprendeu a rezar.

SÓ MANDACARU, SÓ MANDACARU,

SÓ MANDACARU RESISTIU TANTA DOR!”

Através de intensa produção literária e dos cursos bíblicos realizados por toda parte, o perfume suave da flor foi se expandindo com total liberdade, fazendo com que “a casa se encha de perfume!” (Jo 12,4). Como frei Carlos não se preocupa muito com questões de direitos autorais, sua palavra, falada ou escrita espalhou-se com a liberdade de uma “brisa leve”, criando um clima de esperança e coragem. Foi através desse movimento que o CEBI começou antes de começar.

Carlos Mesters é autor de vários livros sobre a Bíblia, sozinho ou com autoria compartilhada. Mas, ele mesmo já deve ter perdido a conta dos cursos que assessorou, dos textos que escreveu, das reuniões de que participou, das entrevistas e reportagens que deu. E, assim, o suave perfume da flor sem defesa expandiu-se, levando as pessoas a sentirem a presença carinhosa de Deus em suas vidas e a caminhar na esperança.

Bibliografia Bíblica Latino-Americana em novo site

Metodista lança novo site da Bibliografia Bíblica Latino-Americana Milton Schwantes

O novo site da Bibliografia Bíblica Latino-Americana Milton Schwantes está no ar [desde junho de 2016, mas algumas seções ainda estão em construção]. O projeto está ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, e tem como objetivo incentivar e democratizar a pesquisa bíblica, reunindo informações e facilitando o acesso ao conteúdo produzido sobre estudos bíblicos na América Latina e no Caribe.

A Bibliografia Bíblica foi iniciada em 1988 pelo falecido biblista e professor da Metodista Milton Schwantes, que viu a importância dos estudos bíblicos naquela época, quando a Bíblia estava sendo descoberta pelas comunidades cristãs da América Latina e do Caribe como fonte para uma maneira de formular a religião. O projeto foi relançado e renomeado para homenagear Schwantes pela importância e extensão de seu trabalho.

“Quando o projeto foi desativado em 2012, por falta de verbas, houve um ‘protesto’ muito grande por parte dos biblistas em todo Brasil. A Bibliografia Bíblica é muito estimada e conhecida pelos que estudam Bíblia na América Latina”, conta o professor José Ademar Kaefer, do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, responsável pela retomada do projeto.

Kaefer destaca que não existe nenhum outro site na América Latina com um arquivo tão grande sobre o tema como a Bibliografia Bíblica. O novo site possui um índice com nomes e contatos de biblistas, editoras, autores latino-americanos e publicações acessíveis ao público. O projeto já publicou oito volumes que reúnem as publicações bíblicas referentes aos anos de 1988 a 1995, e disponibiliza dados de 1996 até os dias atuais integralmente no site.

(…)

Visite o site da Bibliografia Bíblica Latino-Americana Milton Schwantes clicando aqui.

Thomas Römer: os diversos papéis de Moisés no Pentateuco

Transcrevo aqui texto publicado no dia 02/09/2016 no portal da Universidade Metodista de São Paulo sobre a Conferência de Thomas Römer no VII Congresso da ABIB.

Exegeta Thomas Römer discute os diversos papéis de Moisés no Pentateuco

Conversa integrou o VII Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica

O exegeta suíço Thomas Römer foi o convidado da conferência desta quarta-feira (31) do VII Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica. Promovido pelo Programa de Pós-Thomas RömerGraduação da Universidade Metodista de São Paulo e pela Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB), o evento inclui diversas conferências e mesas de debate sobre o Pentateuco.

Thomas Römer, do Collège de France/Université de Lausanne, falou a respeito dos papéis de Moisés no Pentateuco. Nos livros, ele aparece como legislador, rei, chefe e juiz de Israel, mas de acordo com Römer, o papel mais importante de Moisés é o de legislador. 

Moisés: legislador, rei e juiz

“No Antigo Oriente, o rei é o mediador tradicional entre os deuses e o povo. Na Mesopotâmia, o governante político é frequentemente também o primeiro de todos os sacerdotes, devido à sua relação especial com uma divindade particular”, diz. O rei era também considerado o pastor de seu povo, legislador e juiz, como responsável pela ordem do país.

No entanto, de acordo com as fontes, os reis de Israel e Judá não eram legisladores, pois seguiam e eram julgados diante da Lei de Moisés. “O fato de que, na Bíblia Hebraica, é Moisés quem aparece como o legislador, e não Davi ou Salomão, pode ser explicado com a situação do judaísmo emergente no período persa. A realeza judaíta não existia mais, e os intelectuais judaítas que editaram o Pentateuco e os Profetas Anteriores aceitaram o governo persa e eram contra a restauração da monarquia judaíta”, explica.

“Em Êxodo, Moisés é apresentado desde o início como um rei. A história de seu nascimento e seu enjeitamento mostra uma dependência literária da lenda sobre o nascimento de Sargão, o fundador de Akkad”, esclarece. “É possível que o autor tenha recorrido à lenda sobre Sargão, tanto mais se considerarmos a possibilidade de que a figura da irmã de Moisés é um acréscimo posterior. Tanto Sargão como Moisés são enjeitados por suas mães, e ambas têm certa relação com o sacerdócio”.

Römer sustenta esse argumento dizendo que aparecem traços reais em relação a Moisés no episódio em que Javé o estabelece como aquele que deve tirar os israelitas do Egito: ele é apresentado como um pastor, um título dos reis. Nos trechos de construção do templo, Moisés pode ser comparado ainda a Salomão, o construtor do templo de Jerusalém.

Segundo Römer, antes da transmissão do primeiro código, o chamado “Código da Aliança”, Moisés foi retratado exercendo a prerrogativa de julgar o povo. “Todos os códigos de leis no Pentateuco são comunicados por Javé a Moisés, que é depois responsável pela sua comunicação a Israel. A afirmação de que “toda causa importante, eles a levavam a Moisés, e toda causa menor, eles mesmos a julgavam” reflete o princípio de que toda questão ligada a uma prescrição diretamente abordada na Torá pode ser adjudicada pelas autoridades competentes; casos que parecem não ter o respaldo de prescrições da Torá precisam ser investigados diretamente por Moisés”.

Conclusão e interação

O estudioso acredita, no entanto, que “o papel de Moisés como legislador seja o mais importante de suas atuações, pois devido à transferência de uma função real a Moisés, que antes da conquista da terra e da fundação da monarquia tinha transmitido todas as leis a Israel, o judaísmo tinha condições de existir como uma religião sem-terra e sem Estado”.

Confira algumas das respostas do palestrante às questões do público (continua)

Minhas sugestões de leitura sobre o tema

:: Um livro:

BORGEAUD, Ph.; RÖMER, T.; VOLOKHINE, Y. (eds.) Interprétations de Moïse: Égypte, Judée, Grèce et Rome. Leiden: Brill, 2010, XIV + 306 p. – ISBN 9789004179530

:: Dois artigos [procure por Moisés em]:

Quem são os judeus? Falam autores gregos antigos
Quem somos nós? Falam autores judeus antigos

Livro de Thomas Römer: A origem de Javé

RÖMER, T. A origem de Javé: o Deus de Israel e seu nome. São Paulo: Paulus, 2016, 256 p. – ISBN 9788534944571.

 

Thomas Römer, A origem de Javé: o Deus de Israel e seu nome

Diz José Ademar Kaefer na apresentação da versão brasileira do livro de Thomas Römer:

Sob o título original francês “L’invention de Dieu”, traduzido para o inglês “The Invention of God”, a versão brasileira optou por “A origem de Javé”, que na realidade é do que trata o livro. É também esse o sentido que o autor quer dar quando emprega o conceito “invenção”. Ou seja, como a imagem de Javé-Deus foi sendo entendida e construída gradativamente na história dos povos da Bíblia, desde a Era do Bronze até o período helenista. A origem de Javé é um tema complexo, perseguido pelos pesquisadores desde que as ciências começaram a fazer parte da exegese bíblica. Portanto, o livro não parte do zero nem esgota a investigação. Ele apresenta, de forma muito didática e de fácil leitura, o panorama histórico da investigação acerca das possíveis origens de Javé e acrescenta novos elementos em todos os tópicos abordados. O novo é oriundo da pesquisa literária moderna, das recentes e abundantes descobertas arqueológicas e, evidentemente, da pesquisa pessoal do autor, que é vasta e qualificada.

O original francês é:

RÖMER, T. L’invention de Dieu. Paris: Seuil, 2014, 331 p. – ISBN 9782021088151.

Nova edição da Introdução ao Profetismo do Sicre

A Vozes acaba de publicar em português a nova edição da Introdução ao Profetismo de José Luis Sicre Díaz.

O livro saiu em espanhol em 2012, como se pode ver em Sicre: nova edição da introdução ao profetismo. Esta edição substitui o conhecido Profetismo em Israel: OSICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao Profetismo Bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016 Profeta, os Profetas, a Mensagem. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

E traz as novas tendências da pesquisa na área. Nota-se a diminuição do interesse pelas figuras proféticas e o aumento da atenção dispensada aos livros proféticos.

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao Profetismo Bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016, 536 p. – ISBN 9788532652416.

Escreveu Sicre em 2012: 
El mayor cambio en el estudio del profetismo durante las últimas décadas ha sido el paso del interés por los profetas (Isaías, Jeremías, etc.) al interés por los libros. La reconstrucción de las vidas de los profetas, tan típica del siglo pasado, es juzgada ahora como una labor muy subjetiva, sin base histórica cierta; además, no permite explicar el libro o el escrito atribuido a un profeta, ya que la mayor parte del mismo procede de autores posteriores.

Ska: tendências do estudo do Pentateuco na última década

Transcrevo aqui texto publicado no dia 31/08/2016 no portal da Universidade Metodista de São Paulo sobre a Conferência de Jean-Louis Ska no VII Congresso da ABIB.

Jean-Louis Ska aborda as tendências do estudo do Pentateuco na última década

Conferência foi realizada no VII Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica

Ontem (30) foi realizada a segunda conferência do VII Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica, na Universidade Metodista de São Paulo. O evento é promovido pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Metodista e a Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB).

O teólogo belga Jean-Louis Ska participou com a discussão “Pentateuco: História, Tradução e Exegese”, a mesa ainda contou com a participação de Vicente Artuso, da PUC do Paraná, que coordenou a mesa e Telmo Figueiredo, membro da ABIB, que realizou a tradução do italiano para o português.

A conferência falou sobre as tendências do estudo do Pentateuco nos últimos dez anos. Ska é uma autoridade no assunto, além de ser professor de Exegese do Antigo Testamento no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, já escreveu diversos livros, incluindo “Introdução à Leitura do Pentateuco”, publicado no Brasil.Jean Louis Ska (Arlon, Bélgica, 1946)

 

Perguntas fundamentais dos últimos 10 anos

Para iniciar a conversa, Ska ressaltou que com o livro Deuteronômio, reencontramos a lei e o mundo jurídico da Torá, tema pelo qual Eckart Otto trabalhou para devolver importância, pois acredita que a solução dos problemas do Pentateuco não vem das narrativas, mas sim das leis. Por outro lado, John Van Seters sustenta que o Código da Aliança seja mais recente do que o Código Deuteronômico e que a Lei de Santidade.

Ska explica que duas tendências importantes da pesquisa são a reforma de Josias e a natureza de Deuteronômio. No passado, a reforma de Josias foi considerada historicamente importante, porque teria acontecido a purificação de elementos estranhos e centralização do culto em Jerusalém, por meio da destruição dos cultos rivais.

No entanto, surgem perguntas a respeito do valor histórico da narrativa, pois a arqueologia não confirma nenhuma destruição maciça de altares ou de santuários no período que precede imediatamente a conquista de Jerusalém em 585 a.C e existem indícios de que o santuário de Betel tenha continuado em atividade mesmo durante o período do exílio, enquanto o templo de Jerusalém estava em ruínas.

“Por outro lado, a narrativa é mais bem interpretada como uma tentativa de dar ao Deuteronômio e à centralização do culto as suas cartas de recomendação. Isso foi ampliado e enfeitado para justificar a ordem das coisas instauradas na época da reconstrução do segundo templo. Foi reconstruído um só santuário, e por isso havia um só altar, um só sacerdócio e um só centro administrativo na província persa de Yehud”, diz Ska.

O estudioso continua: “era necessário demonstrar que a reforma não era uma inovação introduzida pelos exilados que voltaram da Babilônia. Ela tinha raízes antigas num evento precedente ao exílio e podia ser colocada sob a autoridade de uma grande figura, o rei Josias, que, por sua vez, não tinha feito nada mais que tornar efetiva uma lei esquecida, a de Moisés. O “livro achado” é um argumento conhecido no mundo antigo que serve geralmente para justificar reformas e inovações”.

A segunda tendência recente citada por Ska, é a descoberta de uma nova cópia do chamado tratado de vassalagem de Esarhaddon, filho de Senaquerib. Descoberto em 1955 em Nimrud, tem como primeira finalidade assegurar a sucessão de Esarhaddon a favor de seu filho Assurbanipal, sobretudo porque ele não era o primogênito. O professor compara Deuteronômio e o tratado de sucessão de Esarhaddon na questão da sucessão. Deuteronômio se apresenta como o testamento de Moisés, proclamado diante de todo o povo durante as últimas horas da sua vida.

“Uma das perguntas essenciais do livro é sobre o pós-Moisés: o que vai acontecer depois da sua morte, quando o povo tiver entrado na terra prometida? Como enfrentar as incertezas do futuro? Assim como o tratado de sucessão de Esarhaddon procura com todos os meios assegurar a continuidade da dinastia e a estabilidade do Império”, comenta.

“O Deuteronômio revelou-se determinante nos estudos sobre o Pentateuco, desde o tempo de W. L. M. de Wette. Isso se mantém ainda hoje, por dois motivos principais: Primeiro, porque é um dos escritos que podem ser identificados e datados mais facilmente, sobretudo graças aos paralelos neoassírios. Segundo, porque fornece uma das chaves mais importantes para interpretar a função da Torá na existência de Israel. O Deuteronômio faz depender a existência do povo, e de todas as suas gerações, não da sua força militar, não da sua economia, não da sua política, não dos seus recursos materiais ou humanos, mas sim unicamente da fidelidade à Torá de Moisés”, finaliza.

A respeito das discussões sobre autores e redatores, Ska acredita que “temos bons motivos para pensar que na composição do Pentateuco existam traços de trabalhos de escribas que se assemelham àqueles dos documentos encontrados em Qumran e atestados nas comparações entre o Texto Massorético, o Pentateuco Samaritano e a Septuaginta. E tudo isso apesar das amargas críticas daqueles que negam a existências de ‘editores’ ou ‘redatores’”.

Para finalizar a conferência, Ska declarou: “Os problemas da exegese – seja diacrônica, seja sincrônica – são problemas reais, não inventados. Portanto, resta somente uma coisa a fazer: retomar o caminho que conduz aos textos para relê-los com mais atenção e mais gosto”.

Ska respondeu a algumas questões do público que acompanhava a conferência (continua).

Helder Câmara e Luciano Mendes de Almeida

Por ocasião do processo de impeachment da presidenta Dilma, Jacques Távora Alfonsin, procurador aposentado do estado do Rio Grande do Sul e membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos, faz memória de D. Helder Câmara e D. Luciano Mendes de Almeida, cuja vida e morte são recordadas no dia de hoje, 27 de agosto.

D. Helder Camara e D. Luciano Mendes de Almeida

Assim começa o artigo 27 de agosto: boa hora para recordar Helder Câmara e Luciano Mendes de Almeida

Quando começa a fase definitiva de julgamento do que está se chamando de impeachment da presidenta Dilma, a lembrança de uma coincidência – duas mortes de bispos da Igreja – ocorrendo ambas no dia 27 de agosto, a de Dom Helder em 1999 e a de Dom Luciano, 7 anos depois, oportuniza serem lembradas essas duas personalidades brasileiras de grande presença pastoral e política no Brasil, contrária à prolongada ditadura imposta ao país em 1964, ainda hoje  inspirando grande parte das iniciativas golpistas em andamento.

Leia.