A SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – comunica que seu 35º Congresso Anual terá como tema A Amazônia e o futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais e será realizado no campus Coração Eucarístico da PUC-Minas, em Belo Horizonte, de 11 a 14 de julho de 2023.
Formato híbrido:
Presencial: Auditório João Paulo II – PUC Minas
Online: As transmissões serão realizadas pelo site do Congresso da SOTER – A transmissão online será exclusiva aos participantes inscritos.
A proposta do Congresso visa trazer mais luz, profundidade e densidade epistemológica, para os debates e produções de conhecimento sobre a importância singular da Amazônia no sistema vida e em nosso planeta. Mas também sobre a nossa responsabilidade enquanto Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – SOTER. Acreditamos que, ao refletir sobre as diversas questões ecossociais e o futuro da humanidade implicadas neste complexo ecossistema escolhido como tema central, ampliará, enriquecerá e aprofundará a nossa compreensão, por um lado, sobre a diversidade de culturas, de crenças, de éticas e ecoéticas, de paradigmas e modelos de desenvolvimento, mas também, por outro, de nossa identidade e missão enquanto pesquisadoras/es e cientistas da Área Ciências da Religião e Teologia.
Como parte integrante desse imenso objeto de estudos, a Amazônia, podemos mencionar, primeiramente, a necessária discussão, tão presente no pensamento decolonial, sobre a situação dos nossos povos originários, com a diversidade de suas culturas, a riqueza de suas tradições de sabedoria, o necessário reconhecimento de seus direitos fundamentais, o respeito a que estes povos merecem, como interlocutores e parceiros, membros da mesma humanidade, e as graves e recorrentes ameaças a que estão sistematicamente submetidos.
Em segundo lugar, importa enfatizar, o tema da ameaça climática, pois, temos testemunhado, sistematicamente, o descaso da população, das religiões e dos governos, com as suas organizações e instituições, diante do desmatamento, das queimadas e da degradação ambiental, de modo especial, do bioma amazônico. A perseguição e assassinato dos ativistas ambientais e dos direitos humanos em nosso país, a invasão e exploração de terras indígenas e áreas de proteção ambiental, os garimpos e minerações ilegais e irresponsáveis, o sucateamento dos órgãos de fiscalização, a flexibilização da legislação ambiental e a impunidade dos crescentes crimes ambientais e dos assassinatos de lideranças indígenas e ativistas, comprovam a gravidade, a necessidade e urgência de mudanças.
Em terceiro lugar, mencionamos a relevância do que os estudos das ciências humanas denominam como “ecologia integral” e o que, especificamente, a ecoteologia, na mesma direção, compreende como “o necessário cuidado de nossa casa comum”. O tema da ecologia, sem qualquer vanguardismo, urge ser acolhido e levado a sério por todos nós, enquanto conteúdo transversal irrenunciável, em nossas pesquisas, análises, debates, produções de conhecimento e ações. Não assumir a tarefa posta pela ecologia hoje significa, de certa maneira, cair em negacionismos inférteis ou mesmo trair a consciência que temos de nosso tempo. E isso é grave, pois, nas palavras do poeta alemão Goethe, “Quem, de três milênios, não é capaz de se dar conta, vive na ignorância, na sombra, à mercê dos dias, do tempo.”
Dentre muitos outros fatores aqui não mencionados, estes não podem ser olvidados. A situação do ecossistema amazônico, com seu frágil equilíbrio tão ameaçado, foi agravada nos últimos anos em nosso país. Os diagnósticos dos especialistas apontam para tempos cada vez mais sombrios, alguns falam de ponto crítico ultrapassado, outros até de irreversibilidade na sua recuperação, tamanho grau de destruição já encetado, realidade que coloca em risco não apenas a Amazônia em si, enquanto região específica, mas todo o sistema vida e, portanto, a vida humana.
No entanto, se por um lado a vida tem os seus ardis e revela uma capacidade surpreendente de reação e resistência, diante de suas agressões e de seus agressores, por outro, o próprio ser humano também, ainda que de forma ambivalente e muitas vezes revelar-se apequenado e mesquinho, revela igualmente uma capacidade extraordinária de colocar a sua inteligência a serviço da vida, de produzir conhecimentos e transformá-los em técnicas e tecnologias, que fizeram e fazem a diferença em mudanças urgentes e necessárias. Já foi capaz de ser sensivelmente solidário e superar situações trágicas, de recuperar áreas altamente degradadas, de salvar rios tidos como mortos ou espécies condenadas a extinção, de engendrar soluções para realidades tidas como sem solução. Será que nosso esperançar tem consistência e fecundidade criativa para sonharmos com uma Amazônia que proteja a vida e a diversidade cultural e religiosa e que devolva seus traços originários? Esperançamos uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o “bem viver”.