E, finalmente, depois de 21 anos, o número 71 da revista Estudos Bíblicos, publicado em 2001, está online.
Coordenado por Johan Konings, este número tem por título Israel e sua História.
Por que este número é importante?
Porque, na época, virou notícia, causando impacto pela novidade que trazia sobre as recentes mudanças na História de Israel.
Foi neste número de Estudos Bíblicos que publiquei meu artigo sobre A História de Israel na pesquisa atual.
O tema era pouco conhecido no Brasil e quase nunca debatido entre nós, embora já circulasse nos principais centros acadêmicos do mundo na década de 90 do século XX. Eu estava lendo sobre o assunto e o levei para as reuniões anuais dos Biblistas Mineiros. Após alguns debates, saiu a publicação.
Meu artigo começava assim:
A “História de Israel” está mudando. 0 consenso existente até meados da década de 70 do século XX foi rompido. A paráfrase racionalista do texto bíblico que constituía a base dos manuais de “História de Israel” não é mais aceita. A sequência patriarcas, José do Egito, escravidão, êxodo, conquista da terra, confederação tribal, império davídico-salomônico, divisão entre norte e sul, exílio e volta para a terra está despedaçado.
Este número da Estudos Bíblicos, com algumas modificações, foi, em seguida, publicado como livro pela Vozes: FARIA, J. de Freitas (org.) História de Israel e as pesquisas mais recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
Também com uma recepção extraordinária. O livro, porém, está esgotado.
Meu artigo até que ficou algum tempo online na página da Vozes, depois foi retirado. Mas uma versão mais atualizada do mesmo texto pode ser lida na Ayrton’s Biblical Page, onde também há outros textos que mostram como o debate vem acontecendo desde então. Confira, por exemplo, aqui, aqui, aqui e aqui.
Johan Konings escreveu no Editorial deste número:
Os últimos encontros dos “Biblistas Mineiros” giraram em torno da história e da historiografia de Israel. 0 ensejo foram as recentes publicações apresentadas por Airton da Silva neste número de Estudos Bíblicos. Por um lado, a história de Israel continua sendo apresentada como ela aparece nos escritos bíblicos – em meio a tentativas de esconder as contradições -, ou, então, como o construto erudito concebido em função da exegese histórico-crítica dos últimos séculos. Por outro lado, encontramos o minimalismo que só conhece uma história de Israel fragmentária, pescada principalmente nos documentos e vestígios extrabíblicos, ou até mesmo o niilismo radical em relação ao conhecimento histórico objetivo como tal.
Esta problemática não nos pode deixar indiferentes, ainda mais porque assistimos ao recrudescimento do fundamentalismo ou de maneiras afins de considerar os fatos mencionados na Bíblia como ocorridos tais quais e capazes de basear conclusões teóricas e práticas com valor de revelação divina. Mas também no âmbito de nossa releitura à luz da práxis libertadora o problema é relevante. Conhece-se a diversidade de reconstruções daquilo que pode ter sido o êxodo do Egito. Será que nossa releitura é uma leitura do fato, ou do sentido (melhor, dos sentidos) do fato que a Bíblia apresenta?
De qualquer maneira, não é possível ler a Bíblia sem ter uma visão de conjunto da apresentação bíblica da memória histórica de Israel. É a isso que visa o primeiro artigo desta publicação, um prospecto dos livros chamados “históricos ” (do Antigo Testamento), da mão de Johan Konings. Segue-se um artigo de Jaldemir Vitório mostrando a visão profética de Amós sobre um determinado momento da história de Israel, o “milagre econômico” de Jeroboão II. A seguir, Jacir de Freitas mostra a releitura “orante” da história de Israel nos Salmos, e Jacil Rodrigues de Brito explica o método com que a exegese rabínica faz suas interpretações dos elementos narrativos da Bíblia de Israel. Depois desses elementos, o leitor está preparado para se inteirar dos acima mencionados questionamentos metodológicos, apresentados por Airton da Silva.
0 cardápio é completado pelas recensões, que se referem a Jesus de Nazaré e seu “movimento”, ao evangelho de João e à novíssima tradução da Bíblia lançada pela CNBB no mês de julho.