Notas sobre a pesquisa do livro de Oseias no século XX

Brad E. Kelle, da Point Loma Nazarene University, San Diego, Califórnia, publicou, em 2009 e 2010, na revista Currents in Biblical Research, dois importantes artigos sobre a pesquisa de Oseias no século XX e primeira década do século XXI: O casamento de Oseias na pesquisa do século XX e Oseias 4-14 na pesquisa do século XX. Os artigos estão disponíveis online. São:

KELLE, B. E. Hosea 1–3 in Twentieth-Century Scholarship. Currents in Biblical Research, 7.2, p. 179-216, 2009.

KELLE, B. E. Hosea 4–14 in Twentieth-Century Scholarship. Currents in Biblical Research, 8.3, p. 314-375, 2010.

Resumi os pontos principais destes dois artigos, na maior parte das vezes apenas traduzindo livremente alguns trechos ou organizando em outra ordem as palavras do autor.

Nos meses de maio e junho de 2019 publiquei este resumo em 11 postagens no Observatório Bíblico. Agora organizei tudo em um só texto e publiquei na seção de artigos da Ayrton’s Biblical Page.

Confira as postagens sobre Oseias no Observatório Bíblico aqui. E o artigo “Notas sobre a pesquisa do livro de Oseias no século XX” aqui.

Teoria da metáfora conceptual

O livro do profeta Oseias é recheado de metáforas. Virtualmente toda tendência interpretativa nos estudos sobre Oseias preocupou-se de alguma forma com as metáforas do texto. Mas, desde a década de 80 do século XX a abordagem de Oseias através das lentes da metáfora, especialmente o uso da teoria da metáfora conceptual alcançou uma posição de destaque nos estudos acadêmicos do livro do profeta. Há autores, por exemplo, que interpretam as imagens da prostituição usadas no livro de Oseias como um símbolo do corpo social desintegrado de Israel no século VIII a.C.

Por isso pode ser interessante esclarecer, ainda que brevemente, o que vem a ser a teoria da metáfora conceptual, também conhecida como teoria cognitiva da metáfora.

 

Para a maioria de nós, a metáfora é uma figura de linguagem na qual uma coisa é comparada com outra, dizendo que uma é a outra, como em “Ele é um leão”. Ou, como diz a Enciclopédia Britânica: A metáfora é uma figura de linguagem que implica comparação entre duas entidades diferentes (…) uma comparação explícita sinalizada pelas palavras “semelhante” ou “como”.

Por exemplo, consideraríamos a palavra leão uma metáfora na frase Aquiles era um leão no combate. Nós provavelmente diríamos também que a palavra é usada KOVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2010.metaforicamente para alcançar algum efeito artístico e retórico, já que falamos e escrevemos metaforicamente para nos comunicarmos eloquentemente, para impressionar os outros com palavras “bonitas”, esteticamente agradáveis ​​ou para expressar alguma emoção profunda. Talvez também acrescentássemos que o que possibilita a identificação metafórica de Aquiles com um leão é que Aquiles e leões têm algo em comum: a bravura e a força.

De fato, essa é uma visão amplamente compartilhada – a concepção mais comum de metáfora, tanto nos círculos acadêmicos quanto na mentalidade popular. O que não significa que essa seja a única visão da metáfora. Esse conceito tradicional pode ser brevemente caracterizado por apontar cinco de seus recursos mais comumente aceitos:

1. A metáfora é uma propriedade das palavras, é um fenômeno linguístico. O uso metafórico do leão é uma característica de uma expressão linguística, a da palavra leão
2. A metáfora é usada para algum objetivo artístico e retórico, como quando Shakespeare escreve: o mundo é um palco
3. A metáfora é baseada em uma semelhança entre as duas entidades que são comparadas e identificadas. Aquiles deve compartilhar alguns recursos com os leões para que possamos usar a palavra leão como uma metáfora para Aquiles
4. A metáfora é um uso consciente e deliberado das palavras, e você deve ter um talento especial para poder fazê-lo e fazê-lo bem. Somente grandes poetas ou palestrantes eloquentes podem ser seus mestres
5. A metáfora é uma figura de linguagem da qual podemos prescindir. Nós a usamos para efeitos especiais e não é uma parte inevitável da comunicação humana cotidiana, muito menos do pensamento e do raciocínio humano cotidiano.

 

Uma nova visão da metáfora que desafiou, de maneira coerente e sistemática, todos esses aspectos da teoria tradicional, foi desenvolvida por George Lakoff e Mark Johnson em 1980 em seu estudo seminal Metaphors We Live By, traduzido como Metáforas da vida cotidiana. Sua concepção tornou-se conhecida como teoria cognitiva da metáfora ou teoria da metáfora conceptual.

Lakoff e Johnson desafiaram a visão profundamente arraigada da metáfora, afirmando que:
1. A metáfora é uma propriedade dos conceitos, e não das palavras
2. A função da metáfora é entender melhor certas conceitos, e não apenas servir a algum propósito artístico ou estético
3. A metáfora frequentemente não se baseia na semelhança
4. A metáfora é usada sem esforço na vida cotidiana por pessoas comuns, não apenas por pessoas talentosas
5. A metáfora, longe de ser um enfeite linguístico supérfluo e agradável, é um processo inevitável do pensamento e do raciocínio humano.

Para Lakoff e Johnson a metáfora não é simplesmente uma questão de palavras ou expressões linguísticas, mas de conceitos, de pensar em uma coisa em termos de outra. Segundo a teoria cognitiva da metáfora desenvolvida por Lakoff e Johnson, a metáfora é de natureza conceptual. Nessa perspectiva, a metáfora deixa de ser apenas um dispositivo da imaginação literária criativa e se converte em valiosa ferramenta cognitiva tanto para os poetas quanto para as pessoas comuns em seu cotidiano.

Com isto não se quer dizer que as ideias mencionadas acima no que chamamos de teoria cognitiva da metáfora não existiam antes de 1980. Obviamente, muitas delas existiam. Os principais componentes da teoria cognitiva da metáfora foram propostos por diversos estudiosos nos últimos dois mil anos. Por exemplo, a ideia da natureza conceptual da metáfora foi discutida por vários filósofos, incluindo Locke e Kant, vários séculos atrás.

O que há de novo, então, na teoria cognitiva da metáfora? No geral, a novidade está em que é uma teoria abrangente, generalizada e empiricamente testada.

:. Abrangência que deriva do fato de discutir um grande número de questões relacionadas à metáfora. Isso inclui, por exemplo:
. a relação da metáfora com outras figuras de linguagem
. a universalidade e especificidade cultural da metáfora
. a aplicação da teoria da metáfora conceptual a uma variedade de tipos diferentes de discurso, como a literatura
. a aquisição de metáfora
. o uso de metáforas no ensino de línguas estrangeiras
. a utilização não linguística da metáfora em uma variedade de áreas, como os múltiplos recursos visuais da atualidade

:. Generalização que deriva do fato de que ela tenta conectar o que sabemos sobre a metáfora conceptual com o que sabemos sobre o funcionamento da linguagem, o funcionamento do sistema conceptual humano e o funcionamento da cultura. A teoria cognitiva da metáfora fornece novas ideias sobre como certos fenômenos linguísticos funcionam, como a polissemia e o desenvolvimento do significado. Também lança uma nova luz sobre como o significado metafórico emerge. Ela desafia a visão tradicional de que a linguagem e o pensamento metafóricos são arbitrários e desmotivados e oferece a nova visão de que tanto a linguagem metafórica quanto o pensamento surgem da experiência corporal (sensório-motora) básica dos seres humanos.

:. Empiricamente testada, pois os pesquisadores usaram uma variedade de experimentos para testar a validade das principais reivindicações da teoria. Esses experimentos mostraram que a visão cognitiva da metáfora é psicologicamente viável: ou seja, tem fundamento psicológico. Experiências posteriores mostraram que ela pode ser vista como um instrumento fundamental não apenas na produção de novas palavras e expressões, mas também na organização do pensamento humano, e que pode ter aplicações práticas úteis, como, por exemplo, no ensino de línguas estrangeiras.

LAKOFF, G. ; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: University of Chicago Press, 2015.Vamos fazer uma distinção entre metáforas conceptuais e expressões linguísticas metafóricas. Nas metáforas conceptuais, um domínio da experiência é usado para entender outro domínio da experiência. As expressões linguísticas metafóricas, por outro lado, manifestam as metáforas conceptuais. O domínio conceptual que tentamos entender é chamado domínio de destino, e o domínio conceptual que usamos para esse fim é o domínio de origem.

Na frase Aquiles era um leão no combate, “Aquiles” é o domínio de destino, o alvo a ser explicado, enquanto “leão” é o domínio de origem, o recurso usado para entender o comportamento de Aquiles. Explicando “Aquiles” através de “leão”, estou dizendo: o domínio conceptual A (Aquiles) pode ser compreendido através do domínio conceptual B (leão). Ou seja: temos uma metáfora conceptual quando explicamos uma realidade ou conceito mais abstrato ou complexo através de uma realidade ou categoria mais concreta ou mais simples que faz parte de nossa experiência.

Típicos domínios conceptuais de origem são, por exemplo, o corpo humano, doença e saúde, animais, plantas, construções, máquinas e ferramentas, jogos e esporte, dinheiro e transações financeiras, culinária, calor e frio, luz e trevas, movimento e direção etc.

Típicos domínios conceptuais de destino são, por exemplo, emoções, desejos, moral, pensamentos, sociedade, política, economia, comunicação, relações humanas, tempo, vida e morte, religião, eventos ou ações etc.

A compreensão de um domínio em termos de outro envolve um conjunto de correspondências, tecnicamente chamadas de mapeamentos, entre uma origem e um domínio de destino. Esse conjunto de mapeamentos é obtido entre os elementos constituintes básicos do domínio de origem e os elementos constituintes básicos do destino. Conhecer uma metáfora conceptual é conhecer o conjunto de mapeamentos que se aplica a um determinado pareamento origem-destino. São esses mapeamentos que fornecem o significado das expressões linguísticas metafóricas (ou metáforas linguísticas) que tornam uma metáfora conceptual específica manifesta.

 

For most of us, metaphor is a figure of speech in which one thing is compared with another by saying that one is the other, as in “He is a lion”. Or, as the Encyclopaedia Britannica puts it: “metaphor [is a] figure of speech that implies comparison between two unlike entities, as distinguished from simile, an explicit comparison signalled by the words ‘like’ or ‘as’ ”. For example, we would consider the word lion to be a metaphor in the sentence “Achilles was a lion in the fight.” We would probably also say that the word is used metaphorically in order to achieve some artistic and rhetorical effect, since we speak and write metaphorically to communicate eloquently, to impress others with “beautiful,” esthetically pleasing words, or to express some deep emotion. Perhaps we would also add that what makes the metaphorical identification of Achilles with a lion possible is that Achilles and lions have something in common: namely, their bravery and strength.

Indeed, this is a widely shared view—the most common conception of metaphor, both in scholarly circles and in the popular mind (which is not to say that this is the only view of metaphor). This traditional concept can be briefly characterized by pointing out five of its most commonly accepted features. First, metaphor is a property of words; it is a linguistic phenomenon. The metaphorical use of lion is a characteristic of a linguistic expression (that of the word lion). Second, metaphor is used for some artistic and rhetorical purpose, such as when Shakespeare writes “all the world’s a stage.” Third, metaphor is based on a resemblance between the two entities that are compared and identified. Achilles must share some features with lions in order for us to be able to use the word lion as a metaphor for Achilles. Fourth, metaphor is a conscious and deliberate use of words, and you must have a special talent to be able to do it and do it well. Only great poets or eloquent speakers, such as, say, Shakespeare and Churchill, can be its masters. For instance, Aristotle makes the following statement to this effect: “The greatest thing by far is to have command of metaphor. This alone cannot be imparted by another; it is the mark of genius.” Fifth, it is also commonly held that metaphor is a figure of speech that we can do without; we use it for special effects, and it is not an inevitable part of everyday human communication, let alone everyday human thought and reasoning.

A new view of metaphor that challenged all these aspects of the powerful traditional theory in a coherent and systematic way was first developed by George Lakoff and Mark Johnson in 1980 in their seminal study: Metaphors We Live By. Their conception has become known as the “cognitive linguistic view of metaphor.” Lakoff and Johnson challenged the deeply entrenched view of metaphor by claiming that (1) metaphor is a property of concepts, and not of words; (2) the function of metaphor is to better understand certain concepts, and not just some artistic or esthetic purpose; (3) metaphor is often not based on similarity; (4) metaphor is used effortlessly in everyday life by ordinary people, not just by special talented people; and (5) metaphor, far from being a superfluous though pleasing linguistic ornament, is an inevitable process of human thought and reasoning.

In their view, metaphor is not simply a matter of words or linguistic expressions but of concepts, of thinking of one thing in terms of another. In the examples, two very different linguistic expressions capture aspects of the same concept, the mind, through another concept, machines. In the cognitive linguistic view as developed by Lakoff and Johnson, metaphor is conceptual in nature. In this view, metaphor ceases to be the sole device of creative literary imagination; it becomes a valuable cognitive tool without which neither poets nor you and I as ordinary people could live.

This discussion is not intended to suggest that the ideas mentioned above in what we call the “cognitive linguistic view of metaphor” did not exist before 1980. Obviously, many of them did. Key components of the cognitive theory were proposed by a diverse range of scholars in the past two thousand years. For example, the idea of the conceptual nature of metaphor was discussed by a number of philosophers, including Locke and Kant, several centuries ago. What is new, then, in the cognitive linguistic view of metaphor? Overall, what is new is that it is a comprehensive, generalized, and empirically tested theory.

First, its comprehensiveness derives from the fact that it discusses a large number of issues connected with metaphor. These include the systematicity of metaphor; the relationship between metaphor and other tropes, or figures of speech; the universality and culture-specificness of metaphor; the application of metaphor theory to a range of different kinds of discourse such as literature; the acquisition of metaphor; the teaching of metaphor in foreign language teaching; the nonlinguistic realization of metaphor in a variety of areas such as advertisements; and many others. It is not claimed that these issues have not been dealt with at all in other approaches; instead, the claim is that not all of them have been dealt with within the same theory.

Second, the generalized nature of the theory derives from the fact that it attempts to connect what we know about conceptual metaphor with what we know about the working of language, the working of the human conceptual system, and the working of culture. The cognitive linguistic view of metaphor can provide new insights into how certain linguistic phenomena work, such as polysemy and the development of meaning. It can also shed new light on how metaphorical meaning emerges. It challenges the traditional view that metaphorical language and thought is arbitrary and unmotivated. And it offers the new view that both metaphorical language and thought arise from the basic bodily (sensorimotor) experience of human beings. As it turns out, this notion of “embodiment” very clearly sets off the cognitive linguistic view from the traditional ones.

Third, it is an empirically tested theory in that researchers have used a variety of experiments to test the validity of the major claims of the theory. These experiments have shown that the cognitive view of metaphor is a psychologically viable one: that is, it has psychological reality. Further experiments have shown that, because of its psychological reality, it can be seen as a key instrument not only in producing new words and expressions but also in organizing human thought, and that it may have useful practical applications, for example, in foreign language teaching.

We have made a distinction between conceptual metaphors and metaphorical linguistic expressions. In conceptual metaphors, one domain of experience is used to understand another domain of experience. The metaphorical linguistic expressions make manifest particular conceptual metaphors. The conceptual domain that we try to understand is called the target domain, and the conceptual domain that we use for this purpose is the source domain.

Understanding one domain in terms of another involves a set of fixed correspondences (technically called mappings) between a source and a target domain. This set of mappings obtains between basic constituent elements of the source domain and basic constituent elements of the target. To know a conceptual metaphor is to know the set of mappings that applies to a given source-target pairing. It is these mappings that provide much of the meaning of the metaphorical linguistic expressions (or linguistic metaphors) that make a particular conceptual metaphor manifest (KOVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2010. Trechos do “Preface to the First Edition: The Study of Metaphor”).

Referências:

KOVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2010, 375 p. – ISBN 9780195374940.

KOVECSES, Z. Extended Conceptual Metaphor Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 2020, 320 p. – ISBN 9781108490870.

LAKOFF, G. ; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: University of Chicago Press, 2015, 256 p. – ISBN 9780226468372.

 

Zoltan Kovecses: Eötvös Loránd University, School of English and American Studies, Faculty Member, Hungary.

George Lakoff is a professor in the Department of Linguistics at the University of California, Berkeley.

Mark Johnson is the Knight Professor of Liberal Arts and Sciences at the University of Oregon.

Querida Amazônia

A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério.

“Querida Amazônia”: o sonho de Francisco por um mundo melhor – IHU: 12 fevereiro 2020

Em uma entrevista publicada recentemente no jornal Le Monde, Davi Kopenawa, o grande líder do povo Yanomami, e uma das vozes mais influentes entre os povos originários da Amazônia, disse que “os brancos estão destruindo a Amazônia porque não sabem sonhar”. No entanto, “Querida Amazônia” nos mostra que há um branco, que também se veste de branco, que sabe e quer sonhar, que quer que o mundo e a Igreja sonhem, fazê-lo a partir de sua “Querida Amazônia”, pela que tanto ele tem se interessado desde o início de seu pontificado. A análise é do missionário Luis Miguel Modino.

Ousaria dizer que Francisco é um papa que assumiu o universo indígena como seu. Não devemos esquecer que, nas visões de mundo dos povos originários, os sonhos são algo que determina a vida cotidiana. Para os povos indígenas, sonhar não é uma questão de pessoas que vivem em outro mundo, mas daquelas que trazem a este mundo o que está marcando o curso da vida.

Os sonhos do Papa Francisco nos levam a diferentes dimensões, que fazem parte da vida do ser humano: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial. São sonhos que incluem tudo o que foi vivenciado no processo sinodal e que ajudarão a tecer novas relações sociais, culturais, ecológicas e eclesiais, provenientes da periferia e que atingiram o centro do debate e da vida eclesial e social. O cuidado da casa comum tornou-se uma preocupação comum, dentro e fora da Igreja, e o Papa Francisco tem sido um ator fundamental e decisivo.

Estamos diante de um documento que coleta e valoriza aqueles que participaram do processo sinodal e o Documento Final da assembleia, que o Papa Francisco convida a ler e, entende-se, assumir. Desde o início, podemos dizer que os sonhos são uma maneira de dizer à Igreja e às pessoas de boa vontade, o diagnóstico que foi desenvolvido ao longo de todo o processo sinodal, algo em que ele sempre insistiu, para examinar os diagnósticos e são nas coisinhas.

Seu diagnóstico parte do comum a todos, o sonho social, para alcançar o específico, o sonho eclesial, passando pelo cultural e pelo ecológico (continua).

 

Os sonhos do papa para a sua Querida Amazônia. Artigo de Adelson Araújo dos Santos, SJ – IHU: 12 fevereiro 2020

A primeira coisa que salta aos olhos de quem lê a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco a respeito do Sínodo sobre a Amazônia é o seu título, com a impactante frase: “Querida Amazônia”. Isto parece indicar que a mensagem que o sucessor de Pedro deseja passar desde o início da sua exortação aos povos e às igrejas da Amazônia é que eles são queridos, amados pelo Papa, como também todas as demais criaturas de Deus ali presentes, isto é, toda a sua biodiversidade. E é este amor, esse “querer bem”, que o fez tomar iniciativas como a convocação de um sínodo especial sobre aquela região, conclamando os católicos do mundo inteiro, junto com as pessoas de boa vontade, a cuidar bem desta parte vital do planeta, seguindo o exemplo do próprio Senhor Jesus, “que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar de nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá todos os dias”. Porque, quem ama, cuida.

Logo em seguida, o leitor se depara com outra surpresa preparada pelo Papa, isto é, ao invés de apresentar conclusões teóricas ou se deter somente em propostas de ação concretas sobre a Amazônia, ele prefere compartilhar conosco quatro sonhos sobre a sua querida Amazônia: Um sonho social; Um sonho cultural; Um sonho ecológico e um sonho eclesial. Parece-nos importante indagar, então, sobre o conteúdo desses sonhos e o valor teológico que ocupam no documento que estamos agora a conhecer (continua).

 

“A floresta amazônica é como o “coração biológico” da Terra. O planeta (pelo menos, o planeta que conhecemos) não pode viver sem a Amazônia” – IHU: 13 fevereiro 2020

Francisco e Lula em 13 de fevereiro de 2020 - Foto: Ricardo Stuckert
Lula: A razão da minha vinda à Itália foi discutir com o papa Francisco a questão da desigualdade social e da sua luta em defesa de uma boa política ambiental

“O modelo extrativo dominante tem trazido resultados calamitosos, causando estragos na Amazônia e a seus povos. A fim de avançar e reverter este modelo destrutivo-extrativista, precisamos urgentemente abraçar uma terceira via, um caminho que cultive a Amazônia sem destruí-la, um caminho que trabalhe com a população local sem a colonizar (cf. QA, 28), um caminho que conjugue as culturas ancestrais indígenas com as técnicas contemporâneas”, afirmou Carlos Nobre, cientista brasileiro, ao apresentar, em Roma, a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”.

Segundo ele, “a comunidade científica está ansiosa para ver os sonhos sociais, culturais, pastorais e ecológicos do papa virarem realidade. Com os povos originários sendo os protagonistas deste novo caminho, com a riqueza da diversidade cultural e biológica da região, e com os católicos mobilizando-se para promover a inclusão e a sustentabilidade, os novos modelos de produção que cuidam da Amazônia poderão acontecer, e os sonhos do Papa Francisco tornar-se-ão realidade”. O artigo é publicado por Sala de Imprensa da Santa Sé, 12-02-2020.

Na qualidade de cientista que trabalha na área da ecologia há mais de 35 anos, especialmente nas questões ecológicas da região amazônica, dou as boas-vindas à exortação do Papa Francisco Querida Amazônia (QAm). Claro está que tanto a exortação quanto o Documento Final do Sínodo dos Bispos, a que a exortação faz referência (cf. QAm, 2, 3), têm inspiração na encíclica Laudato Si’: Sobre o cuidado da casa comum (2015). Alguns bispos, como o Cardeal Pedro Barreto, do Peru, têm chamado este sínodo de o “filho da Laudato Si’”. A presente exortação apostólica pode bem ser a filha de Laudato Si’ (continua).

 

Dom Leonardo Steiner: “Virou moda chamar de comunista. Falar de democracia virou comunismo” – Thais Reis Oliveira – CartaCapital: 12 de fevereiro de 2020

Transferido à Amazônia após oito anos na cúpula da CNBB, Dom Leonardo Steiner promete não se omitir diante do governo

“Estamos tentando governar o País na base de notícias falsas, da agressividade, da violência. Isso não constrói um Brasil. (…).” A afirmação não foi ouvida em nenhum plenário ou palanque, mas do altar. Mais precisamente, na missa que consagrou Dom Leonardo Steiner, ex-secretário-geral da CNBB, o novo arcebispo de Manaus. Depois de oito anos ocupando o cargo de mais destaque da conferência, o catarinense promete manter neste novo capítulo o tom combativo que marcou sua trajetória até aqui.

Sua chegada é vista como um contraponto à apatia que tomou conta da CNBB desde as últimas eleições, em maio. Embora a temida guinada à direita não tenha se concretizado, a conferência tem moderado o tom crítico ao governo. Prevaleceu nos bastidores a tese de que uma reação aguda daria ao bolsonarismo um ‘inimigo ideal’. (Leia a reportagem completa de CartaCapital aqui).

De formação franciscana, Steiner é discípulo de Dom Pedro Casaldáliga, o ‘bispo do povo’. Também mantém proximidade de dom Claudio Hummes, o cardeal brasileiro que mais influencia o papa Francisco. Fora da cúpula da CNBB, pediu à Santa Sé transferência para a Amazônia — é o quarto franciscano que, desde o Sínodo, assumiu dioceses naquela região.

O bispo defende uma aproximação dos católicos com a política. “Nesse momento, precisamos de pessoas lúcidas“. Sobre a pecha de ‘comunista’ que muitas vezes recai sobre a CNBB, retruca: “A CNBB teve e tem um papel fundamental na sociedade brasileira, apesar do desejo de que ela se cale. A grande maioria não leu Marx.”

Em entrevista a CartaCapital, ele fala sobre o novo ofício e as similitudes entre política e religião (continua).

 

A íntegra da Exortação Apostólica “Querida Amazônia” pode ser lida aqui.

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A Revista Eclesiástica Brasileira (REB), editada pelo Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, RJ/Brasil, em parceria com a Editora Vozes e a Universidade São REB v. 79, n. 314, 2019 - Evolução/TradiçãoFrancisco, de Bragança Paulista, é uma revista de reflexão teológico-pastoral, de característica eclesial e inter-religiosa.

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