Por que os livros de Amós e Oseias foram escritos?

Neste mês de abril de 2018 estive estudando com os alunos do Segundo Ano de Teologia do CEARP o livro de Amós. Agora estamos examinando Oseias. E uma pergunta sempre surge: em que contextos livros proféticos como Amós e Oseias foram escritos?

Wolfgang Schütte, que se dedica a pesquisar os inícios da profecia escrita nos séculos VIII e VII a.C. [livro para download gratuito aqui], nos dá uma boa pista em dois artigos publicados na revista Biblica, do Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Artigos disponíveis para leitura online. Em alemão.

 

El Profeta, de Pablo Gargallo - Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid (1933)

Amós

SCHÜTTE, W. Die Amosschrift als juda-exilische israelitische Komposition. Biblica, Roma,  vol. 93, p. 520-542, 2012.

The oracles of Amos written in the 8th century BCE were brought from the Kingdom of Israel to Judah after the fall of Samaria in 720 BCE. We think that the Israelites in «exile» in Judah were hoping for a restoration at that time. The Book of Amos can be interpreted in this context: it explains the feelings of Israelite refugees in Judah (Amos 1-2), the responsibility of the Israelite elite for the disaster (Amos 3-6), the reason why the people bear the consequences of the catastrophe (Amos 7), and why there is hope for the refugees in Judah, but not for the exiles in Assyria (Amos 8-9).

Os oráculos de Amós escritos no século VIII a.C. foram trazidos do reino de Israel para Judá depois da queda de Samaria em 720 a.C. Nós pensamos que os israelitas no “exílio” em Judá estavam esperando por uma restauração naquele tempo. O Livro de Amós pode ser interpretado neste contexto: explica os sentimentos dos refugiados israelitas em Judá (Amós 1-2), a responsabilidade da elite israelita pelo desastre (Amós 3-6), a razão pela qual as pessoas sofrem as consequências da catástrofe (Amós 7), e por que há esperança para os refugiados em Judá, mas não para os exilados na Assíria (Amós 8-9).

 

Oseias

SCHÜTTE, W. Die Entstehung der juda-exilischen Hoseaschrift. Biblica, Roma, vol. 95, p. 198-223, 2014.

The book of Hosea was composed a short time after the Assyrian conquest of Israel and by a group of Israelites that had fled to Judah. The kernel of the book comes from a series of critical statements about cultic personnel and Israel’s society. The book integrated later reflections on national guilt and tried to infuse religious hope to the Israelite refugees in Judah.

O livro de Oseias é uma composição israelita no contexto dos exilados de Israel (norte) em Judá, propõe Wolfgang Schütte.

O livro de Oseias foi composto pouco depois da conquista assíria de Israel, por um grupo de israelitas que fugiram para Judá. O cerne do livro vem de uma série de posicionamentos críticos sobre o pessoal do culto e a sociedade de Israel. O livro integrou reflexões posteriores sobre a culpa nacional e tentou infundir esperança religiosa aos refugiados israelitas em Judá.

Diz o autor:
Ich unterstelle ihr, dass sie im Kern eine israelitische, im Fluchtland Juda verfasste, religiöse Literatur ist, die sich mit der Politik des Zufluchtslandes und einer  erhofften Rückkehr nach Israel selbst auseinandersetzt.

Eu proponho que o livro de Oseias deva ser lido como literatura israelita escrita na terra de refúgio de Judá, lidando com a política do país de refúgio e com a esperança de um retorno a Israel.

Leia Mais:
Perguntas mais frequentes sobre o profeta Amós
Faça o download do livro A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C.

Livro de Rute: amor entre mulheres?

Debatendo argumentos a favor e contra a leitura do livro de Rute como uma história de amor entre mulheres, Stephanie Day Powell traz novos insights sobre o mundo antigo em que o livro de Rute foi escrito.

POWELL, S. D. Narrative Desire and the Book of Ruth. London: Bloomsbury T&T Clark, 2018, 224 p. – ISBN  9780567678751

POWELL, S. D. Narrative Desire and the Book of Ruth. London: Bloomsbury T&T Clark, 2018, 224 p.

Stephanie Day Powell illuminates the myriad forms of persuasion, inducement, discontent, and heartbreak experienced by readers of Ruth. Writing from a lesbian perspective, Powell draws upon biblical scholarship, contemporary film and literature, narrative studies, feminist and queer theories, trauma studies and psychoanalytic theory to trace the workings of desire that produced the book of Ruth and shaped its history of reception. Wrestling with the arguments for and against reading Ruth as a love story between women, Powell gleans new insights into the ancient world in which Ruth was written.

Ruth is known as a tale of two courageous women, the Moabite Ruth and her Israelite mother-in-law Naomi. As widows with scarce means of financial or social support, Ruth and Naomi are forced to creatively subvert the economic and legal systems of their day in order to survive. Through exceptional acts of loyalty, they, along with their kinsman Boaz, re-establish the bonds of family and community, while preserving the line of Israel’s great king David. Yet for many, the story of Ruth is deeply dissatisfying. Scholars increasingly recognize how Ruth’s textual “gaps” and ambiguities render conventional interpretations of the book’s meaning and purpose uncertain. Feminist and queer interpreters question the appropriation of a woman’s story to uphold patriarchal institutions and heteronormative values. Such avenues of inquiry lend themselves to questions of narrative desire, that is, the study of how stories frame our desires and how our own complex longings affect the way we read.

Stephanie Day Powell is a Lecturer at Manhattan College in New York, USA.

 

Sumário
Preface
Acknowledgements
Abbreviations
1. Narrative Desire and the Book of Ruth
2. Resistance: Ambiguity and Artistry in the Book of Ruth
3. Rupture: Ruth and Fried Green Tomatoes
4. Reclamation: Ruth and Oranges Are Not the Only Fruit
5. Re-Engagement: Ruth and Golem, The Spirit of Exile
6. Conclusion: (Un)final Gleanings
Bibliography
Index

Para conhecer minha proposta de leitura de Rute, leia, na Ayrton’s Biblical Page, o artigo Leitura socioantropológica do livro de Rute.

As descobertas mais importantes da arqueologia israelense

ToI asks the experts: What are the most important finds of Israeli archaeology? – By Amanda Borschel-Dan – Times of Israel: April 19, 2018

From Dead Sea Scrolls to space-age tech, the dramatic history of the ever-developing field is indelibly entwined with that of the nation itself

Grutas de Qumran

Observa hoje Jim Davila em seu blog PaleoJudaica:

This article is not another top-ten list. It is much more nuanced and sophisticated. You should read it all.

Este artigo não é apenas outra lista das dez mais importantes descobertas feitas por arqueólogos israelenses. É muito mais elaborado. Vale a pena a leitura.

As novas armas da Rússia

Ninguém quis nos ouvir. Agora, nos ouvirão (…) Dediquem um momento de reflexão ao que aqui foi dito e feito. Descartem os que insistem em viver no passado. Parem de sacudir a canoa na qual viajamos todos, essa nossa Terra comum (Vladimir Putin – 01.03.2018).

As Novas Armas da Rússia – Organizado por Ruben Bauer Naveira – Jornal GGN

Discurso de Vladimir Putin perante a Assembleia Federal da Rússia em 01.03.2018

A série As Novas Armas da Rússia busca apresentar ao público brasileiro, em 5 artigos, a nova realidade mundial inaugurada pelo discurso do presidente da Rússia Vladimir Putin no dia primeiro de março de 2018, o qual marca uma ruptura histórica de consequências imensuráveis para todo o mundo, inclusive o Brasil.

As Novas Armas da Rússia (1): O discurso histórico de Putin (transcrição do discurso)

As Novas Armas da Rússia (2): Resumo das armas (compilação pela equipe do site SouthFront.org)

As Novas Armas da Rússia (3): Implicações militares (análise por Andrei Martyanov)

As Novas Armas da Rússia (4): Implicações políticas (análise por The Saker)

As Novas Armas da Rússia (5): Implicações para o Brasil (análise por Ruben Bauer Naveira)

Putin’s annual address to Federal Assembly (full video)

Livro do Lula: a verdade vencerá

O ebook do livro do Lula pode ser baixado gratuitamente aqui.

Luiz Inácio LULA da Silva, A verdade vencerá: O povo sabe por que me condenam. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2019, 256 p. – ISBN 9788575597446.

Luiz Inácio LULA da Silva, A verdade vencerá: O povo sabe por que me condenam. São Paulo: Boitempo, 2018, 216 p.

Diz o blog da editora Boitempo em 06/04/2018:

Diante de uma perseguição política sem precedentes, Lula lança livro para contar a sua versão da história. A Boitempo disponibiliza o e-book para download gratuito e livro físico em dobro no site!

Um livro necessário, uma leitura urgente. Diante de uma perseguição política sem precedentes, Lula lança livro para contar a sua versão da história.

Está disponível para download gratuito o e-book completo do livro A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O coração da obra são as 124 páginas, de um total de 216, que apresentam um retrato fiel do ex-presidente no presente contexto em formato de uma longa entrevista concedida aos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, ao professor de relações internacionais Gilberto Maringoni e à editora Ivana Jinkings, fundadora e diretora da editora Boitempo. Foram horas de conversa aberta e sem temas proibidos, divididas em três rodadas, que aconteceram no Instituto Lula, em São Paulo, nos dias 7, 15 e 28 de fevereiro.

Entre os principais temas discutidos, ganha destaque a análise inédita do ex-presidente sobre os bastidores políticos dos últimos anos e o que levou o Partido dos Trabalhadores a perder o poder após a reeleição de Dilma Rousseff. Lula também fala sobre as eleições de 2018 e suas perspectivas e esperanças para o País.

Organizada por Ivana Jinkings, com a colaboração de Gilberto Maringoni, Juca Kfouri e Maria Inês Nassif – e edição de Mauro Lopes –, a obra traz ainda textos de Eric Nepomuceno, Luis Fernando Verissimo, Luis Felipe Miguel e Rafael Valim. Além disso, a edição é acrescida de uma cronologia da vida de Lula, organizada pelo jornalista Camilo Vannuchi, texto de capa do historiador Luiz Felipe de Alencastro e dois cadernos com fotos históricas, dos tempos no sindicato à presidência, passando pelas recentes caravanas e manifestações de rua.

Para conhecer a história da antiga Palestina

WHITELAM, K. W. Revealing the History of Ancient Palestine: Changing Perspectives 8. Abingdon: Routledge, 2018, 416 p. – ISBN  9780815365914.

WHITELAM, K. W. Revealing the History of Ancient Palestine: Changing Perspectives 8. Abingdon: Routledge, 2018, 416 p.

This volume is part of the Changing Perspectives sub-series, which is constituted by anthologies of articles by world-renowned biblical scholars and historians that have made an impact on the field and changed its course during the last decades. This volume offers a collection of seminal essays by Keith Whitelam on the early history of ancient Palestine and the origins and emergence of Israel. Collected together in one volume for the first time, and featuring one unpublished article, this volume will be of interest to biblical and ancient Near Eastern scholars interested in the politics of historical representation but also on critical ways of constructing the history of ancient Palestine.

Table of Contents

Introduction, by Emanuel Pfoh

1. Recreating the History of Israel

2. The Emergence of Israel: Social Transformation and State Formation following the Decline in Late Bronze Age Trade (with R.B. Coote)

3. Israel’s Traditions of Origin: Reclaiming the Land

4. Between History and Literature: The Social Production of Israel’s Traditions of Origin

5. The Identity of Early Israel: The Realignment and Transformation of Late Bronze-Iron Age Palestine

6. Sociology or History: Towards a (Human) History of Ancient Palestine?

7. The Search for Early Israel: Historical Perspective

8. ‘Israel Is Laid Waste; His Seed Is No More’: What If Merneptah’s Scribes Were Telling the Truth?

9. Palestine during the Iron Age

10. The Poetics of the History of Israel: Shaping Palestinian History

11. Representing Minimalism: The Rhetoric and Reality of Revisionism

12. Transcending the Boundaries: Expanding the Limits

13. Imagining Jerusalem

14. Interested Parties: History and Ideology at the End of the Century

15. Resisting the Past: Ancient Israel in Western Memory

16. The Death of Biblical History

17. Architectures of Enmity

Index

 

Keith W. Whitelam

Keith W. Whitelam was previously Professor and Head of the Department of Religious Studies at the University of Stirling, UK, and later Professor and Head of the Department of Biblical Studies at the University of Sheffield, UK. He is also the founder and director for Sheffield Phoenix Press, specialising in the publication of research in biblical studies. His previous books include The Invention of Ancient Israel: The Silencing of Palestinian History (Routledge 1996), and The Emergence of Early Israel in Historical Perspective (with Robert B. Coote, 2010).

Leia Mais:
Pode uma ‘História de Israel’ ser escrita?
A História de Israel no debate atual

Iahweh e Asherá em Kuntillet ‘Ajrud

A descoberta é da década de 70 do século XX, mas o debate sobre o seu significado continua.

A Strange Drawing Found in Sinai Could Undermine Our Entire Idea of Judaism

Is that a 3,000-year-old picture of god, his penis and his wife depicted by early Jews at Kuntillet Ajrud?

By Nir Hasson – Haaretz: Apr 04, 2018

 

Em Kuntillet 'Ajrud: Iahweh e Asherá?

More than four decades after its excavation wound down, a small hill in the Sinai Desert continues to bedevil archaeologists. The extraordinary discoveries made at Kuntillet Ajrud, an otherwise nondescript slope in the northern Sinai, seem to undermine one of the foundations of Judaism as we know it.

Then, it seems, “the Lord our God” wasn’t “one God.” He may have even had a wife, going by the completely unique “portrait” of the Jewish deity that archaeologists found at the site, which may well be the only existing depiction of YHWH.

Kuntillet Ajrud got its name, meaning “the isolated hill of the water sources,” from wells at the foot of the hill. It is a remote spot in the heart of the desert, far from any town or or trade route. But for a short time around 3,000 years ago, it served as a small way station.

Dozens of drawings and inscriptions, resembling nothing whatever found anywhere else in our region, survived from that period, which seems to have lasted no longer than two or three decades. Egypt gained the artifacts with the peace treaty with Israel 25 years ago, but the release of the report on the excavation six years ago and a book about the site two years ago have kept the argument over the exceptional findings from the hill in Sinai alive.