Desde 30 de novembro está sendo realizada, em Paris, a XXI Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, também conhecida como Conferência das Partes (COP21), onde se busca chegar a um acordo que evite uma temperatura global acima dos 2ºC, pois, caso contrário, levar-nos-ia a ultrapassar o ponto de não retorno de uma espiral ascendente de consequências apocalípticas.
Francisco falou sobre o tema com os jornalistas na viagem de volta da África.
“Clima: a mudança é agora ou nunca mais. Estamos à beira do suicídio.” Entrevista com o Papa Francisco no voo de volta da África – IHU – 02/12/2015
Francisco dialoga fala com os jornalistas no voo de volta da África. “Se a humanidade não mudar, continuarão as misérias, as tragédias, as guerras, as crianças que morrem de fome, a injustiça.” Sobre o caso Vatileaks: “Foi um erro a nomeação de Vallejo e de Chaouqui”. “Os jornalistas fazem bem em denunciar a corrupção. Agradeço a Deus que não existe mais a Lucrécia Bórgia! Devemos continuar com os cardeais na obra de limpeza.” O reconhecimento à obra de Ratzinger. O fundamentalismo? “Existe em todas as religiões, mas não é religioso, é idolátrico”.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 30-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O mundo está à beira do suicídio e corre o risco de nele cair se não mudar decisivamente de rota ao enfrentar os problemas ligados às mudanças climáticas, fruto do atual modelo de desenvolvimento. Francisco disse isso dialogando com os jornalistas durante o voo de Bangui para Roma.
O papa também respondeu a algumas perguntas sobre o Vatileaks: “Foi um erro a nomeação de Vallejo Balda e de Chaouqui na comissão Cosea”. Francesco acrescentou um significativo reconhecimento da obra contra a corrupção iniciada por Ratzinger.
A entrevista
No Quênia, você encontrou as famílias pobres de Kangemi e ouviu as suas histórias de exclusão dos direitos humanos fundamentais, como a falta de acesso à água potável. O que sentiu ouvindo as suas histórias e o que é preciso fazer para pôr fim às injustiças?
Sobre esse problema eu falei várias vezes. Não recordo bem as estatísticas, mas acho que eu li que 80% da riqueza do mundo está nas mãos de 17% da população. Não sei se é verdade. É um sistema econômico que tem no centro o dinheiro, o deus dinheiro. Lembro que uma vez um embaixador não católico, falava francês, e me disse: “Nous son tombeé dans l’idolatrie dell’argent”. O que eu senti em Kangemi? Senti dor, uma grande dor! Ontem [domingo] fui ao hospital pediátrico, o único em Bangui e do país. Na terapia intensiva, eles não têm oxigênio, havia muitas crianças desnutridas. A doutora me disse: a maioria deles vai morrer, porque tem a malária forte e estão desnutridos. A idolatria é quando um homem ou uma mulher perdem a sua carteira de identidade, ou seja, ser filhos de Deus, e preferem buscar um Deus à sua própria medida. Este é o princípio: se a humanidade não mudar, continuarão as misérias, as tragédias, as guerras, as crianças que morrem de fome, a injustiça. O que pensa esse percentual que tem nas mãos 80% da riqueza do mundo? Isso não é comunismo, é verdade. E a verdade não é fácil de ver.
Qual foi o momento mais memorável da visita? Você voltará para a África? E qual será a sua próxima viagem?
Se as coisas forem bem, acho que a próxima viagem será ao México. As datas ainda não estão precisas. Se eu vou voltar para a África? Não sei. Estou idoso, as viagens são pesadas! O momento mais memorável: aquela multidão, aquela alegria, aquela capacidade de festejar, de fazer festa, mesmo tendo o estômago vazio. Para mim, a África foi uma surpresa. Deus sempre nos surpreende, mas a África também nos surpreende. Eu me lembro de tantos momentos, mas sobretudo a multidão… Eles se sentiram “visitados”, têm um senso da acolhida muito grande, e eu vi isso nas três nações. Depois, cada país tem a sua identidade: o Quênia é um pouco mais moderno e desenvolvido. A Uganda tem a identidade dos seus mártires: o povo ugandês, tanto os católicos quanto os anglicanos, venera os mártires. A República Centro-Africana tem vontade de paz, reconciliação, perdão. Eles viviam até quatro anos atrás entre católicos, protestantes, muçulmanos como irmãos. Ontem eu fui aos evangélicos, que trabalham tão bem, e depois eles vieram à missa. Hoje [segunda-feira], eu fui à mesquita, rezei na mesquita, o imã subiu no papamóvel para dar uma pequena volta entre os refugiados. Há um pequeno grupo muito violento, acho que cristão ou que se diz cristão, mas não é o Isis, é outra coisa [os anti-Balaka]. Agora, serão feitas as eleições, eles escolheram um presidente de transição, uma mulher presidente, e buscam a paz: nada de ódio.
Hoje se fala muito do Vatileaks. Sem entrar no mérito do processo, gostaria de lhe perguntar: qual é a importância da imprensa livre e laica para erradicar a corrupção?
A imprensa livre, laica e também confessional deve ser profissional. O importante é que sejam profissionais, e que as notícias não sejam manipuladas. Para mim, é importante, porque a denúncia das injustiças e das corrupções é um belo trabalho. A imprensa profissional deve dizer tudo, mas sem cair nas três pecados mais comuns: a desinformação, ou seja, dizer só a metade da verdade e não a outra; a calúnia, quando a imprensa não profissional suja as pessoas; a difamação, que é dizer coisas que tiram a reputação de uma pessoa. Esses são os três defeitos que atentam contra a profissionalidade da imprensa. Precisamos de profissionalidade. E sobre a corrupção: ver bem os dados e dizer as coisas. “Há corrupção aqui por causa disto, disto e disto.” Depois, um verdadeiro jornalista, se erra, pede desculpas.
O fundamentalismo religioso ameaça o planeta inteiro, vimos isso com os atentados de Paris. Diante desse perigo, você pensa que os líderes religiosos devem intervir mais no campo político?
Se intervir no campo político significa fazer política, não. Sejam padres, pastores, imãs, rabinos. Mas que se faça política indiretamente, pregando os valores, os valores verdadeiros, e um dos maiores valores é a fraternidade entre nós. Somos todos filhos de Deus, temos o mesmo Pai. Eu não gosto da palavra tolerância, devemos fazer convivência, amizade. O fundamentalismo é uma doença que existe em todas as religiões. Nós, católicos, temos alguns – muitos – que acreditam ter a verdade absoluta e vão em frente sujando os outros com a calúnia, a difamação e fazem mal. Digo isso porque é a minha Igreja. O fundamentalismo religioso deve ser combatido. Não é religioso, falta Deus, é idolátrico. Convencer as pessoas que têm essa tendência: eis o que devem fazer os líderes religiosos. O fundamentalismo que acaba em tragédia ou comete crimes é uma coisa ruim, mas acontece em todas as religiões.
Como foi possível a nomeação do Mons. Lucio Anjo Vallejo Balda e de Francesca Chaouqui na comissão Cosea? Você acha que cometeu um erro?
Foi feito um erro. Vallejo entrou por causa do cargo que tinha e que teve até agora: ele era o secretário da Prefeitura para os Assuntos Econômicos. Quando ela entrou? Não tenho certeza, mas acho que não me engano se eu disser que foi ele que a apresentou como uma mulher que conhecia o mundo das relações comerciais. Eles trabalharam e, acabou o trabalho, os membros da Cosea permaneceram em alguns postos no Vaticano. A senhora Chaouqui não permaneceu no Vaticano: alguns dizem que ela se irritou com isso. Os juízes nos dirão a verdade sobre as intenções deles, como eles fizeram. Para mim, não foi uma surpresa, não me tirou o sono, porque mostraram o trabalho que se começou com a comissão dos nove cardeais, o de buscar a corrupção e as coisas que estão erradas. Quero dizer uma coisa, não sobre Vallejo e Chaouqui. Treze dias antes da morte de São João Paulo II, durante a Via Sacra, o então cardeal Ratzinger falou da sujeira da Igreja. Ele a denunciou por primeiro. Depois, João Paulo II morreu, e Ratzinger, que era decano, na “pro eligendo Pontifice”, falou da mesma coisa. Nós o elegemos por causa dessa sua liberdade de dizer as coisas. É desde aquele tempo que está no ar que há corrupção no Vaticano. Quanto ao processo: eu não li as acusações concretas. Deveria terminar antes do Jubileu, mas acho que não se poderá fazer isso, porque eu gostaria que todos os advogados da defesa tenham tempo para desenvolver o seu trabalho e que haja liberdade de defesa.
Como proceder para que esses fatos não voltem a ocorrer?
Eu agradeço a Deus que não haja mais a Lucrécia Bórgia! Mas devemos continuar com os cardeais e as comissões a obra de limpeza.
A Aids atinge duramente a África, a epidemia continua. Sabemos que a prevenção é a chave e que o preservativo não é o único meio para parar a epidemia, mas é uma parte importante da resposta. Talvez não chegou o tempo de mudar a posição da Igreja para permitir o uso dos preservativos para evitar novas infecções?
A pergunta me parece parcial. Sim, é um dos métodos. A moral da Igreja, sobre esse ponto, se encontra diante de uma perplexidade. Ou o quinto ou o sexto mandamento: defender a vida ou a relação sexual aberta à vida. Mas esse não é o problema. O problema é maior: essa pergunta me faz pensar naquela que fizeram uma vez a Jesus: “Diga-me, Mestre, é lícito curar no sábado?”. É obrigatória curar! A desnutrição, a exploração, o trabalho em escravidão, a falta de água potável, esses são os problemas. Não falamos se se pode usar este curativo para tal ferida. A grande injustiça é uma injustiça social, a grande injustiça é a desnutrição. Eu não gosto de descer para reflexões casuísticas quando as pessoas morrem por falta de água e por fome. Pensemos no tráfico de armas. Quando não houver mais esses problemas, acho que se poderá fazer a pergunta: é lícito curar no sábado? Por que as armas continuam sendo fabricadas? As guerras são o maior motivo de mortalidade. Não pensar sobre se é lícito ou não é lícito curar no sábado. Façam justiça, e, quando todos estiverem curados, quando não houver injustiça neste mundo, podemos falar do sábado.
Qual é a posição do Vaticano sobre a crise que se abriu entre Rússia e Turquia? Você pensou em ir para a Armênia para os 101 anos do massacre dos armênios?
No ano passado, eu prometi aos três patriarcas que iria. A promessa existe. Depois, vêm as guerras: vêm por ambição. Não falo daquelas feitas para se defender justamente de uma injusta agressão. As guerras são uma indústria. Na história, vimos muitas vezes que um país com o orçamento que não vai bem decide fazer uma guerra e, assim, coloca o orçamento no seu lugar. A guerra é um negócio. Os terroristas fabricam armas? Quem lhes dá as armas? Há toda uma rede de interesses, e por trás há o dinheiro ou o poder. Há anos, nós estamos em uma guerra mundial em pedaços, e todas as vezes os pedaços são cada vez menos pedaços e são cada vez maiores. Não sei o que o Vaticano pensa. O que eu penso? Que as guerras são um pecado, destroem a humanidade, são a causa da exploração, tráfico de pessoas. Devem ser paradas. Para as Nações Unidas, por duas vezes, eu disse essa palavra, tanto em Nova York quanto no Quênia: que o trabalho de vocês não seja um nominalismo declamatório. Aqui na África, eu vi como trabalham os Capacetes Azuis, mas isso não é suficiente. As guerras não são de Deus. Deus é o Deus da paz, criou o mundo todo bonito. Depois, lemos na Bíblia que o irmão mata outro irmão: a primeira guerra mundial. E eu digo isso com muita dor.
Inicia nesta segunda-feira, em Paris, a COP-21, a conferência sobre as mudanças climáticas. Nós esperamos que possa ser o início da solução. Você está certo de que serão dados alguns passos?
Eu não estou certo, mas posso lhe dizer: agora ou nunca mais. Acho que a primeira conferência foi realizada em Kyoto… fez-se pouco. A cada ano, os problemas são cada vez mais graves. Falando em uma reunião de universitários sobre que mundo nós queremos deixar aos nossos filhos, um jovem disse: mas você tem certeza de que haverá filhos desta geração? Estamos no limite de um suicídio, para dizer uma palavra forte, e tenho certeza de que quase a totalidade daqueles que estão em Paris têm essa consciência e querem fazer alguma coisa. No outro dia, eu li que na Groenlândia as geleiras perderam bilhões de toneladas. No Pacífico, há um país que está comprando outro país para se mudar, porque, dentro de 20 anos, não vai mais existir [por causa da elevação do nível do mar]… Eu tenho confiança nessas pessoas, tenho confiança de que se fará alguma coisa. Espero que seja assim e rezo por isso.
Você fez muitos gestos de amizade e respeito para com os islâmicos. O que o Islã e os ensinamentos de Maomé dizem ao mundo de hoje?
Pode-se dialogar, eles têm tantos valores, e esses valores são construtivos. Eu também tenho a experiência de amizade com um islâmico, um dirigente mundial. Podemos falar. Você tem os seus valores, e eu, os meus, você reza, e eu rezo. Tantos valores: a oração, o jejum. Não pode apagar uma religião, porque há alguns ou muitos grupos fundamentalistas em um certo momento da história. É verdade, as guerras entre religiões sempre existiram. Também nós devemos pedir perdão: Catarina de Médici, que não era uma santa, e aquela Guerra dos Trinta Anos, a noite de São Bartolomeu… Devemos pedir perdão também nós. Mas eles têm valores, pode-se dialogar. Hoje, eu estive na mesquita, o imã quis vir comigo. No papamóvel estavam o papa e o imã. Quantas guerras nós, cristãos, fizemos? O saque de Roma não foi feito pelos muçulmanos.
Sabemos que você visitará o México. Pretende ir também para a Colômbia ou Peru?
As viagens, na minha idade, não fazem bem, deixam rastros. Eu vou para o México e, em primeiro lugar, vou visitar a Senhora, a Mãe da América [Nossa Senhora de Guadalupe]. Se não fosse por Ela, eu não iria para a Cidade do México pelo critério da viagem: visitar três ou quatro cidades que nunca foram visitadas pelos papas. Depois, vou para Chiapas, depois para Morelia e, quase certamente, no caminho de volta para Roma, haverá um dia para Ciudad Juarez. Sobre os outros países latino-americanos: em 2017, fui convidado para ir a Aparecida, a outra padroeira da América de língua portuguesa, e de lá se pode visitar algum outro país. Mas não sei, não há planos.
Essa foi a sua primeira visita, e todos estavam preocupados com a segurança. O que você diz ao mundo que pensa que a África é apenas vítimas de guerras e destruição?
A África é vítima, a África sempre foi explorada por outras potências. Os escravos da África eram vendidos na América. Há potências que buscam apenas tomar as grandes riquezas da África, talvez o continente mais rico, mas não pensam em ajudar os países a crescer, não pensam em fazer com que todos possam trabalhar. A África é mártir da exploração. Aqueles que dizem que da África vêm todas as calamidades e todas as guerras não conhecem bem o dano que certas formas de desenvolvimento fazem à humanidade. E, por isso, eu amo a África, porque foi vítima de outras potências.
No fim, depois de agradecer novamente aos jornalistas pelo seu trabalho realizado durante a viagem, o pontífice fez a seguinte conclusão sobre a entrevista recém-terminada: “Eu respondo aquilo que eu sei, e o que não sei eu não digo, não invento”.
Il Papa: “Clima: si cambi ora o mai più. Siamo al limite del suicidio” – Andrea Tornielli – Vatican Insider – 30/11/2015
Francesco dialoga con i giornalisti sul volo di ritorno dall’Africa. «Se l’umanità non cambia continueranno le miserie, le tragedie, le guerre, i bambini che muoiono di fame, l’ingiustizia». Caso Vatileaks: «E’ stato un errore la nomina di Vallejo e della Chaouqui». «I giornalisti fanno bene a denunciare la corruzione. Ringrazio Dio che non ci sia più Lucrezia Borgia! Dobbiamo continuare con i cardinali l’opera di pulizia». Il riconoscimento all’opera di Ratzinger. Il fondamentalismo? «C’è in tutte le religioni, ma non è religioso, è idolatrico»
Il mondo è sull’orlo del suicidio e rischia di precipitarvi se non cambia decisamente strada nell’affrontare i problemi legati al cambiamento climatico e frutto dell’attuale modello di sviluppo. L’ha detto Francesco dialogando con i giornalisti durante il volo da Bangui a Roma. Il Papa ha risposto anche a un paio di domande su Vatileaks: «E’ stato un errore la nomina di Vallejo Balda e della Chaouqui nella commissione Cosea». Francesco ha aggiunto un significativo riconoscimento dell’opera contro la corruzione iniziata da Ratzinger.
In Kenya ha incontrato le famiglie povere di Kangemi e ha ascoltato le loro storie di esclusione dai diritti umani fondamentali come la mancanza di accesso all’acqua potabile. Che cosa ha provato sentendo le loro storie e che cosa bisogna fare per porre fine alle ingiustizie?
«Su questo problema ho parlato varie volte. Non ricordo bene le statistiche, ma mi sembra di aver letto che l’80 per cento della ricchezza del mondo è nelle mani del 17 per cento della popolazione. Non so se è vero. È un sistema economico che ha al centro il denaro, il dio denaro. Ricordo una volta un ambasciatore non cattolico, parlava francese e mi ha detto: “Nous son tombeé dans l’idolatrie dell’argent”. Cosa ho provato a Kangemi? Ho sentito dolore, un grande dolore! Ieri sono andato all’ospedale pediatrico, l’unico di Bangui e del Paese. In terapia intensiva non hanno l’ossigeno, c’erano tanti bambini malnutriti. La dottoressa mi ha detto: la maggioranza di loro moriranno perché hanno la malaria forte e sono malnutriti. L’idolatria è quando un uomo o una donna perdono la propria carta d’identità, cioè l’essere figli di Dio e preferiscono cercarsi un Dio a propria misura. Questo è il principio: se l’umanità non cambia continueranno le miserie, le tragedie, le guerre, i bambini che muoiono di fame, l’ingiustizia. Cosa pensa questa percentuale che ha nelle mani l’ottanta per cento della ricchezza del mondo? Questo non è comunismo, è verità. E la verità non è facile vederla».
Qual è stato il momento più memorabile della visita? Tornerà in Africa e quale sarà il suo prossimo viaggio?
«Se le cose vanno bene credo che il prossimo viaggio sarà in Messico, le date non sono ancora precise. Tornerò in Africa? Non lo so. Io sono anziano, i viaggi sono pesanti! Il momento più memorabile: quella folla, quella gioia, quella capacità di festeggiare, di far festa pur avendo lo stomaco vuoto. Per me l’Africa è stata una sorpresa. Dio sempre ci sorprende, ma anche l’Africa ci sorprende. Ricordo tanti momenti, ma soprattutto la folla… Si sono sentiti “visitati”, hanno un senso dell’accoglienza molto grande, e io l’ho visto nelle tre nazioni. Poi, ogni Paese ha la sua identità: il Kenya è un po’ più moderno e sviluppato. L’Uganda ha l’identità dei suoi martiri: il popolo ugandese, sia i cattolici che gli anglicani, venera i martiri. La Repubblica Centrafricana ha voglia di pace, riconciliazione, perdono. Loro hanno vissuto fino a quattro anni fa tra cattolici, protestanti, islamici, come fratelli. Ieri sono andato dagli evangelici che lavorano tanto bene e poi sono venuti a messa. Oggi sono andato in moschea, ho pregato in moschea, l’Imam è salito sulla papamobile per fare un piccolo giro tra i profughi. C’è un piccolo gruppetto molto violento, credo cristiano o che si dice cristiano, ma non è l’Isis, è un’altra cosa (gli anti-Balaka, ndr). Adesso si faranno le elezioni, hanno scelto un Presidente di transizione, una donna presidente e cercano la pace: niente odio».
Oggi si parla molto di Vatileaks. Senza entrare nel merito del processo in corso, vorrei chiederle: qual è l’importanza della stampa libera e laica per sradicare la corruzione?
«La stampa libera, laica e anche confessionale, deve essere professionale. L’importante è che siano professionisti e che le notizie non vengano manipolate. Per me è importante perché la denuncia delle ingiustizie e delle corruzioni è un bel lavoro. La stampa professionale deve dire tutto, ma senza cadere nei tre peccati più comuni: la disinformazione, cioè dire solo metà della verità e non l’altra; la calunnia, quando la stampa non professionale sporca le persone; la diffamazione che è dire cose che tolgono la reputazione a una persona. Questi sono i tre difetti che attentano alla professionalità della stampa. Abbiamo bisogno di professionalità. E sulla corruzione: vedere bene i dati e dire le cose. “C’è corruzione qui per questo, questo e questo”. Poi, un vero giornalista professionista, se sbaglia chiede scusa».
Il fondamentalismo religioso minaccia il pianeta intero, lo abbiamo visto con gli attentati di Parigi. Di fronte a questo pericolo lei pensa che i leader religiosi debbano intervenire di più in campo politico?
«Se intervenire in campo politico vuol dire fare politica, no. Facciano il prete, il pastore, l’imam, il rabbino. Ma si fa politica indirettamente predicando i valori, i valori veri, e uno dei valori più grande è la fratellanza tra noi. Siamo tutti figli di Dio, abbiamo lo stesso Padre. Non mi piace la parola tolleranza, dobbiamo fare convivenza, amicizia. Il fondamentalismo è una malattia che c’è in tutte le religioni. Noi cattolici ne abbiamo alcuni, – tanti – che credono di avere la verità assoluta e vanno avanti sporcando gli altri con la calunnia, la diffamazione, e fanno male. Questo lo dico perché è la mia Chiesa. Il fondamentalismo religioso si deve combattere. Non è religioso, manca Dio, è idolatrico. Convincere la gente che ha questa tendenza: ecco cosa devono fare i leader religiosi. Il fondamentalismo che finisce in tragedia o commette reati è una cosa cattiva, ma avviene in tutte le religioni».
Com’è stata possibile la nomina di monsignor Lucio Angel Vallejo Balda e di Francesca Chaouqui nella commissione Cosea? Pensa di aver commesso un errore?
«È stato fatto un errore. Vallejo è entrato per la carica che aveva e che ha avuto fino ad ora: era il segretario della Prefettura degli Affari economici. Come è entrata lei? Non sono sicuro, ma credo di non sbagliare se dico che è stato lui a presentarla come una donna che conosceva il mondo dei rapporti commerciali. Hanno lavorato e quando è finito il lavoro, i membri della Cosea sono rimasti in alcuni posti in Vaticano. La signora Chaouqui non è rimasta in Vaticano: alcuni dicono che si è arrabbiata per questo. I giudici ci diranno la verità sulle loro intenzioni, come l’hanno fatto. Per me non è stata una sorpresa, non mi ha tolto il sonno, perché hanno fatto vedere il lavoro che si è cominciato con la commissione dei nove cardinali, quello di cercare la corruzione e le cose che non vanno. Voglio dire una cosa, non su Vallejo e Chaouqui. Tredici giorni prima della morte di san Giovanni Paolo II, durante la Via Crucis, l’allora cardinale Ratzinger ha parlato della sporcizia della Chiesa. Lui ha denunciato per primo. Poi muore Giovanni Paolo II, e Ratzinger, che era decano, nella messa “pro eligendo Pontifice”, ha parlato della stessa cosa. Noi lo abbiamo eletto per questa sua libertà di dire le cose. È da quel tempo che è nell’aria che in Vaticano c’è corruzione. In quanto al processo: non ho letto le accuse concrete. Dovrebbe finire prima del Giubileo, ma credo che non si potrà fare perché vorrei che tutti gli avvocati della difesa abbiano il tempo di svogere il loro lavoro e che ci sia libertà di difesa».
Come procedere perché questi fatti non si verifichino più?
«Io ringrazio Dio che non ci sia più Lucrezia Borgia! Ma dobbiamo continuare con i cardinali e le commissioni l’opera di pulizia».
L’AIDS colpisce duramente in Africa, l’epidemia continua. Sappiamo che la prevenzione è la chiave e che il condom non è l’unico mezzo per fermare l’epidemia ma è una parte importante della risposta. Non è forse il tempo di cambiare la posizione della Chiesa per permettere l’uso dei preservativi per evitare nuove infezioni?
«La domanda mi sembra parziale. Sì è uno dei metodi, la morale della Chiesa si trova su questo punto di fronte a una perplessità. O il quinto o il sesto comandamento: difendere la vita o il rapporto sessuale aperto alla vita. Ma questo non è il problema. Il problema è più grande: questa domanda mi fa pensare a quella che fecero una volta a Gesù: “Dimmi Maestro, è lecito guarire di sabato?”. È obbligatorio guarire! La malnutrizione, lo sfruttamento, il lavoro in schiavitù, la mancanza di acqua potabile, questi sono i problemi. Non parliamo se si può usare tale cerotto per una tale ferita. La grande ingiustizia è una ingiustizia sociale, la grande ingiustizia è la malnutrizione. Non mi piace scendere a riflessioni casistiche quando la gente muore per mancanza di acqua e per fame. Pensiamo al traffico delle armi. Quando non ci saranno più questi problemi credo che si potrà fare la domanda: è lecito guarire di sabato? Perché si continuano a fabbricare armi? Le guerre sono il motivo di mortalità più grande. Non pensare se è lecito o non è lecito guarire di sabato. Fate giustizia, e quando tutti saranno guariti, quando non ci sarà l’ingiustizia in questo mondo possiamo parlare del sabato».
Qual è la posizione del Vaticano sulla crisi che si è aperta tra Russia e Turchia? Lei ha pensato di andare in Armenia per i 101 anni del massacro degli armeni?
«L’anno scorso ho promesso ai tre patriarchi di andare. La promessa c’è. Poi arrivano le guerre: vengono per ambizione. Non parlo di quelle fatte per difendersi giustamente da un’ingiusta aggressione. Le guerre sono una industria, nella storia abbiamo visto tante volte che un Paese con il bilancio che non va bene decide di fare una guerra e così mette a posto il bilancio. La guerra è un affare. I terroristi, loro fabbricano le armi? Chi dà loro le armi? C’è tutta una rete di interessi, dove dietro ci sono i soldi, o il potere. Noi da anni siamo in una guerra mondiale a pezzi e ogni volta i pezzi sono meno pezzi e sono sempre più grandi. Il Vaticano non so che cosa pensa. Che cosa penso io? Che le guerre sono un peccato, distruggono l’umanità, sono la causa di sfruttamento, traffico di persone. Si devono fermare. Alle Nazioni Unite per due volte ho detto questa parola, sia a New York, sia in Kenya: che il vostro lavoro non sia un nominalismo declamatorio. Qui in Africa ho visto come lavorano i Caschi Blu ma questo non è sufficiente. Le guerre non sono di Dio, Dio è il Dio della pace, ha creato il mondo tutto bello. Poi leggiamo nella Bibbia che il fratello ammazza un altro fratello: la prima guerra mondiale. E lo dico con molto dolore»
Si apre oggi a Parigi COP21, la conferenza sul cambio climatico. Noi speriamo che possa essere l’inizio della soluzione, lei è sicuro che si faranno dei passi avanti?
«Io non sono sicuro, ma posso dirle: adesso o mai più. La prima conferenza credo che si sia tenuta a Kyoto… si è fatto poco. Ogni anno i problemi sono più gravi. Parlando in una riunione di universitari su quale mondo noi vogliamo lasciare ai nostri figli, un ragazzo ha detto: ma lei è sicuro che ci saranno figli di questa generazione? Siamo al limite di un suicidio per dire una parola forte e io sono sicuro che quasi la totalità di quelli che sono a Parigi hanno questa coscienza e vogliono fare qualcosa. L’altro giorno ho letto che in Groenlandia i ghiacciai hanno perso miliardi di tonnellate. Nel Pacifico c’è un Paese che sta comprando un altro Paese per traslocare perché entro 20 anni non ci sarà più (a causa dell’innalzamento del livello del mare, ndr)… Ho fiducia in questa gente, ho fiducia che faccia qualcosa. Mi auguro che sia così e prego per questo».
Lei ha compiuto molti gesti di amicizia e rispetto nei confronti degli islamici. Che cosa dicono l’Islam e gli insegnamenti di Maometto al mondo di oggi?
«Si può dialogare, loro hanno tanti valori, e questi valori sono costruttivi. Anche io ho l’esperienza di amicizia con un islamico, un dirigente mondiale. Possiamo parlare. Lui ha i suoi valori e io i miei, lui prega e io prego. Tanti valori: la preghiera, il digiuno. Non si può cancellare una religione perché ci sono alcuni o molti gruppi di fondamentalisti in un certo momento della storia. È vero, le guerre tra religioni ci sono sempre state, anche noi dobbiamo chiedere perdono: Caterina di Medici che non era un santa e quella guerra dei trent’anni, quella notte di San Bartolomeo… Dobbiamo chiedere perdono anche noi. Ma loro hanno valori, si può dialogare. Oggi sono stato in moschea, l’Imam ha voluto venire con me, sulla papamobile c’erano il Papa e l’Imam. Quante guerre abbiamo fatto noi cristiani? Il sacco di Roma non l’hanno fatto i musulmani».
Sappiamo che visiterà il Messico. Pensa di andare anche in Colombia o in Perù?
«I viaggi alla mia età non fanno bene, lasciano traccia. Vado in Messico e per prima cosa vado a visitare la Signora, la Madre dell’America (la Madonna di Guadalupe, ndr), se non era per Lei non sarei andato a Città del Messico per il criterio del viaggio: visitare tre o quattro città che non siano mai state visitate dai Papi. Poi andrò in Chiapas, poi a Morelia e quasi sicuramente sulla via del rientro a Roma ci sarà una giornata a Ciudad Juarez. Su altri Paesi latinoamericani: nel 2017 sono stato invitato ad andare ad Aparecida, l’altra Patrona d’America di lingua portoghese, e di là si potrà visitare qualche altro Paese, ma non so, non ci sono piani».
Questa è stata la sua prima visita e tutti erano preoccupati per la sicurezza. Che cosa dice al mondo che pensa che l’Africa sia soltanto vittima di guerre e distruzione?
«L’Africa è vittima, l’Africa è sempre stata sfruttata da altre potenze, gli schiavi dall’Africa venivano venduti in America. Ci sono potenze che cercano solo di prendere le grandi ricchezze dell’Africa, forse il continente più ricco, ma non pensano di aiutare a crescere i Paesi, non pensano a far sì che tutti possano lavorare. L’Africa è martire dello sfruttamento. Quelli che dicono che dall’Africa vengono tutte le calamità e tutte le guerre non conoscono bene il danno che fanno all’umanità certe forme di sviluppo. E per questo io amo l’Africa, perché è stata una vittima di altre potenze».
Alla fine il Pontefice, dopo aver ringraziato nuovamente i giornalisti per il lavoro svolto durante il viaggio, ha concluso a proposito dell’intervista appena terminata: «Rispondo quello che so e quello che non so non lo dico, non invento».