Está em Notícias – IHU On-Line de 16/11/2008: Sínodo dos Bispos atualizou o Concílio Vaticano II. Entrevista especial com Johan Konings
Konings, Mestre em Filologia Bíblica, 1968, e Doutor em Teologia pela Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica, 1972, é coordenador de nosso grupo de estudos bíblicos que se reúne em Belo Horizonte, os “Biblistas Mineiros“. É Professor da FAJE, Faculdade Jesuita de Filosofia e Teologia, de Belo Horizonte, MG.
Konings participou do Sínodo como assessor, e faz, nesta entrevista, uma avaliação bastante positiva do que lá aconteceu. Destaco três trechos da entrevista:
:: (…) “O Sínodo [realizado de 5 a 26 de outubro] de 2008 teve como tema: ‘A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja’. Nota-se a intenção de continuar e de atualizar o Concílio, insistindo na ‘missão’, termo que não estava no texto do Concílio. Pois desde o Concílio percebeu-se que missão não é apenas ir aos indígenas da Amazônia, mas às tribos de nossa juventude urbana e aos pagãos de nossas avenidas e campi universitários. Olhando assim, achei o Sínodo fabuloso. Foi uma oportunidade para, através da voz de 253 bispos, eleitos por seus confrades de cada região, conhecer a situação e os projetos das mais diversas regiões onde a Igreja está presente neste mundo globalizado. E pode-se dizer que não se deu um passo para trás em relação ao Concílio, mas que, pelo contrário, se mostrou uma vontade unânime de avançar”.
:: (…) “Nas proposições, ou seja, nas sugestões votadas em plenário para serem apresentadas ao Papa, aparecem claros avanços: o desejo de que a Bíblia seja mais divulgada, estudada com os devidos métodos científicos que a Igreja vem fomentando com toda a força nos últimos cinqüenta anos, claramente expostos no importantíssimo documento da Pontifícia Comissão Bíblica de 1993; o desejo de que o estudo leve à contemplação, à oração e à prática da comunhão fraterna; a valorização do trabalho dos leigos, dos agentes de pastoral bíblica, especialmente das mulheres, para as quais se pede seja estendida a ordenação ao ministério de leitorato; que os pobres sejam ‘artífices de sua própria história’, impulsionados pela Palavra de Deus acolhida nas suas comunidades; que a Bíblia esteja em todas as famílias, inclusive nas línguas dos povos pequenos e pobres; que a pastoral bíblica não seja uma pastoral ao lado das outras, mas a inspiração que permeie todas as pastorais; que finalmente se leve a sério o enriquecimento bíblico da Liturgia a partir do Vaticano II e o valor de uma homilia bem preparada pelo estudo e pela oração – além de bem proferida; essas e tantas outras foram expressões do desejo praticamente unânime dos bispos de avançar na linha do Concílio Vaticano II”.
:: “Quanto à hermenêutica ou interpretação, toda escuta e toda leitura é uma interpretação, pois senão, não se entende nada. Os fundamentalistas pensam que eles não interpretam, mas interpretam sem que saibam, e reforçam interpretações subliminares sem se darem conta disso. Ora, interpretação sempre tem uma dupla interface – por isso se chama ‘inter’-pretação: é interlocução, mediação entre o texto que representa o evento Jesus no seu momento fundador, abordado com métodos históricos e literários, e o nosso texto de hoje, o texto de nossa vida, em nossa sociedade, em nosso mundo político-econômico-social-cultural-ecológico etc., assimilado com a nossa psicologia pessoal e coletiva. Colocar tudo isso em diálogo é hermenêutica, é leitura. Também no caso da Bíblia”.