Grande Sertão: Veredas – Travessias

Grande Sertão: Veredas. Travessias

Revista IHU On-Line Edição 538 | 05 Agosto 2019Grande Sertão: Veredas. Travessias - IHU On-Line Edição 538 | 05 Agosto 2019

Editorial

Travessia. Essa é a outra forma que Guimarães Rosa encontrou de nos ensinar a escrever e dizer a palavra vida. A última palavra de sua obra Grande Sertão: Veredas é que liga o fio do tempo, o passado e o presente, de um Brasil, que tanto antes como agora, é o país que poderia ter sido, mas nunca foi. A jagunçagem, para usar um termo do autor, é uma forma política presente em muitas instâncias e nos joga diante de desafios e contradições enormes. Para tratar de literatura e do Brasil atual, oito especialistas se debruçam sobre a obra de Guimarães Rosa. A capa desta edição é assinada pela artista Anna Cunha.

Faustino Teixeira, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, faz uma apresentação da obra em perspectiva com vários autores e leituras de Guimarães Rosa.

Kathrin Rosenfield, professora nos programas de pós-graduação em Letras e em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, fala sobre o dilaceramento existencial brasileiro em Grande sertão: veredas. “Um terceiro alicerce para a tradição imaginária brasileira seria a recuperação artística da musicalidade das falas regionais e das suas saborosas metáforas concretas.”

Willi Bolle, professor titular de Literatura na Universidade de São Paulo – USP, lembra que “enquanto Gilberto Freyre usa o símbolo de um entrelaçamento harmonioso (&) entre senhores e escravos, Guimarães Rosa, através dos dois pontos ( : ) acentua o antagonismo entre os donos de territórios e casas ‘grandes’ e os que moram em casebres nas ‘veredas’”.

Marcia Marques de Morais, professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, faz uma leitura da obra de Guimarães Rosa em chave psicanalítica. “Guimarães Rosa trata a linguagem, essa sim, a verdadeira protagonista de sua obra. Esse trato, para além de ser um traço lúdico a apresentar desafios para o leitor, piscadelas do autor em direção a seu leitor, é, sem dúvida, propiciador do enlace entre literatura e psicanálise.”

Eduardo de Faria Coutinho, um dos mais renomados acadêmicos em Literatura Comparada e professor titular da disciplina na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, escreve sobre o convite ao pensar ético que Guimarães Rosa convoca. “Sufocado por um cotidiano calcado na continuidade, que se expressa pela repetição mecânica de atos e gestos, o homem, e em particular o adulto comum, não percebe a automatização a que se sujeita.”

Adair de Aguiar Neitzel, professora titular da Universidade do Vale do Itajaí – Univali, discute as mulheres rosianas. “É pelas mãos de Diadorim que Riobaldo passa do estado físico para o estético e deste para o Moral. Mas é uma relação marcada pela ambiguidade, contradição, angústia de estar se envolvendo com um homem. Essa tensão que se estabelece entre ambos, por conta de uma paixão impossível na jagunçagem, torna esse amor uma neblina.”

Eduardo Guerreiro Brito Losso, professor associado de Teoria Literária do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura da UFRJ, relaciona a literatura de Guimarães Rosa à mística. “Pois acho, justamente, que a defesa de Rosa do predomínio da dimensão metafísico-religiosa de sua obra tem a ver com o desejo dele de mexer com esse perigo, já que, se tem alguém que gosta de perigos, é ele.”

Terezinha Maria Scher Pereira, professora da UFJF, relata a multiplicidade de Guimarães Rosa. “No Grande sertão: veredas, o processo é uma reflexão filosófica, existencial, para pôr em questão o panorama cultural da razão moderna, no momento do processo desenvolvimentista do Brasil do século XX.”

Este numero da revista contou com a importante e fundamental parceria do Prof. Dr. Faustino Teixeira, a quem agradecemos a generosa contribuição.

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