O artigo
New Perspectives on Amos: The Vision Reports in 7:1–8:2
By Göran Eidevall – Professor of Hebrew Bible – University of Uppsala, Sweden
The Bible and Interpretation – January 2018
To sum up, I contend that the vision reports in Amos 7–8 cannot be dated to the 8th century. Rather, they appear to be literary products from the post-monarchic period. But why would someone add such “pseudepigraphic” material, presented as visions seen by Amos himself? I suggest, and here I agree with Georg Steins, that the vision reports represent profound theological reflections, in an attempt to cope with the catastrophe that took place in 586 BCE.
Em síntese, sustento que as narrativas de visões em Amós 7-8 não podem ser datadas no século VIII a.C. Na verdade, elas parecem ser uma produção literária pós-monárquica. Mas por que alguém acrescentaria este material “pseudepígrafo” como sendo visões tidas pelo próprio profeta Amós? Eu sugiro, e aqui concordo com Georg Steins, que as narrativas de visão representam profundas reflexões teológicas na tentativa de lidar com a catástrofe ocorrida em 586 a.C.
O livro
EIDEVALL, G. Amos: A New Translation with Introduction and Commentary. New Haven, CT: Yale University Press, 2017, 312 p. – ISBN 9780300178784.
As part of the Hebrew Bible, the Book of Amos has been studied for more than two thousand years. This much-needed new edition includes an updated English translation of the Hebrew text and an insightful commentary. While previous scholarship speculated on reconstructions of the life of Amos, Eidevall analyzes this prophetic book as a literary composition, rejecting the conventional view of the book of Amos’s origin and providing a new rationalization for the form and meaning of the text.
Em meu livro A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. [2011, download pdf] escrevi nas páginas 37-38:
Muitos especialistas acreditam que para se captar bem a mensagem de Amós devemos começar sua leitura pelas cinco visões simbólicas, narradas em Am 7,1-3; 7,4-6; 7,7-9; 8,1-3; 9,1-4. Isto porque estas visões constituiriam os sinais que o profeta percebe no cotidiano da vida e que simbolizam a situação da nação israelita. O que acaba determinando sua decisão de anunciar o castigo e a ruína do país, dizem alguns[1].
Quer dizer: de certo modo, as visões preenchem, em Amós, o mesmo papel dos textos de vocação em Isaías, Jeremias ou Ezequiel.
“Trata-se de uma trajetória vocacional. Amós percorre todo um caminho visionário. As próprias visões deixam entrever isso, com bastante nitidez. A visão dos gafanhotos (cf. 7,1-3) cabe no início do ano agrícola. A da seca (cf. 7,4-6), em pleno verão. A do cesto (cf. 8,1-3), dá-se no outono. Estas visões cobrem, no mínimo, meio ano. Talvez seja o período em que Amós é preparado, de modo incisivo, para seu ministério”, observa M. Schwantes[2].
Amós nestes episódios via, quem sabe, coisas absolutamente normais, do cotidiano – exceto o último episódio, o da queda do santuário -, mas de um ponto de vista novo, profético, tornando-as símbolo da realidade maior, mais significativa[3].
Notas:
1. Cf. SCHÖKEL, L. A. ; SICRE DIAZ, J. L. Profetas II. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002, p. 984-985. Outros autores, entretanto, afirmam que as visões aconteceram após o início de sua pregação, e tentam reconstruir cronologicamente a evolução de sua pregação e de seu pensamento. Outros, ainda, colocam as visões após a atividade profética de Amós, quando ele teria voltado para Judá.
2. SCHWANTES, M. A terra não pode suportar suas palavras (Am 7,10): reflexão e estudo sobre Amós. São Paulo: Paulinas, 2012, p. 38 [cf. também as páginas 183-203]; cf. Idem, Jacó é pequeno. Visões em Amós 7-9. 2. ed. RIBLA, Petrópolis/São Paulo/São Leopoldo, n. 1, p. 81-92, 1990.
3. “O profeta é um vidente na medida em que ele, em todas as coisas, mediante estas e acima destas, vê Iahweh, Deus de Israel e Senhor do mundo, operando e no ato de vir”, diz FUEGLISTER, N. Arrebatados por Iahweh: anunciadores da palavra. História e estrutura do profetismo em Israel. In SCHREINER, J. (ed.) Palavra e Mensagem. São Paulo: Paulus, 1978, p. 196. C. MESTERS observa no seu Deus, ondes estás? 5. ed. Belo Horizonte: Vega, 1976 [16. ed. Petrópolis: Vozes, 2010], p. 48, que na medida em que o profeta vive integrado na vida do povo, tudo o que ele vê o faz lembrar-se da situação de injustiça em que vive o povo. “São os fatos que começam a falar. Tudo se torna apelo. Assim, pouco a pouco, cresce uma consciência em Amós. Já MAILLOT, A. ; LELIÈVRE, A. Atualidade de Miqueias: Um grande “profeta menor”. São Paulo: Paulus, 1980, p. 26, garantem que “é este ver em profundidade, este ver, que ultrapassa o acidental e atinge o essencial, que os profetas sentiram como uma ‘visão'”.