Livro de Thomas Römer: A origem de Javé

RÖMER, T. A origem de Javé: o Deus de Israel e seu nome. São Paulo: Paulus, 2016, 256 p. – ISBN 9788534944571.

 

Thomas Römer, A origem de Javé: o Deus de Israel e seu nome

Diz José Ademar Kaefer na apresentação da versão brasileira do livro de Thomas Römer:

Sob o título original francês “L’invention de Dieu”, traduzido para o inglês “The Invention of God”, a versão brasileira optou por “A origem de Javé”, que na realidade é do que trata o livro. É também esse o sentido que o autor quer dar quando emprega o conceito “invenção”. Ou seja, como a imagem de Javé-Deus foi sendo entendida e construída gradativamente na história dos povos da Bíblia, desde a Era do Bronze até o período helenista. A origem de Javé é um tema complexo, perseguido pelos pesquisadores desde que as ciências começaram a fazer parte da exegese bíblica. Portanto, o livro não parte do zero nem esgota a investigação. Ele apresenta, de forma muito didática e de fácil leitura, o panorama histórico da investigação acerca das possíveis origens de Javé e acrescenta novos elementos em todos os tópicos abordados. O novo é oriundo da pesquisa literária moderna, das recentes e abundantes descobertas arqueológicas e, evidentemente, da pesquisa pessoal do autor, que é vasta e qualificada.

O original francês é:

RÖMER, T. L’invention de Dieu. Paris: Seuil, 2014, 331 p. – ISBN 9782021088151.

Nova edição da Introdução ao Profetismo do Sicre

A Vozes acaba de publicar em português a nova edição da Introdução ao Profetismo de José Luis Sicre Díaz.

O livro saiu em espanhol em 2012, como se pode ver em Sicre: nova edição da introdução ao profetismo. Esta edição substitui o conhecido Profetismo em Israel: OSICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao Profetismo Bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016 Profeta, os Profetas, a Mensagem. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

E traz as novas tendências da pesquisa na área. Nota-se a diminuição do interesse pelas figuras proféticas e o aumento da atenção dispensada aos livros proféticos.

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao Profetismo Bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016, 536 p. – ISBN 9788532652416.

Escreveu Sicre em 2012: 
El mayor cambio en el estudio del profetismo durante las últimas décadas ha sido el paso del interés por los profetas (Isaías, Jeremías, etc.) al interés por los libros. La reconstrucción de las vidas de los profetas, tan típica del siglo pasado, es juzgada ahora como una labor muy subjetiva, sin base histórica cierta; además, no permite explicar el libro o el escrito atribuido a un profeta, ya que la mayor parte del mismo procede de autores posteriores.

Ska: tendências do estudo do Pentateuco na última década

Transcrevo aqui texto publicado no dia 31/08/2016 no portal da Universidade Metodista de São Paulo sobre a Conferência de Jean-Louis Ska no VII Congresso da ABIB.

Jean-Louis Ska aborda as tendências do estudo do Pentateuco na última década

Conferência foi realizada no VII Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica

Ontem (30) foi realizada a segunda conferência do VII Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica, na Universidade Metodista de São Paulo. O evento é promovido pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Metodista e a Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB).

O teólogo belga Jean-Louis Ska participou com a discussão “Pentateuco: História, Tradução e Exegese”, a mesa ainda contou com a participação de Vicente Artuso, da PUC do Paraná, que coordenou a mesa e Telmo Figueiredo, membro da ABIB, que realizou a tradução do italiano para o português.

A conferência falou sobre as tendências do estudo do Pentateuco nos últimos dez anos. Ska é uma autoridade no assunto, além de ser professor de Exegese do Antigo Testamento no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, já escreveu diversos livros, incluindo “Introdução à Leitura do Pentateuco”, publicado no Brasil.Jean Louis Ska (Arlon, Bélgica, 1946)

 

Perguntas fundamentais dos últimos 10 anos

Para iniciar a conversa, Ska ressaltou que com o livro Deuteronômio, reencontramos a lei e o mundo jurídico da Torá, tema pelo qual Eckart Otto trabalhou para devolver importância, pois acredita que a solução dos problemas do Pentateuco não vem das narrativas, mas sim das leis. Por outro lado, John Van Seters sustenta que o Código da Aliança seja mais recente do que o Código Deuteronômico e que a Lei de Santidade.

Ska explica que duas tendências importantes da pesquisa são a reforma de Josias e a natureza de Deuteronômio. No passado, a reforma de Josias foi considerada historicamente importante, porque teria acontecido a purificação de elementos estranhos e centralização do culto em Jerusalém, por meio da destruição dos cultos rivais.

No entanto, surgem perguntas a respeito do valor histórico da narrativa, pois a arqueologia não confirma nenhuma destruição maciça de altares ou de santuários no período que precede imediatamente a conquista de Jerusalém em 585 a.C e existem indícios de que o santuário de Betel tenha continuado em atividade mesmo durante o período do exílio, enquanto o templo de Jerusalém estava em ruínas.

“Por outro lado, a narrativa é mais bem interpretada como uma tentativa de dar ao Deuteronômio e à centralização do culto as suas cartas de recomendação. Isso foi ampliado e enfeitado para justificar a ordem das coisas instauradas na época da reconstrução do segundo templo. Foi reconstruído um só santuário, e por isso havia um só altar, um só sacerdócio e um só centro administrativo na província persa de Yehud”, diz Ska.

O estudioso continua: “era necessário demonstrar que a reforma não era uma inovação introduzida pelos exilados que voltaram da Babilônia. Ela tinha raízes antigas num evento precedente ao exílio e podia ser colocada sob a autoridade de uma grande figura, o rei Josias, que, por sua vez, não tinha feito nada mais que tornar efetiva uma lei esquecida, a de Moisés. O “livro achado” é um argumento conhecido no mundo antigo que serve geralmente para justificar reformas e inovações”.

A segunda tendência recente citada por Ska, é a descoberta de uma nova cópia do chamado tratado de vassalagem de Esarhaddon, filho de Senaquerib. Descoberto em 1955 em Nimrud, tem como primeira finalidade assegurar a sucessão de Esarhaddon a favor de seu filho Assurbanipal, sobretudo porque ele não era o primogênito. O professor compara Deuteronômio e o tratado de sucessão de Esarhaddon na questão da sucessão. Deuteronômio se apresenta como o testamento de Moisés, proclamado diante de todo o povo durante as últimas horas da sua vida.

“Uma das perguntas essenciais do livro é sobre o pós-Moisés: o que vai acontecer depois da sua morte, quando o povo tiver entrado na terra prometida? Como enfrentar as incertezas do futuro? Assim como o tratado de sucessão de Esarhaddon procura com todos os meios assegurar a continuidade da dinastia e a estabilidade do Império”, comenta.

“O Deuteronômio revelou-se determinante nos estudos sobre o Pentateuco, desde o tempo de W. L. M. de Wette. Isso se mantém ainda hoje, por dois motivos principais: Primeiro, porque é um dos escritos que podem ser identificados e datados mais facilmente, sobretudo graças aos paralelos neoassírios. Segundo, porque fornece uma das chaves mais importantes para interpretar a função da Torá na existência de Israel. O Deuteronômio faz depender a existência do povo, e de todas as suas gerações, não da sua força militar, não da sua economia, não da sua política, não dos seus recursos materiais ou humanos, mas sim unicamente da fidelidade à Torá de Moisés”, finaliza.

A respeito das discussões sobre autores e redatores, Ska acredita que “temos bons motivos para pensar que na composição do Pentateuco existam traços de trabalhos de escribas que se assemelham àqueles dos documentos encontrados em Qumran e atestados nas comparações entre o Texto Massorético, o Pentateuco Samaritano e a Septuaginta. E tudo isso apesar das amargas críticas daqueles que negam a existências de ‘editores’ ou ‘redatores’”.

Para finalizar a conferência, Ska declarou: “Os problemas da exegese – seja diacrônica, seja sincrônica – são problemas reais, não inventados. Portanto, resta somente uma coisa a fazer: retomar o caminho que conduz aos textos para relê-los com mais atenção e mais gosto”.

Ska respondeu a algumas questões do público que acompanhava a conferência (continua).