Tributo a Senna, Ayrton

Ayrton Senna da Silva nasceu em 21 de março de 1960. Ficou encantado em 1º de maio de 1994, na curva Tamburello, no GP de San Marino, em Ímola, na Williams, disputando o 162º GP de sua estonteante carreira na Fórmula 1.S do Senna

Leia, Ouça, Veja
Ayrton Senna da Silva
Ayrton Senna: 18 anos
BBC – On this day

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Títulos de Senna

  • Tricampeão paulista de kart: 1974, 1975, 1976
  • Tetracampeão brasileiro de kart: 1978, 1979, 1980, 1981
  • Bicampeão sul-americano de kart: 1977, 1978
  • Campeão inglês de Fórmula Ford 1600: 1981
  • Campeão inglês e europeu de Fórmula Ford 2000: 1982
  • Campeão inglês de Fórmula 3: 1983
  • Tricampeão mundial de Fórmula 1: 1988, 1990, 1991

Morreu John Trever

John C. Trever: 1916-2006 - Photo by Lou Mack/Los Angeles Times via Getty ImagesI am sorry to inform you that John Trever died on Saturday morning“. Assim começa Jim Davila seu post no PaleoJudaica.com, comunicando a morte de John C. Trever, que teve papel importante na descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, como se pode ler aqui.

Leia sobre John C. Trever na Wikipedia.

Vale a pena ler seu livro The Dead Sea Scrolls: A Personal Account. A Revised Edition of the Author’s Untold Story of Qumran. Piscataway, NJ: Gorgias Press, 2003, 268 p. – ISBN 9781593330422.

Fotos mostram que Che Guevara foi assassinado, não morreu em confronto

Folha Online: 28/04/2006 – 10h59

Fotos mostram a agonia de Che Guevara

Descobertas recentemente, as fotos da agonia do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, ícone mundial da esquerda e um dos líderes da Revolução Cubana, recompõem os seus últimos momentos no interior da Bolívia (…) O material chegou em um envelope anônimo às mãos do escritor argentino Pacho O’Donnell, ex-secretário da Cultura da Argentina e autor de uma conhecida biografia do Che. Foram publicadas primeiramente em fevereiro no jornal argentino “Clarín”, e na semana passada, acompanhados de um ensaio assinado pelo próprio O’Donnell, publicadas na revista semanal “Noticias” (cont.)


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Faleceu o biblista e assiriólogo Emanuel Bouzon

Acabei de tomar conhecimento através de e-mail enviado para a lista de discussão ANE-2 e de nota da Assessoria de Comunicação Social da PUC-Rio do falecimento de Emanuel Bouzon. O ilustre professor e pesquisador faleceu ontem, dia 28 de março de 2006, aos 73 anos de idade, vítima de câncer pulmonar, depois de duas semanas internado no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro.

Emanuel Bouzon nasceu em 1933. Estudou Filosofia na PUC-RJ, onde graduou-se em 1954. Cursou Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, ordenando-seEmanuel Bouzon (Manaus, 1933 - Rio de Janeiro, 2006) padre em 1958. Estudou Ciências Bíblicas no Pontifício Instituto Bíblico, Roma, e Ciências Orientais no Instituto Oriental de Roma e especializou-se em Assiriologia, Egiptologia, Semitistica e História Antiga na Westfälische Wilhelms-Universität de Münster, Alemanha, onde estudou com o célebre orientalista Wolfram von Soden. Em 1988 conseguiu, em Münster, o Pós-Doutorado. Foi um dos fundadores do Departamento de Teologia da PUC-Rio, universidade onde trabalhou por mais de quarenta anos. Foi, também, um dos tradutores da Bíblia de Jerusalém para o português.

No seu Currículo Lattes lemos o seguinte quadro de sua formação acadêmica:

1987-1988 – Pós-Doutorado: Westfälische Wilhelms Universität Münster, Alemanha.

1964-1969 – Doutorado em História Antiga e Medieval: Pontifício Instituto Bíblico, PIB, Itália.
Título: Die Prophetenkorporationen in Israel und im Alten Orient. Ein Beitrag zur Geschichte der nebiistischen Bewegung, Ano de Obtenção: 1969.
Orientador: Ernst Vogt.

1960-1964 – Especialização em Assiriologia e História Antiga. Westfälische Wilhelms Universität Münster, Alemanha. Ano de finalização: 1964.

1958-1960 – Mestrado em História Antiga Oriental: Pontifício Instituto Bíblico, PIB, Itália.
Título: As Corporações Proféticas no Antigo Israel, Ano de Obtenção: 1960.
Orientador: Ernst Vogt.

1954-1958 – Graduação em Teologia. Pontificia Universidade Gregoriana, PUG, Itália.

1951-1954 – Graduação em Filosofia. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-RJ, Brasil.

Entre suas muitas publicações, destaco:

BOUZON, E. O Código de Hammurabi. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.:. O Código de Hammurabi. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. 238 p.
:. Uma Coleção de Direito Babilônico Pré-Hammurabiano. Leis do Reino de Eshnunna. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. v. 1. 207 p.
:. Contratos Pré-Hammurabianos do Reino de Larsa. 1. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2000. v. 1. 391 p.
:. As Cartas de Hammurabi. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 240 p.
:. As Leis de Eshnunna. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1981. 171 p.

O e-mail repassado hoje cedo (quarta-feira, 29 de março de 2006 04:02) por Chuck Jones para a lista de discussão ANE-2 foi enviado por Marcelo Rede ontem (date: Tue, 28 Mar 2006 16:31:26) e está em francês:

“Chère Madame, cher Monsieur, Je suis dans la triste obligation de vous informer du décès du Professeur Emanuel BOUZON, survenu hier à Rio de Janeiro, Brésil. Le père Bouzon a suivi des études d’assyriologie, d’histoire ancienne et biblique à l’Institut Biblique de Rome, et à Münster où il a été l’élève de Von Soden. Professeur à l’Université Catholique, il a été l’initiateur des études mésopotamiennes au Brésil. Parmi ses nombreux ouvrages, on peut citer les premières traductions en portugais du Code de Hammurabi, des lois d’Eshnunna, des lettres de Hammurabi ainsi que des contrats de Larsa. Le vide laissé par sa disparition est immense pour ses étudiants et collègues ainsi que pour la science”.

 

Morreu hoje Stanislaw Lem, autor de Solaris

Folha Online: 27/03/2006 – 13h50

Morre o escritor Stanislaw Lem, autor de “Solaris”

Morreu nesta segunda aos 84 anos o escritor polonês Stanislaw Lem, que ficou consagrado pelo gênero ficção científica, como o livro “Solaris” – adaptado para o cinema duas vezes. Lem morreu na Cracóvia, Polônia. Não foram revelados detalhes sobre a sua morte. Vendedor de mais de 27 milhões de cópias pelo mundo, Lem teve suas obras traduzidas para 40 idiomas (cont.)

Um livro incrível, que sempre me fascinou!

Albert Vanhoye, professor do PIB, nomeado cardeal

O papa Bento 16 anunciou na quarta-feira passada, dia 22 de fevereiro de 2006, o primeiro consistório de seu Pontificado, que será instituído no dia 24 de março, quando o papa nomeará 15 novos cardeais. Entre eles está Albert Vanhoye, 82 anos, professor emérito do Pontifício Instituto Bíblico de Roma e ex-secretário da Pontifícia Comissão Bíblica. Professor de Novo Testamento, Vanhoye é especialista na Carta aos Hebreus.

Veja a notícia, em português, aqui. Informações mais completas estão no texto em francês, citado abaixo. Uma entrevista com Vanhoye sobre o documento A Interpretação da Bíblia na Igreja, de 1993, pode ser lida em Catholicism and the Bible: An Interview with Albert Vanhoye.

Le P. Albert Vanhoye, un professeur très aimé et bientôt cardinal

Le P. Albert Vanhoye, jésuite, exégète, 82 ans, sera également créé cardinal par Benoît XVI le 24 mars prochain : un professeur très aimé de ses étudiants. Professeur émérite d’exégèse du Nouveau Testament à l’Institut biblique pontifical de Rome, dont il a été recteur, et ancien secrétaire de la Commission biblique pontificale, consulteur de la congrégation pour l’Education Catholique et de la congrégation pour la Doctrine de la Foi, dont dépend la commission biblique, le P. Vanhoye est connu en particulier pour ses travaux sur l’Epître aux Hébreux. Né le 24 juillet 1923 à Hazebrouck, en France (département du Nord), le père Vanhoye a été nommé cardinal “en considération des services rendus à l’Eglise” a indiqué le pape. Agé de plus de 80 ans, il ne fera pas partie du collège des cardinaux électeurs. Entré chez les jésuites le 11 septembre 1941, il a été ordonné prêtre en 1954. Docteur en écriture sacrée, il a enseigné à l’université pontificale grégorienne et a été membre de la commission biblique pontificale de 1984 à 2001 et secrétaire de 1990 à 2001. Il a également été consultant au conseil pontifical pour la promotion de l’unité des chrétiens (1980-96), à la congrégation pour l’éducation catholique à partir de 1978 et, à partir de 1990, à la congrégation pour la doctrine de la foi, présidée par le cardinal Joseph Ratzinger. Le P. Vanhoye a été en outre très aimé de ses étudiants, attirés par la limpidité, la précision et la richesse spirituelle de son approche de l’Ecriture Sainte, et par sa charité délicate et affable, qui le rendait accueillant pour tous, sans acception de personne. Parmi ses ouvrages en français figurent “La Structure littéraire de l’épître aux Hébreux” (1963, Studia Neotestamentica 1, Desclée de Brouwer, Bruges/Paris, 285 p., 2ème éd. 1976, 331 pp.), “Situation du Christ. Epître aux Hébreux” (1969, coll. “Lectio divina 58”, Ed. Du Cerf, Paris, 403 pp.), ainsi que “Prêtres anciens, prêtre nouveau selon le Nouveau Testament” (1980, coll. “Parole de Dieu 20”, Ed. du Seuil Paris, 373 p., trad. anglais, espagnol, italien).

Homenagem a Benjamim

No dia 23 de junho de 2005 faleceu, em Belo Horizonte, o meu amigo e colega biblista Benjamim Carreira de Oliveira. Hoje, oito meses após sua morte, quero prestar-lhe minha homenagem. E vou fazê-lo citando um texto muito bonito escrito por Léssio Lima Cardoso na revista Diretrizes, da Diocese de Caratinga, MG, n. 767, de agosto de 2005 e reproduzido no GS58 de novembro de 2005, nas páginas 65-67. O GS58 – Grupo Sacerdotal de 1958 – é uma publicação dirigida por Mons. Raul Motta de Oliveira, também de Caratinga. Mas vamos ao artigo.

Faleceu, em Belo Horizonte, dia 23 de junho, Pe. Benjamim Carreira de Oliveira. Dos professores do Seminário Diocesano de Caratinga que permanecem na ativa, parece-nos que, mais antigos que ele, somente Mons. Raul e Mons. Levy. Vinha à Diocese todo final de semestre para agradáveis aulas de Sagrada Escritura. Pe. Benjamim nasceu em Caeté, MG [em 11/05/1940], tinha 65 anos e estava há pelo menos 30 em Belo Horizonte, Bairro Floresta, Paróquia Nossa Senhora das Dores, sem capelas, mas com 25 mil habitantes e muitos colégios. Lecionava também na PUC-MG. “Traduziu dois livros de ‘A Bíblia de Jerusalém’. Passeava pela Bíblia toda com facilidade”, relatou a Diretrizes seu amigo, Dom Emanuel Messias de Oliveira, Bispo de Guanhães. Os dois se conheceram estudantes no início da década de 1970, em Roma. Pe. Benjamim terminou o curso bíblico em 1974. Já no Brasil, se uniram a Airton José da Silva e criaram a tradição de, a partir de 1977, reservar parte do mês de janeiro para estudar ou preparar aulas na “Casa do Padre”, na Serra da Piedade, região próxima à capital mineira. “Estudávamos cada um na sua parte de uma mesa enorme. Interrompíamos para comentários, perguntas, casos, novidades. Fazíamos caminhadas com conversas descontraídas. Saía muita piada. O Beijo (Pe. Benjamim) tinha sempre uma nova”, conta Dom Emanuel com a familiaridade que só uma longa convivência permite (…). Ao falar, Dom Emanuel ainda usa os verbos no presente como se não assimilasse por inteiro a perda. A proximidade entre os três biblistas era tamanha que Pe. Benjamim confiou-lhes as chaves da casa paroquial. “Nem avisava que estava indo. Ia direto para o meu quarto. Tinha também a chave do quarto do Beijo para ver TV e pesquisar em sua biblioteca (…). Ele lia uns quatro livros de uma vez”. Conhecia História, Língua Portuguesa, Literatura, Música, artes em geral. Gostava de astronomia, tinha um telescópio pelo qual dava para ver bem, por exemplo, as montanhas e crateras da Lua. Falava e escrevia em espanhol, italiano e francês; lia em inglês. Visitou a Palestina pelo menos duas vezes. “Foi um intelectual desperdiçado, porque não gostava de escrever”, lamenta o bispo. Pe. Benjamim se considerava numa espécie de prorrogação. “Qualquer hora estou indo”, dizia desde que teve de instalar uma válvula no coração (…) Nunca imaginava que ia passar 33 dias numa UTI. Antes de ser operado, recebeu a Unção dos Enfermos. Disse estar tranqüilo, realizado. Nunca mais se comunicou. “Falei ao ouvido dele: ‘É Dom Emanuel. Estou rezando por você’. Não fez sinal. Houve uma vez uma lágrima. Tentou outra vez abrir a boca, mas não saiu som”. Depois de duas operações, um rim parou, fez hemodiálise, o pulmão foi a 70% de secreção, fez três punções para retirar a água da pleura, fez traqueostomia, depois tiveram que tirar água do corpo, muito inchado. Dom Emanuel fez a encomendação do corpo. “A gente percebia uma piedade peculiar no altar. Pregações bíblicas, atualizadas, pé no chão. Muito simples, andou muito tempo de fusca, mesmo numa paróquia de muitos recursos. Despojado no guarda-roupa. Investia em livros. Praticamente um irmão meu”.

Até aqui o artigo.

Quero dizer que conheci Benjamim na viagem para Roma em setembro de 1970, quando, durante 14 dias, atravessamos o Atlântico e parte do Mediterrâneo no navio Augustus, rumo à Itália, onde íamos estudar. Ele ia para o Pontifício Instituto Bíblico fazer o Mestrado. Eu, com 19 anos de idade, ia para a Pontifícia Universidade Gregoriana fazer a graduação em Teologia e, em seguida, o Mestrado em Bíblia. Emanuel (hoje, o Dom), já fora meu colega, um ano adiantado, em Mariana. Estava na Teologia da Gregoriana, em Roma, desde 1969 e, iria, também, em seguida, para o Mestrado no Bíblico. Emanuel nos esperava no porto de Nápolis, com enorme alegria. De lá nos dirigimos a Roma, para o Colégio Pio Brasileiro, onde iríamos morar. Benjamim ficou quatro anos, Emanuel e eu ficamos seis anos. Dos três, fui o último a retornar ao Brasil no final de 1976.

Fiquei dias na casa do Benjamim, na Floresta, em Belo Horizonte. Foi ele que nos levou até o Asilo São Luiz – apesar do nome, um orfanato – das Irmãs Auxiliares de N. S. da Piedade, pertinho de Caeté, onde, como se disse, desde 1977, passamos a nos encontrar para estudar Bíblia nas férias. Primeiro em janeiro. Depois em janeiro e julho. Irmã Genoveva cuidava da gente.

Foi com Benjamim – e Ivo Storniolo, que também estava cursando o Bíblico – que aprendi a gostar da Bíblia. E foi Benjamim quem me apresentou às músicas de Chico Buarque e ao violão. O violão anda encostado, mas nunca mais deixei de ouvir Chico.

Na manhã em que Benjamim se foi, ao ser avisado por telefone, liguei para o Emanuel. Ele me disse: “Perdemos um irmão”. Concordei. Palavras tristes, palavras certas.

Nascido Profeta: estudando Jeremias e homenageando Antoniazzi

Jim West diz em seu blog Biblical Theology que está começando a preparar um curso sobre Jeremias, no qual lerá todo o texto do livro do profeta com seus alunos. E diz também que Jeremias é seu preferido por ter a coragem de denunciar claramente o que está acontecendo, mesmo quando enfrenta terrível oposição:

It is, I confess, my favorite book of the Bible. I love Jeremiah’s directness and willingness to “tell it like it is” – even in the face of incredible opposition.

E avisa que, nos próximos meses, podemos esperar várias menções de Jeremias em seu biblioblog.

 

Pois é. Jeremias é também o meu profeta preferido, pois admiro sua coragem e garra no combate aos opressores de sua época. Pois foi essa “paixão” que me levou, em 1992, a publicar pela Paulus (então Edições Paulinas) um livrinho de 143 páginas sobre Jr 1,4-19, o texto da vocação de Jeremias. Saiu com o título: Nascido Profeta: a vocação de Jeremias. Considero-o, dos poucos que escrevi, o melhor. Esgotou-se a edição em dois anos.

A apresentação do livro foi feita por meu amigo e, à época, coordenador do grupo Biblistas Mineiros, Alberto Antoniazzi. Agora, no dia de Natal, fez um ano que Alberto Antoniazzi: 17.06.1937 - 25.12.2004Antoniazzi nos deixou, depois de lutar meses contra um câncer. Lembrando-me de Jeremias, que lecionarei no próximo semestre como parte da disciplina Literatura Profética, lembrei-me, do mesmo modo, do persistente Antoniazzi, inteligência brilhante, intelectual de múltiplas qualidades e, ao mesmo tempo, pessoa extremamente gentil. Transcrevo abaixo a apresentação que fez de meu livro como uma forma de homenageá-lo.

Não se engane o leitor curioso, que abrir este livro. Não se trata, como o título poderia sugerir, apenas de um comentário ao relato da vocação de Jeremias, isto é, a poucos versículos iniciais do livro (Jr 1,4-19). Na realidade, este livro é uma análise de toda a existência do profeta Jeremias, à luz de sua vocação.
Também não é este livro, como a rica bibliografia e as notas numerosas ao pé das páginas podem sugerir, antes de tudo uma obra técnica, um trabalho acadêmico. Aqui a ciência bíblica, a “exegese”, é usada, sim, mas a serviço de uma leitura que restitui à palavra de Jeremias o seu caráter de palavra profética, palavra de Deus, palavra que o Senhor Javé pôs na boca do seu porta-voz, palavra extremamente atual. Talvez o leitor se surpreenda com a atualidade dessa leitura e se pergunte se o autor deste livro não tenha colocado o Brasil dos anos ’80 e ’90 na boca de Jeremias, tão atuais são as críticas do profeta à irresponsabilidade das elites dirigentes, à política exterior, ao abuso da religião, a tudo o que oculta a verdadeira face de Deus e ameaça destruir a esperança do povo.
Não se engane, enfim, o leitor com relação a Jeremias. Por muito tempo, ele teve, em nosso meio, a fama de “chorão”. As línguas latinas, inclusive o português, conhecem substantivos como “jeremiada” ou verbos como “jeremiar” para indicar a lamúria insistente e inoportuna, a lamentação vã e sem fim… Na realidade, o grande profeta – apesar de insistir muito mais na denúncia dos males que no anúncio de um futuro feliz – é, como ele diz, homem em cuja boca as palavras se tornam fogo (Jr 5,14). Esse fogo, que lembra o que Jesus queria acender sobre a terra (Lc 12,49), queima por dentro também o Autor deste livro e faz desta obra algo que tem, ao mesmo tempo, a claridade e o calor do fogo.
Alegra-me que esta obra, que reúne tão felizmente a competência científica e o ardor profético, tenha sido escrita por um brasileiro, que junta a anos de estudos em Roma, no Pontifício Instituto Bíblico, muito mais anos de vivência em nossa realidade. Temos assim não mais uma tradução de uma obra estrangeira, nascida em outro contexto, de boa ou ótima qualidade científica, como muitas publicadas por Edições Paulinas no campo bíblico. Temos algo que, com a mesma qualidade científica, fala mais diretamente a “corações e mentes” desta terra e deste povo.

Sobre Alberto Antoniazzi, recomendo alguns textos, como:

:. o artigo de Mauro Passos, Peregrino da esperança: Alberto Antoniazzi. Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 53-66, 2o sem. 2004. Disponível online em pdf

:. o testemunho dos amigos em Padre Alberto Antoniazzi: Doação e AMOR à vida até o fim – Observatório da Evangelização – PUC Minas: 22.12.2015

:. a entrevista de Johan Konings em Observatório da Evangelização entrevista o teólogo biblista Johan Konings sobre Alberto Antoniazzi – Observatório da Evangelização – PUC Minas: 26.02.2016