A Igreja do futuro

A Igreja do futuro? No meio das pessoas

Num mundo sem horizonte transcendente, a evidente crise da Igreja do Ocidente não deve ser considerada de forma matemática (declínio demográfico, curva das práticas religiosas, diminuição dos padres…). Segundo o teólogo canadense Gilles Routhier – convidado da Faculdade de Teologia do Trivêneto – o futuro da Igreja passa por se tornar um sinal no meio das pessoas: uma Igreja que se mistura com a vida de homens, mulheres e crianças.

A reportagem é de Paola Zampieri, publicada por Settimana News, 11-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Gilles RouthierQue futuro para as igrejas do Ocidente? Como “reinventar” a antiga Igreja, em um contexto cada vez mais global: esse é o tema sobre o qual o teólogo Gilles Routhier (professor titular da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da Université Laval – Québec, Canadá, onde leciona eclesiologia e teologia prática) discursou na Faculdade de Teologia do Trivêneto no âmbito do curso de teologia pastoral do prof. Andrea Toniolo.

“Estamos perante a necessidade de elaborar, num tempo radicalmente novo, uma figura inédita da Igreja – começou -. Isso é fazer um ato de tradição, ou seja, expressar o que recebemos de novas formas. Não se trata de ‘reinventar a antiga Igreja’, mas de expressar o Evangelho, que recebido do Espírito, institui a Igreja em novas formas e dá uma nova figura ao Cristianismo.”

A operação não é simples de realizar e o tornar-se cada vez mais global da Igreja representa um desafio particular.

Gilles Routhier faz referência à Igreja de Québec, que hoje vive no contexto do que Charles Taylor chama de terceira secularização, ou seja, em um mundo onde Deus não faz mais parte do horizonte da vida e do discurso dos homens: “Nós nos contentamos com um mundo sem horizonte transcendente no qual se nasce, se vive e se morre sem abertura para o infinito. É o traço da cultura que, na minha opinião, determina a situação atual”, afirma o teólogo canadense.

Existe uma figura de Igreja que passa, que cai em ruína por divisões, clericalismo, falta de lucidez e determinação para realizar verdadeiras e autênticas conversões, abusos (autoritarismo, pedocriminalidade, abusos espirituais e financeiros …). A pandemia tem sua parte, mas não se pode atribuir-lhe a totalidade do atual desmantelamento.

 

Uma Igreja marginalizada

Sancionar o fim dessa figura de Igreja e renunciar à sua restauração é o passo necessário para pensar a Igreja do futuro, que Routhier vê como “uma Igreja frágil e pobre, não por escolha, mas por fatalidade; uma Igreja despojada e sem posses, privada de seus bens (econômicos, financeiros e imobiliários), pobre em recursos pastorais, privada de sua influência e de seu poder. Como no caso dos pobres – continua ele – será marginalizada, não será mais convidada nos lugares de poder, não será mais ouvida na mídia, não será mais considerada nos livros de história, será ridicularizada por suas opiniões”. É nessa realidade, já às nossas portas, que devemos pensar.

Entre os recursos a que podemos recorrer para pensar a nova situação, Routhier aponta a figura evangélica do seviço, lembrando a Lumen gentium, n. 8 e a Ad gentes, n. 5. “Cristo não cessa, no decurso do seu ministério – explica -, de formar os seus discípulos para que adotem outra perspectiva; não uma visão de poder e domínio, mas uma perspectiva de serviço, de humildade, que inclui a marginalização, a perseguição, ser postos à morte. Só entenderão essa perspectiva depois de sua Páscoa”.

Ao lado disso, cita a experiência de monges trapistas na Argélia. “Despojada, esvaziada de qualquer pretensão de poder, a comunidade teve uma irradiação espiritual mais importante quando soube ser solidária com as pessoas atingidas pela crise: a comunidade não tinha outro papel senão o de ser um sinal, um sinal de comunhão e de reconciliação no meio das pessoas”.

 

Redefinir a Igreja: um projeto de conversão

Eis, pois, um ponto de partida para pensar a Igreja quando ela se torna marginal: ela deve se redefinir. “Essa reorientação – explica Routhier – não se concentrará mais sobre o quanto perde em número, em obras, em prestígio social, mas vai formular de maneira positiva um projeto: quem somos nós neste lugar? Para que somos chamados? O que podemos nos tornar? Se essas duas realidades – fazer número e ser sinal – forem confundidas, muitas vezes os projetos de evangelização resultam distorcidos. Não podemos pensar este futuro de forma matemática, com os olhos fixos nas evoluções demográficas, na curva das práticas religiosas e nas estatísticas do número de padres e membros”.

O projeto de se fazer sinal não pode ser empreendido como só o que sobra, mas deve ser abraçado voluntariamente, redescobrindo, como São Francisco, a alegria do Evangelho na pobreza. “Isto exige uma conversão – destaca – porque esse projeto pede que a Igreja desenvolva uma verdadeira solidariedade com o povo em que está inscrita”.

Essa solidariedade não consiste em dar algo, mas em viver com o outro. “Não se trata simplesmente de ser uma Igreja que doa, mantendo-se numa posição de superioridade, mas de tentar ser ‘uma Igreja pobre para os pobres’, segundo a expressão do Papa Francisco”. Portanto, é necessário focar em projetos em que se criem vínculos com as outras pessoas, ao invés de realizar obras que demandam muitos meios.

“Essa Igreja deixará de ser clerical – acrescenta – mas será formada por comunidades disseminadas: será uma ‘Igreja de vizinhança’, uma Igreja misturada, e não na margem, com a vida de homens, mulheres e crianças”. Isso supõe – como escreve o Papa Francisco em relação à paróquia – “que realmente esteja em contato com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos. A paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração” (EG 28).

“Na minha opinião – conclui Routhier -, a Igreja do Québec tem futuro. Não na restauração do passado, mas no desenvolvimento de uma nova figura que represente um encontro fecundo do Evangelho na cultura.”

Fonte: IHU – 13 Dezembro 2021

 

La Chiesa del futuro? In mezzo alla gente

In un mondo senza orizzonte trascendente, l’evidente crisi della Chiesa d’Occidente non va considerata in modo matematico (calo demografico, curva delle pratiche religiose, diminuzione di preti…). Secondo il teologo canadese Gilles Routhier – ospite alla Facoltà teologica del Triveneto – il futuro della Chiesa passa attraverso il suo farsi segno in mezzo alla gente: una Chiesa mescolata con le vite degli uomini, delle donne e dei bambini.

Quale futuro delle chiese d’Occidente? Come “re-inventare” l’antica Chiesa, in un contesto sempre più mondiale: è il tema su cui il teologo Gilles Routhier (ordinario alla Facoltà di teologia e di scienze religiose dell’Université Laval – Québec, Canada, dove insegna ecclesiologia e teologia pratica) è intervenuto alla Facoltà teologica del Triveneto nell’ambito del corso di teologia pastorale del prof. Andrea Toniolo.

«Ci troviamo davanti alla necessità di elaborare, in un tempo radicalmente nuovo, una figura inedita di Chiesa – ha esordito –. Questo è fare atto di tradizione, cioè esprimere in forme nuove quello che abbiamo ricevuto. Non si tratta di “re-inventare l’antica Chiesa”, ma di esprimere il vangelo, che ricevuto dallo Spirito istituisce la Chiesa, in forme nuove e di dare una nuova figura al cristianesimo».

L’operazione non è semplice a realizzarsi e il divenire sempre più mondiale della Chiesa pone una sfida particolare.

Gilles Routhier fa riferimento alla Chiesa di Québec, che oggi vive nel contesto di quella che Charles Taylor chiama la terza secolarizzazione, cioè in un mondo dove Dio non fa più parte dell’orizzonte della vita e del discorso degli uomini: «Ci si accontenta di un mondo senza orizzonte trascendente nel quale si nasce, si vive e si muore senza apertura all’infinito. È il tratto della cultura che, a mio parere, determina la situazione attuale» afferma il teologo canadese.

C’è una figura di Chiesa che passa, che cade in rovina in ragione delle divisioni, del clericalismo, della mancanza di lucidità e di determinazione a operare delle vere e autentiche conversioni, degli abusi (autoritarismo, pedocriminalità, abusi spirituali e finanziari…). La pandemia ha la sua parte, ma non bisogna attribuirle la totalità del disfacimento attuale.

 

Una Chiesa marginalizzata

Sancire la fine di questa figura di Chiesa e rinunciare alla sua restaurazione è il passaggio necessario per pensare la Chiesa del futuro, che Routhier vede come «una Chiesa fragile e povera, non per scelta ma per fatalità; una Chiesa spogliata e spossessata, privata dei suoi beni (economici, finanziari e immobiliari), povera in risorse pastorali, privata della sua influenza e della sua potenza. Come nel caso dei poveri – prosegue – sarà marginalizzata, non la si inviterà più nei luoghi di potere, non la si sentirà più nei media, non la si considererà più nei libri di storia, verrà schernita per le sue opinioni». È a questa realtà, già alle nostre porte, che bisogna pensare.

Fra le risorse a cui attingere per pensare la situazione nuova, Routhier indica la figura evangelica del servo, richiamando Lumen gentium, n. 8 e Ad gentes, n. 5. «Cristo non cessa, nel corso del suo ministero – spiega –, di formare i suoi discepoli affinché essi adottino un’altra prospettiva; non una visione di potenza e di dominio, ma una prospettiva di servizio, di umiltà, che includa la marginalizzazione, la persecuzione, l’essere messi a morte. Non comprenderanno questa prospettiva che dopo la sua Pasqua».

Accanto a questo, cita l’esperienza dei monaci trappisti in Algeria. «Spogliata, svuotata di ogni pretesa di potere, la comunità ha avuto un irraggiamento spirituale più importante nel momento in cui ha saputo farsi solidale con le persone colpite dalla crisi: la comunità non aveva altro ruolo che quello di essere segno, segno di comunione e di riconciliazione in mezzo alla gente».

 

Ridefinire la Chiesa: un progetto di conversione

Ecco allora uno spunto per pensare la Chiesa quando diventa marginale: essa deve ridefinirsi. «Questa reimpostazione – spiega Routhier – non si concentrerà più su quanto perde in numero, in opere, in prestigio sociale, ma formulerà in maniera positiva un progetto: chi siamo noi in questo luogo? A cosa siamo chiamati? Cosa possiamo divenire? Se si confondono questa due realtà – fare numero ed essere segno – i progetti di evangelizzazione risultano spesso distorti. Non si può pensare questo futuro in modo matematico, con gli occhi fissi sulle evoluzioni demografiche, sulla curva delle pratiche religiose e sulle statistiche relative al numero dei preti e dei membri».

Il progetto di farsi segno non può essere intrapreso come ripiego ma dev’essere abbracciato volontariamente, ritrovando come san Francesco la gioia del vangelo nella povertà. «Ciò richiede una conversione – sottolinea – in quanto tale progetto sollecita la Chiesa a sviluppare una vera solidarietà con il popolo nel quale è inscritta».

Questa solidarietà non consiste nel dare qualcosa, ma nel vivere con l’altro. «Non si tratta semplicemente di essere una Chiesa che dona, mantenendosi in una posizione di superiorità, ma cercare di essere “una Chiesa povera per i poveri”, secondo l’espressione di papa Francesco». Bisogna, dunque, puntare su progetti in cui si creano legami con gli altri, piuttosto che fare delle opere che domandano molti mezzi.

«Questa Chiesa non sarà più clericale – aggiunge – ma sarà fatta di comunità disseminate: sarà una “Chiesa del vicinato”, una Chiesa mescolata, e non al margine, con la vita degli uomini, delle donne e dei bambini». Ciò suppone – come scrive papa Francesco a proposito della parrocchia – «che realmente stia in contatto con le famiglie e con la vita del popolo e non diventi una struttura prolissa, separata dalla gente, o un gruppo di eletti che guardano a se stessi. La parrocchia è presenza ecclesiale nel territorio, ambito di ascolto della Parola, della crescita della vita cristiana, del dialogo, dell’annuncio, della carità generosa, dell’adorazione e della celebrazione» (EG 28).

«Secondo il mio parere – conclude Routhier –, la Chiesa di Québec ha un avvenire. Non nella restaurazione del passato, ma nello sviluppo di una nuova figura che rappresenta un incontro fecondo del Vangelo nella cultura».

Fonte: Settimana News – Paola Zampieri: 11 dicembre 2021