Oseias
Notas sobre a pesquisa do livro de Oseias no século XX
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Brad E. Kelle, da Point Loma Nazarene University, San Diego, California, publicou, em 2009 e 2010, na revista Currents in Biblical Research, dois importantes artigos sobre a pesquisa de Oseias no século XX e primeira década do século XXI: O casamento de Oseias na pesquisa do século XX e Oseias 4-14 na pesquisa do século XX. Os artigos estão disponíveis online1:
KELLE, B. E. Hosea 1–3 in Twentieth-Century Scholarship. Currents in Biblical Research, 7.2, p. 179-216, 2009.
KELLE, B. E. Hosea 4–14 in Twentieth-Century Scholarship. Currents in Biblical Research, 8.3, p. 314-375, 2010.
Vou resumir aqui os pontos principais destes dois artigos, na maior parte das vezes, apenas traduzindo livremente alguns trechos ou organizando em outra ordem as palavras do autor. Por isso não uso aspas. Lembrando que também deixo de citar as inúmeras obras pelas quais circula o autor, mas que recomendo sejam conferidas nas bibliografias que estão no final dos artigos.
Todo mundo que alguma vez já leu o livro de Oseias sabe que seus três primeiros capítulos falam de um tumultuado casamento do profeta com a prostituta Gomer, com quem teve três filhos.
Mas até hoje não sabemos se o livro está falando de uma experiência real do profeta, que teria se casado, de fato, com uma prostituta, ou se temos aqui apenas uma parábola para simbolizar a relação de Iahweh com Israel. Parece que os elementos do texto são insuficientes para uma decisão definitiva.
Certo é que este episódio ou metáfora acaba servindo de medida para o leitor olhar o restante do livro, os capítulos 4 a 14 de Oseias.
1. O casamento de Oseias na pesquisa do século XX
No resumo do artigo sobre o casamento de Oseias na pesquisa do século XX Brad E. Kelle diz:
Ao longo do século XX os estudos acadêmicos sobre o livro de Oseias concentraram-se predominantemente na metáfora do casamento em Os 1-3. Os estudiosos, com frequência, viam esses capítulos como estabelecendo as principais questões interpretativas para a mensagem do profeta e do livro como um todo, embora ainda persista a falta de consenso a respeito das questões exegéticas mais básicas.
Novos estudos têm, com razão, tentado ir além desse isolamento de Os 1-3. Este artigo analisa as principais tendências da interpretação moderna desses capítulos, com especial atenção para a segunda metade do século XX.
Do início do século XX até os anos 80, as pesquisas acadêmicas concentraram-se principalmente na reconstrução biográfica do profeta e em sua vida familiar, bem como em preocupações históricas e questões relacionadas à crítica das formas.
A partir da década de 30 a pesquisa preocupou-se particularmente em ler Os 1-3 no contexto de um pretenso culto da fertilidade baalista no Israel do século VIII a.C.
A partir dos anos 80 as leituras crítico feministas de Os 1-3 passaram a ocupar uma posição de destaque. Nos anos subsequentes essas preocupações foram complementadas por uma ênfase crescente na teoria da metáfora conceptual, bem como em novos tipos de análises literárias orientadas para análises sócio-históricas.
Na página 182 o autor sintetiza a pesquisa sobre Os 1-3 ao longo do século XX da seguinte maneira:
De 1900 até por volta de 1980, as principais tendências interpretativas de Oseias 1–3 priorizaram a biografia do profeta e as análises histórico-crítica, formal e textual da linguagem e das imagens do livro. Investigações anteriores à década de 30 dedicaram muita energia à reconstrução dos detalhes de Gomer como uma esposa infiel, enquanto a pesquisa a partir da década de 30 enfatizou cada vez mais o suposto contexto de um culto sexualizado de Baal no Israel do século VIII a.C., com ênfase crescente na comparação com tradições do antigo Oriente Médio que esclarecem as imagens do texto.
A partir dos anos 80, as leituras crítico feministas e as questões relacionadas a gênero vieram à tona. Nos anos subsequentes, um enfoque particular nas análises metafóricas, literárias e simbólicas juntaram-se à variedade de tratamentos focados no gênero, resultando em novas leituras literárias e sócio-históricas que revisitam questões antigas e oferecem maneiras nunca antes vistas de conceituar o livro de Oseias como um todo, assim como a metáfora do casamento com a qual ele começa.
1.1. Sobre os estudos feministas de Oseias 1-3
Brad E. Kelle explica as abordagens feministas de Oseias 1-3 que emergiram especialmente a partir da década de 80 do século XX. Cito trechos das páginas 197-199:
A partir da década de 1980 a crescente onda de análises feministas invadiu os estudos de Oseias, juntamente com as principais correntes de estudos históricos, comparativos e teológicos. Dentro de poucos anos os estudos baseados em gênero virtualmente dominaram a abordagem acadêmica de Oseias, e os capítulos 1 a 3 tornaram-se rapidamente um dos principais focos da crítica bíblica feminista em geral.
O surgimento de estudos feministas críticos marcou uma mudança significativa nos estudos de Oseias. Antes dos anos 80 os estudiosos exploraram amplamente a metáfora do casamento de Oseias sob uma ótica teológica e histórica, enfatizando as experiências de Oseias e a natureza do amor de Iahweh. Desde o surgimento da crítica feminista, a metáfora tem sido cada vez mais examinada em tópicos como pornografia e violência sexual.
A crítica feminista básica de Oseias 1-3 estuda o conteúdo e as implicações do texto, especialmente as construções ideológicas do imaginário e como elas moldam as experiências das mulheres: o discurso objetifica a sexualidade feminina, nega qualquer subjetividade significativa à mulher, estabelece uma relação hierárquica que iguala o divino ao masculino e o pecaminoso ao feminino e legitima a violência física e sexual contra uma mulher.
Há muitas e diferentes abordagens feministas de Oseias. Uma vertente, por exemplo, faz uma crítica não apenas ao conteúdo dos capítulos, mas também às maneiras pelas quais os comentaristas bíblicos antigos e modernos, especialmente os masculinos, identificaram-se com as imagens do texto, adotaram seus preconceitos ideológicos e reinscreveram sua misoginia. Essas críticas muitas vezes observam que os comentaristas tradicionalmente simpatizavam quase completamente com o marido supostamente abandonado, e ignoraram Gomer e os filhos. Tais comentaristas, ao olhar para Gomer em Oseias 1-3, oscilam entre a fantasia erótica e a condenação moralista.
1.2. As metáforas de Oseias 1-3
Brad E. Kelle nas páginas 202-208, trata dos estudos que olham o texto a partir de suas metáforas.
Virtualmente toda tendência interpretativa nos estudos sobre Oseias 1–3 preocupou-se de alguma forma com as metáforas do texto.
Desde a década de 80 do século XX, no entanto, a abordagem de Oseias através das lentes da metáfora, especialmente o uso da teoria da metáfora conceptual, suscitando a questão da função primária das imagens matrimoniais do texto, alcançou uma posição de destaque nos estudos acadêmicos do livro do profeta2.
Naturalmente esses estudos fazem uso de insights de reconstrução histórica, dados comparativos e análise de gênero, mas eles são caracterizados por uma preocupação central em elucidar a principal questão subjacente ou foco retórico que está por trás das metáforas de Oseias. Parte da explicação para o aparecimento desses estudos focados em metáforas é a insatisfação com os resultados das leituras biográficas e históricas.
Nos vários estudos sobre as metáforas de Oseias 1-3, encontramos três interpretações predominantes:
a. interpretação cultual
b. interpretação socioeconômica
c. interpretação histórico-política
a. Interpretação cultual
A interpretação mais duradoura das imagens de Oseias 1–3, que alcançou apoio quase unânime durante vários períodos do século XX, compreende o discurso como se referindo a um conflito religioso generalizado no Israel do século VIII a.C. entre o javismo e o baalismo, e como simbolizando a apostasia de Israel através de alguma forma de culto a Baal (…) Dado que virtualmente todas as interpretações cultuais de Oseias 1–3 ligam esses capítulos de alguma forma a um suposto baalismo ativo nos dias de Oseias, os estudos frequentemente consideram as metáforas do texto como fontes para reconstruir a história da religião israelita.
Esse estudo histórico-religioso chamou a atenção da academia e passou de um consenso relativamente estável em meados do século XX para um estado de debate fragmentado na primeira década do século XXI. As questões mais importantes dizem respeito às definições adequadas de Baal e baalismo em relação à linguagem e às imagens de Oseias.
A suposta prática da prostituição cultual formou o exemplo mais marcante de tais interpretações de fertilidade de Oseias 1–3. Estudiosos extraíram evidências para essa prática principalmente de textos proféticos e escritores clássicos como Heródoto, e sugeriram que as imagens sexuais de Oseias retratam Israel como literalmente envolvido em tais rituais para Baal.
Desde a década de 80, no entanto, estudiosos têm desafiado quase todos os aspectos das evidências literárias e arqueológicas comumente citadas para esta prática em geral, e sua relevância para o estudo de Oseias 1–3 em particular. O consenso atual parece ser que a noção de uma instituição de prostituição cultual fornecendo o contexto para textos como Oseias 2 não pode mais ser sustentada sem grande cautela.
Esses desenvolvimentos relativos à noção específica de prostituição cultual são representativos das mudanças que ocorreram nas duas últimas décadas em relação à ideia geral de um culto sexual literal de Baal como a chave para a interpretação religiosa das metáforas de Oseias. Praticamente todos os ‘ritos de fertilidade’ propostos por eruditos anteriores (prostituição cultual, defloração ritual, promiscuidade sexual em festivais baalistas etc.) estão sob suspeita, e o consenso acadêmico afastou-se significativamente do conceito geral de práticas cultuais sexualizadas como pano de fundo para uma interpretação religiosa de Oseias 1–3.
Embora a falta de evidência de um culto sexualizado de Baal nos dias de Oseias tenha levado a maioria dos estudiosos a abandonar as interpretações cultuais de fertilidade de Oseias 1–3, a leitura dominante desses capítulos continua a ver o culto generalizado e não sexual de Baal no Israel do século VIII a.C. como a chave interpretativa para as metáforas do texto. Assim, enquanto as metáforas da fornicação e do adultério podem não se referir à atividade sexual literal, elas servem como metáforas negativas descrevendo o culto de Israel a Baal.
Contudo, de acordo com as recentes mudanças no estudo da história da religião israelita, a interpretação religiosa de Oseias 1–3 tornou-se mais complexa do que a noção de um simples conflito entre o javismo e o baalismo. Algumas abordagens recentes, por exemplo, identificam o pano de fundo das metáforas de Oseias não como o abandono de Iahweh por Baal por parte de Israel, mas como a prática sincrética de misturar ou identificar Iahweh com Baal.
Resumindo, a interpretação religiosa dominante das metáforas de Oseias 1–3 toma muitas formas na pesquisa atual, incluindo um conflito entre os deuses rivais Iahweh e Baal, o culto de numerosas divindades locais (os baalim), o sincretismo de Iahweh e Baal no culto israelita, e a presença de formas “não-ortodoxas” do javismo como parte da religião “popular”. Essas várias reconstruções, em oposição às leituras literais do início do século XX, representam a principal forma atual da interpretação religiosa da linguagem e das imagens de Oseias.
b. Interpretação socioeconômica
Uma leitura socioeconômica das metáforas de Oseias 1–3 apareceu mais recentemente (…) Esses estudos leram o discurso do profeta como diretamente relacionado à mudança das relações sociais, políticas e econômicas entre o rei, o sacerdote e o profeta na organização política de Israel (…) O corpo feminino sendo prostituído em Oseias 1–3 simboliza o corpo social do Israel do século VIII a.C. em meio a uma crise de identidade e condena as práticas socioeconômicas da época (…) Através do símbolo de um corpo feminino que aceita amantes ilegítimos, Oseias condena o corpo social de Israel, especialmente as elites reais que o governam, porque impõem uma nova organização social baseada na desapropriação e acumulação de terras.
c. Interpretação histórico-política
Uma série de estudos específicos sobre diferentes aspectos de Oseias 1–3 avançaram em direção a uma interpretação mais política das metáforas de Oseias (…) Citando a falta de evidência do difundido culto a Baal no Israel do século VIII a.C., algumas dessas obras examinam a imagem da esposa/mãe em Oseias 2 como uma metáfora para a cidade de Samaria e, portanto, para os líderes políticos que lá governam.
Outros observam o uso predominante de “amantes” como uma metáfora para aliados em tratados políticos do antigo Oriente Médio, bem como o uso de “fornicação” como um veículo metafórico para alianças políticas e comerciais.
Brad E. Kelle, por exemplo, sugeriu que Oseias 2 é um discurso retórico que tenta persuadir o público do profeta sobre uma crise política a partir de um ponto de vista específico. Oseias condena os governantes políticos na capital Samaria por seu envolvimento com Aram-Damasco durante a guerra siro-efraimita, feminilizando-os como mulheres sexualmente dissolutas, rotulando suas alianças políticas como fornicação e adultério, e usando o termo ‘baal’ para seu aliado arameu.
Assim, as metáforas de Oseias 2 funcionam como um discurso retórico que faz um comentário metafórico e teológico sobre os assuntos políticos de Samaria na época da guerra siro-efraimita, afirmando em última instância que os “erros políticos de Samaria e seus governantes são equivalentes à apostasia religiosa das gerações anteriores e constituem um completo abandono de Iahweh”3.
1.3. Conclusão sobre Os 1-3 na pesquisa do século XX
Depois de repassar dezenas de estudos, ele conclui nas páginas 208-209 do artigo:
Está claro que a pesquisa do século XX sobre Os 1-3 abordou uma gama excepcionalmente ampla de questões e empregou várias abordagens metodológicas que frequentemente refletiam as tendências mutáveis nos estudos bíblicos em geral.
Enquanto os estudos recentes continuam a prestar muita atenção a questões mais tradicionais, como a crítica das formas, a reconstrução biográfica e a interpretação cultual, vários novos modos de investigação abriram caminhos inovadores para o significado desses complexos capítulos.
Entre essas abordagens o uso da teoria da metáfora conceptual para debater a natureza e a função das metáforas do texto parece continuar a ocupar posição de destaque. Tais análises certamente empregarão o estudo das metáforas para uma variedade de fins, incluindo oferecer novas perspectivas de gênero para o texto e seus leitores e fornecer novas reconstruções da situação religiosa nos dias de Oseias que se movem para além do antigo enquadramento baalismo versus javismo em um retrato mais complexo das realidades sociais e religiosas que estão por trás do imaginário do texto.
Entre as tendências mais recentes que apresentam uma promessa de desenvolvimento nos próximos anos está uma ênfase nas leituras formais e sincrônicas não apenas de Os 1-3, mas também do lugar desses capítulos dentro do contexto mais amplo do livro de Oseias como um todo. Com base em alguns trabalhos anteriores que se movem nessa direção, começa-se a ouvir o apelo por leituras literárias mais sustentadas e coerentes e até mesmo interpretações do discurso orientadas por livros, em Os 1-3.
Seja testemunha um comentário sobre Oseias de Ben Zvi, de 2005, e sua insistência em ver Os 1-3 como um dos muitos conjuntos didáticos de leituras que funcionam dentro de um “livro” profético projetado intencionalmente para socializar os letrados da elite de Yehud na época pós-monárquica.
Em um nível semelhante, mas mais amplo, alguns estudos mais recentes mostram interesse crescente em interpretar Os 1-3 e, de fato, todo o livro de Oseias, no contexto do Livro dos Doze.
Acima de tudo, a abordagem adotada em vários estudos recentes, que utiliza de maneira inovadora e combina várias perspectivas metodológicas, é muito promissora para o futuro estudo de Os 1-3.
Esses tipos de análises integrativas combinam o estudo metafórico com perspectivas feministas, materialistas, antropológicas e retóricas para produzir novos insights interessantes sobre a dinâmica do texto. Tais abordagens integrativas, especialmente o uso da análise retórica para debater Os 1-3 e suas metáforas em contextos literários, históricos e comparativos interligados e seu funcionamento em contextos retóricos particulares, nos permitem abordar o texto de novo à luz do desenvolvimento de noções de discurso profético em geral e realidades sociais, políticas, antropológicas e religiosas em particular.
Porém, em vez de simplificar o(s) significado(s) de Os 1-3, estudos futuros ao longo dessas linhas prometem produzir uma diversidade de interpretações que possam refletir com precisão a complexidade dos próprios capítulos.
2. Oseias 4-14 na pesquisa do século XX
Brad E. Kelle diz, na introdução do segundo artigo, Hosea 4–14 in Twentieth-Century Scholarship, nas páginas 315-316:
O estudo do livro de Oseias no século XX e na primeira década do século XXI foi uma mistura curiosa de abertura e miopia, tradição e inovação.
Por um lado, a pesquisa abrange amplamente questões interpretativas relevantes para todos os aspectos do livro como um todo, e muitas dessas questões representam os problemas tradicionais que há muito tempo são pertinentes para o estudo crítico de toda a literatura profética da Bíblia Hebraica.
Por outro lado, a pesquisa de Oseias nas últimas décadas testemunhou o surgimento de abordagens inovadoras para vários aspectos do livro, incluindo, em particular, o estudo da metáfora e sua relação com a retórica, a construção de gênero e as estruturas e ideologias socioeconômicas.
As abordagens tradicional e inovadora, no entanto, operaram com um foco predominantemente míope quando trataram da metáfora do casamento em Oseias 1–3, levando muitas vezes à falta de envolvimento sério com outras partes do livro.
As tendências contraditórias em relação à abertura e à miopia moldaram, especialmente, o estudo moderno de Oseias 4–14. Os intérpretes negligenciaram frequentemente os problemas mais importantes encontrados no capítulos 4–14 em favor dos que foram levantados pelas narrativas relacionadas à vida pessoal de Oseias. Para alguns estudiosos, os capítulos 1-3 serviram para estabelecer a estrutura interpretativa primária através da qual todas as partes subsequentes do livro foram compreendidas.
Entretanto, desde as últimas décadas do século XX, a pesquisa de Oseias mostra um distanciamento cada vez maior destas tendências que subestimam as questões interpretativas nos capítulos 4–14 e que criam uma divisão entre o conteúdo e a dinâmica dos capítulos 1–3 e 4–14. Esse movimento levou a novas considerações sobre os materiais em Oseias 4–14, por exemplo, com nova atenção sendo dada às metáforas do texto em seus próprios termos e aos possíveis cenários de composição compartilhada e funções ideológicas para o livro como um todo.
Este artigo traça os principais contornos e tendências da interpretação moderna de Oseias 4–14, com especial atenção para os estudos da segunda metade do século XX.
Ao contrário da discussão acadêmica de outras grandes coleções proféticas, como o livro de Isaías, ou mesmo das imagens do casamento em Oseias 1–3, o estudo dos capítulos 4–14 não apresenta um movimento claro no qual novas perspectivas metodológicas substituíram nitidamente as abordagens tradicionais mais antigas. Em vez disso, quase todas as antigas pesquisas acadêmicas sobre os capítulos 4–14 permanecem vivas na atual abordagem crítica.
No entanto, os estudiosos agora fazem as perguntas tradicionais a partir de novos ângulos e as colocam em diálogo com algumas linhas de pesquisa anteriormente inexploradas, ambas amplamente geradas por influências interdisciplinares, especialmente aquelas derivadas da análise socioantropológica e da teoria da metáfora conceptual.
A crítica formal, por exemplo, talvez constitua a abordagem clássica de Oseias 4–14, e essa perspectiva continua a ocupar um lugar de destaque nos exames desses capítulos. Mas a literatura erudita agora coloca a análise crítica da forma seminal de Wolff (1974), juntamente com a reformulação de Ben Zvi do gênero, cenário e função de Oseias na origem dos círculos de escribas no Yehud pós-exílico (2005).
Essas reconsiderações das atividades tradicionais tomam forma ao lado de linhas de pesquisa anteriormente inexploradas, como leituras sincrônicas, literárias e teológicas, os estudos do Livro dos Doze e a teoria da metáfora, que estão encontrando um lugar cada vez mais destacado na pesquisa de Oseias.
2.1. As críticas de Oseias à monarquia
Brad E. Kelle trata das críticas do profeta à monarquia nas páginas 335-336:
Um aspecto fundamental da pesquisa sobre Oseias 4–14 no século XX é a investigação da relação do profeta com as instituições sociais, religiosas e políticas de seu tempo, especialmente a monarquia, o sacerdócio e a profecia.
O debate sobre a atitude do profeta em relação à monarquia ocupou um lugar de destaque a este respeito. Várias passagens em Oseias explicitamente se referem à monarquia, muitas vezes falando sobre os erros e/ou remoção dos governantes e enfatizando o comportamento inadequado do rei nas atividades políticas, militares e cultuais4. Os textos tratam, na maioria dos casos, da monarquia de Israel Norte, com apenas Os 5,10 falando de Judá. Embora as referências à monarquia em Os 2,2 e Os 3,4-5 sejam positivas, todas as referências em Oseias 4–14 são negativas. Entre estas, a condenação enigmática em Os 8,4 tem consistentemente atraído mais atenção. E seu significado continua a desafiar os especialistas. Diz Os 8,4a: “Eles instituíram reis sem o meu consentimento, escolheram príncipes, mas eu não tive conhecimento”.
A discussão em torno de Os 8,4 é representativa da gama mais ampla de interpretações, feitas ao longo do século XX, da posição de Oseias a respeito da monarquia. A principal questão que dá origem a interpretações divergentes centra-se principalmente no seguinte dilema: Oseias condena a própria existência da instituição monárquica? Ou apenas faz uma crítica mais específica a uma determinada monarquia ou às decisões políticas reais?
Nessa linha, os estudiosos leram as referências de Oseias à monarquia de várias formas. São três as posições principais dos estudiosos:
a. Oseias se opõe à instituição da monarquia
b. Oseias vê a monarquia de Israel Norte como ilegítima
c. Oseias condena reis específicos, especialmente do reino do norte, por causa de suas decisões equivocadas.
Mas há autores que fazem uma análise mais complexa das referências do livro à monarquia. E argumentam que a visão da monarquia no livro é ambígua. Dizem que é preciso abandonar as supersimplificações de muitas análises e demonstram que todas as interpretações acadêmicas usuais, como as três acima, podem encontrar apoio dentro das passagens relevantes (…) Oseias, na verdade, reflete a profunda tensão e ambiguidade entre a natureza problemática da própria instituição da monarquia e a percepção de que a monarquia desempenhará um papel no futuro da comunidade restaurada.
2.2. A crítica de Oseias aos sacerdotes e ao culto
“Porque é solidariedade (hesedh) que eu quero e não sacrifício,
conhecimento de Deus [= prática do javismo] mais do que holocaustos” (Os 6,6).
A pergunta agora é sobre a posição de Oseias a respeito do culto e do comportamento dos sacerdotes. Brad E. Kelle diz na página 336:
Os estudos sobre Oseias no século XX têm participado intensamente do longo debate sobre a relação entre os profetas e as práticas cultuais israelitas.
As respostas tradicionais durante grande parte do período moderno a respeito das críticas de Oseias aos sacerdotes e ao culto israelitas propõem ou que ele rejeita o culto como tal, ou que ele rejeita sacerdotes específicos por causa de suas atitudes nas práticas cultuais, mas não o culto em si.
No entanto, a conclusão mais amplamente compartilhada pelos estudiosos modernos explica a visão predominantemente negativa de Oseias sobre o culto e os sacerdotes como uma reação à suposta influência do baalismo na vida religiosa e nas práticas do Israel do século VIII a.C .5
2.3. As metáforas de Oseias falam da crise social de Israel
Nas páginas 337-338 diz Brad E. Kelle:
Desde a década de 80 do século XX o estudo tradicional da história e das instituições israelitas passou por uma das reformulações mais significativas nas abordagens acadêmicas de Oseias. E na primeira década do século XXI essa reformulação passou a ocupar um lugar central no estudo do livro. Sob a crescente influência das perspectivas das ciências sociais nos estudos bíblicos em geral, os últimos anos do século XX e a primeira década do século XXI testemunharam o aparecimento de análises socioeconômicas para explicar o contexto do livro de Oseias.
Tomados como um todo, esses trabalhos interpretam as metáforas mais significativas de Oseias, especialmente as metáforas sexuais relacionadas à promiscuidade, como figuras de linguagem para determinados desenvolvimentos sociais e econômicos em Israel no século VIII a.C.
Baseando-se em perspectivas antropológicas e sociológicas do estudo comparativo das sociedades agrárias, essas novas abordagens identificam o século VIII a.C. como uma época em que Israel passou por uma mudança dramática em seu sistema econômico devido à expansão do poder real no território e à política externa implantada. A sociedade israelita experimentou um aumento da desigualdade entre a elite e os camponeses, viu o surgimento de uma economia tributária com concessões reais de terra e com a criação de culturas rentáveis e o crescimento do comércio exterior.
Os oráculos e as metáforas de Oseias refletem esses desenvolvimentos, especialmente as maneiras pelas quais todos os outros elementos do culto, da política, etc. se tornaram personificações da crise social (…) Há autores, por exemplo, que interpretam as imagens da prostituição usadas no livro de Oseias como um símbolo do corpo social desintegrado de Israel.
2.4. Há quatro categorias de estudos das metáforas em Oseias
Nas páginas 355-360 do artigo sobre Oseias 4-14, Brad E. Kelle classifica os estudos das metáforas no livro de Oseias, ao longo do século XX e primeira década do século XXI, em quatro categorias. Ele diz:
Os estudos das metáforas no livro de Oseias podem ser agrupados em quatro categorias:
a. atenção às metáforas divinas e humanas
b. interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas
c. a natureza indeterminada e instável das metáforas do livro
d. novas variações nas abordagens feministas de imagens ao longo do livro
a. Atenção às metáforas divinas e humanas
A primeira categoria de estudo das metáforas, que explora as imagens do livro que falam de Iahweh e das pessoas, é a mais comum, com algumas abordagens que tratam das representações da natureza e suas implicações ecológicas.
Comentários ao longo de todo o século XX destacam o uso de imagens familiares – marido-esposa, pais – como as principais representações da relação entre Iahweh e o povo, mas também enfatizam a vasta gama de metáforas usadas tanto para Iahweh quanto para o povo. Essas metáforas se enquadram em vários agrupamentos, incluindo representações de Iahweh com imagens de atividades humanas, de animais e da natureza, assim como representações do povo com imagens de animais e da agricultura.
As metáforas do livro de Oseias para falar de Iahweh são predominantemente masculinas. Mas o capítulo 11 tem provocado intensos debates, pois algumas intérpretes feministas afirmam que a linguagem do capítulo retrata Iahweh em termos femininos, como uma mãe que alimenta uma criança, quando fala de Iahweh que cuida de seu povo. A presença de tal linguagem, argumenta-se, pode dar origem a uma teologia feminista que oferece uma alternativa à natureza predominantemente patriarcal das metáforas de Oseias. No entanto, alguns estudos recentes sobre as metáforas do livro, incluindo algumas obras produzidas por estudiosos feministas, argumentam que a linguagem do capítulo 11 é ambígua, e que as interpretações abertamente feministas têm uma fundamentação frágil.
b. Interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas
A segunda categoria de estudo das metáforas no livro de Oseias, que oferece interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas das imagens do livro, aparece em trabalhos recentes que tentam explicar o contexto do discurso de Oseias.
A interpretação mais persistente das metáforas do livro, que alcançou apoio quase unânime durante vários períodos do século XX, compreende as imagens como referência a um conflito generalizado entre o javismo e o baalismo no século VIII a.C.
Vários trabalhos recentes, entretanto, sugerem uma leitura socioeconômica das metáforas de Oseias, baseada em grande parte nas reconstruções da pesquisa histórica mais recente. Essas obras interpretam as metáforas do profeta como símbolos das mudanças nas relações sociais e econômicas ocorridas em Israel no século VIII a.C.
c. A natureza indeterminada e instável das metáforas do livro
A natureza indeterminada e instável das metáforas no livro de Oseias constituem a terceira categoria de estudos. Há autores, embora sejam minoria, que percebem a linguagem do livro como fraturada e suas metáforas como desintegradas, refletindo, propositalmente, a situação da época.
d. Novas variações nas abordagens feministas de imagens ao longo do livro
A quarta categoria de estudo das metáforas de Oseias traz novas abordagens feministas, postulando que as metáforas matrimonias do livro não devem ser vistas como padrão para a interpretação das outras metáforas, mas sim que cada metáfora deve ser lida no seu contexto e na sua função retórica própria. E há, na primeira década do século XXI, outras variações nas abordagens das metáforas femininas e masculinas de Oseias.
2.5. O texto hebraico do livro de Oseias é difícil
O texto hebraico do livro de Oseias é difícil, digo sempre aos estudantes de Literatura Profética. Basta ver a quantidade significativa de notas de rodapé que as traduções modernas da Bíblia precisam colocar. E esta dificuldade textual é uma pena, já que dificulta a leitura e a compreensão do livro.
Especialmente porque considero Oseias e Jeremias como os profetas mais radicais de Israel. Em que sentido? Porque “quase” entenderam, apesar dos limites da linguagem teológica, que a raiz principal de todos os problemas que eles denunciam é a estrutura tributária dos dois Estados israelitas governados por Samaria e Jerusalém.
No citado artigo, Brad E. Kelle fala das dificuldades do texto hebraico de Oseias e das explicações apresentadas pelos estudiosos do livro do profeta para tal fenômeno ao longo do século XX e primeira década do século XXI. Ele diz nas páginas 317-321:
No século XX Oseias chamou a atenção dos especialistas em crítica textual, em grande parte porque o texto hebraico do livro é extremamente difícil e muitas vezes obscuro. Praticamente todos os comentários importantes do período moderno contêm alguma afirmação de que o texto de Oseias perde apenas para Jó, na Bíblia Hebraica, quanto ao número de problemas textuais, idiossincrasias literárias e passagens ininteligíveis. E, geralmente, tendo muitos versículos tão mal preservados que o sentido original dificilmente pode ser determinado com certeza. Tais dificuldades linguísticas incluem elipses, hapax legomena [= palavras usadas uma só vez] e outras construções que vão além da gramática hebraica padrão.
Ao longo dos primeiros três quartos do século XX, os estudiosos de Oseias atribuíram as obscuridades da linguagem do livro à corrupção textual ocorrida no processo de transmissão e, assim, propuseram numerosas emendas baseadas em outros manuscritos e versões disponíveis.
Contudo, o último quarto do século XX testemunhou uma mudança significativa na avaliação das particularidades textuais de Oseias. Em contraste com as explicações anteriores dos estudiosos envolvendo a corrupção do texto durante a transmissão, o consenso mais recente conclui que as dificuldades textuais de Oseias refletem um dialeto peculiar do hebraico do norte, por ser Oseias um profeta do reino de Samaria.
Entretanto, há autores que buscam uma terceira via entre a proposta de corrupção/emenda do texto e a proposta de um dialeto do norte, concluindo que muitas das características “problemáticas” de Oseias, como formas verbais incomuns, ortografia arcaica etc, são elementos gramaticais e sintáticos legítimos quando vistos em seu contexto linguístico mais amplo, especialmente em comparação com outros textos do antigo Oriente Médio.
E há autores que recorrem a teorias literárias pós-modernas para explicar as dificuldades do texto de Oseias. Yvonne Sherwood, por exemplo, lê as irregularidades do texto como a elaboração proposital de um “ritmo desarticulado”, que serve para chacoalhar as imagens de Iahweh e do povo de Israel, presentes no texto, e desorientar os leitores para que possam fazer múltiplas leituras. Essa perspectiva nos convida a explorar as particularidades linguísticas de Oseias sob a ótica de uma linguagem de impacto que usa termos sexualmente chamativos para provocar o leitor6.
2.6. Oseias pode ser usado como fonte para a história de Israel Norte?
No artigo de Brad E. Kelle sobre Oseias 4-14 uma das perguntas obrigatórias é se o livro pode ser usado como fonte para a história de Israel Norte entre 755 e 725 a.C., época da atuação do profeta. Como a pesquisa do século XX e primeira década do século XXI lidou com isso?
Diz o autor nas páginas 332-334:
Baseando-se na visão comum do século XX de que o livro contém material original do próprio profeta do século VIII a.C., os estudos modernos têm visto Oseias como uma fonte útil e importante para a reconstrução histórica do Israel pré-exílico. Os intérpretes observaram diversos elementos no livro como as aparentes referências a ações políticas e tratados envolvendo Israel, a Assíria e o Egito. Embora muitos desses textos sejam vagos, não oferecendo referências específicas ou nomes de pessoas claramente identificáveis, durante a maior parte do século XX, antes dos anos 80, a visão dominante nos estudos professava um alto nível de confiança em Oseias como uma fonte histórica utilizável e identificava a informação histórica produzida pelo livro como diretamente relevante para o reino do norte de Israel no século VIII a.C. Mais ainda: o livro foi considerado particularmente útil para a história do reino do norte porque Oseias é o único profeta natural do reino de Israel Norte que lá atuou e de quem temos um livro.
Segundo os estudiosos de Oseias, há várias referências históricas no livro, mas o tópico mais comum entre as interpretações históricas de Oseias ao longo do século XX foi a tentativa de relacionar textos específicos do livro com os eventos da guerra siro-efraimita (ca. 734–731 a.C).
Apesar da natureza duradoura das leituras que usam Oseias como fonte histórica para o Israel do século VIII a.C., há uma tendência crescente nos estudos desde a década de 80 que confia muito menos na capacidade de Oseias de fornecer informações históricas utilizáveis. Algumas dessas abordagens são simplesmente mais cautelosas em relação à potencial informação histórica de Oseias7.
Algumas das publicações mais recentes sobre Oseias, no entanto, contribuíram com uma nova formulação da antiga linha de investigação histórica. Esses estudos mostram uma abertura renovada para a possibilidade de que os textos de Oseias possam produzir informações históricas. Mas, de acordo com algumas das novas formulações da crítica da redação, eles afirmam que a informação histórica produzida por Oseias consiste primordialmente, talvez unicamente, naquilo que a forma final do texto revela sobre seus autores, público, circunstâncias e preocupações.
O comentário de Ben Zvi (2005), com sua proposta sobre o livro de Oseias ter sido criado para ser lido e relido pelos eruditos do Yehud pós-exílico, mais uma vez fornece um exemplo claro dessa tendência. Ele conclui que o livro contém apenas referências históricas específicas suficientes para estabelecer uma estrutura geral – por exemplo, uma sequência de reis de Judá -, e que ele não pode ser considerado como uma fonte confiável para uma compreensão da história do Judá monárquico e nem para a história do reino do norte nos dias de Jeroboão II8.
2.7. Conclusão sobre Os 4-14 na pesquisa do século XX
Nas páginas 360-361 Brad E. Kelle conclui o artigo sobre Os 4-14 na pesquisa do século XX e primeira década do século XXI da seguinte maneira:
A pesquisa do século XX sobre Oseias 4–14 abordou uma gama excepcionalmente ampla de perguntas e empregou várias abordagens metodológicas que geralmente refletem as tendências em mudança nos estudos bíblicos em geral.
No início do século XXI, várias áreas de estudo de longa data permanecem no centro das discussões em andamento, mas novas vias de pesquisa também surgiram. O cerne da pesquisa sobre Oseias está situado em algum lugar entre as reformulações em andamento das mais sofisticadas formas tradicionais de leitura e as novas linhas de investigação que ampliam a discussão além das estratégias interpretativas convencionais do período moderno.
Entre essas abordagens, é provável que o uso da teoria da metáfora conceptual para explicar a natureza e a função da linguagem do livro continue a ocupar posição de destaque. Tais análises certamente empregarão o estudo das metáforas para uma variedade de fins e sob várias perspectivas, levando em conta os elementos do texto com vistas a considerações religiosas, políticas, socioeconômicas e de gênero.
Esses tipos de análises integrativas e multidimensionais produzirão novas ideias interessantes sobre a dinâmica do texto. Em vez de simplificar o significado de Oseias 4–14, no entanto, estudos futuros nesta direção prometem produzir uma diversidade de interpretações que refletem com precisão a complexidade dos próprios capítulos.
1. Cf. Brad Kelle em Academia.edu Este resumo foi publicado em 11 postagens no blog Observatório Bíblico nos meses de maio e junho de 2019. Cf. O livro de Oseias na pesquisa do século XX. Sobre a revista Currents in Biblical Research, cf. aqui. Os dois artigos de Brad E. Kelle podem também ser baixados, em pdf, aqui e aqui. Quem preferir apenas a bibliografia citada nos dois textos, clique aqui e aqui.
2. A Teoria da Metáfora Conceptual foi proposta por George Lakoff e Mark Johnson em seu livro Metaphors We Live By, de 1980. Sua premissa básica é a de que a metáfora não é mero recurso estilístico, mas uma maneira de conceptualizar a própria experiência humana. Para Lakoff e Johnson, a metáfora é o mecanismo fundamental não apenas da linguagem cotidiana, mas também de nosso próprio funcionamento cognitivo. É praticamente impossível falar e, consequentemente, pensar, sem recorrer a mecanismos metafóricos, porque a metáfora é a ferramenta linguística que melhor do que qualquer outra expressa nossa interação corporal com o mundo. Sobre isto, cf. Teoria da metáfora conceptual, post publicado no Observatório Bíblico em 23 de fevereiro de 2020.
3. KELLE, B. E. Hosea 2: Metaphor and Rhetoric in Historical Perspective. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2005, p. 283-284. Disponível online.
4. Grande instabilidade tomou conta do reino de Israel Norte nos seus últimos 30 anos, pois de 753 a 722 a.C. seis reis se sucederam no trono de Samaria, abalado por assassinatos e golpes sangrentos. Houve 4 golpes de Estado (golpistas: Salum, Menahem, Pecah e Oseias) e 4 assassinatos (assassinados: Zacarias, Salum, Pecahia e Pecah). Confira sobre isto o item “Israel é destruído pela Assíria” no artigo O contexto da Obra Histórica Deuteronomista, publicado na Ayrton’s Biblical Page.
5. Sobre a crítica profética ao culto, cf. Três teorias sobre a crítica profética ao culto, post publicado no Observatório Bíblico em 4 de novembro de 2019.
6. Cf. SHERWOOD, Y. The Prostitute and the Prophet: Reading Hosea in the Late Twentieth Century. 2 ed. London: Bloomsbury T&T Clark, 2004.
7. Observo que isto está em consonância com as tendências mais recentes sobre o uso da Bíblia Hebraica como fonte para a História de Israel. Cf., sobre isso, 4 textos na Ayrton’s Biblical Page: A História de Israel no debate atual; Pode uma ‘História de Israel’ ser escrita?; Resenha de Philip R. Davies, In Search of ‘Ancient Israel’ e Resenha de Israel Finkelstein ; Neil Asher Silberman, The Bible Unearthed. Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts.
8. Cf. BEN ZVI, E. Hosea. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2005.