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Fundamentada em tais pressupostos, a antropologia desenvolveu, neste período, grande interesse pelas sociedades primitivas e buscaram-se práticas e ideias primitivas que teriam sobrevivido na forma de crenças e superstições nas sociedades modernas. Assim, a diferença entre uma sociedade primitiva e uma sociedade complexa não é de “essência”, mas apenas de “grau”.[56]
A fase seguinte da antropologia é marcada pela preocupação com o rigor na pesquisa de campo e com a abordagem funcionalista. A antropologia orienta-se, agora, para uma observação mais objetiva das culturas ou instituições, numa abordagem mais descritiva que valorativa, enfatizando a relação entre os diversos elementos que as compõem. Os funcionalistas defendem a observação participativa: os antropólogos devem conviver com os povos analisados observando os detalhes dos seus costumes sociais, mesmo quando parecem sem sentido.
O funcionalismo mudou a tendência das teorias evolucionistas, partindo do princípio de que cada sociedade deve ser analisada em si mesma como um todo integrado de relações e costumes. Assim, “a permanência de formas tradicionais de organização social deveria ser explicada pela função que elas desempenhassem do ponto de vista da sociedade global, e não pelo ‘atraso’ em relação a uma suposta evolução geral das sociedades humanas”, explica Maria Cristina Castilho Costa[57].
Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942), antropólogo polonês, foi o grande teórico da observação participante. Malinowski viveu entre os nativos das ilhas Trobiand, próximo à Nova Guiné, de 1914 a 1918. Definiu o conceito de função, em nível primário, como a resposta de uma cultura determinada às necessidades básicas do homem, tais como a alimentação, a habitação ou a defesa. Mas função é também social, respondendo às necessidades sociais do grupo, tais como as relações conjugais e a paternidade[58].
Outro importante antropólogo funcionalista foi o inglês Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955), que pesquisou os nativos das ilhas Andaman, no golfo de Bengala. Destacam-se entre suas obras A organização social das tribos australianas; Sistemas africanos de parentesco e casamento; Estrutura e função na sociedade primitiva[59].
Muitos outros aspectos e correntes da antropologia poderiam ser abordados, como a abordagem estruturalista e seu campeão Claude Lévi-Strauss. Mas vamos parar por aqui.
[56]. Cf. CASTILHO COSTA, M. C. Sociologia: Introdução à Ciência da Sociedade, p. 92.
[57]. Idem, ibidem, p. 93. Cf. também CARTER, C. E. A Discipline in Transition: The Contributions of the Social Sciences to the Study of Hebrew Bible, p. 7-8.
[58]. De Malinowski podem ser lidos Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978, Coleção “Os Pensadores” e Uma teoria científica da cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.
[59]. CASTILHO COSTA, M. C. o. c., p. 95, observa que “Malinowski e Radcliffe-Brown concordavam num ponto: a grande lei sociológica universalmente aplicável era a de que toda e qualquer sociedade constitui um todo integrado de aspectos que respondem a problemas de sobrevivência enfrentados por todos os homens em todos os lugares. As necessidades de alimento, abrigo, reprodução e defesa são respondidas nas formações sociais por modos peculiares de vida, por um sistema singular de instituições inter-relacionadas e que funcionam conjuntamente”.
Última atualização: 27.04.2019 – 13h16