A denúncia profética da corrupção no Sl 12

A denúncia profética da corrupção (Salmo 12). Vida Pastoral, São Paulo, n. 141, p. 2-6, 1988.

1. Do mestre de canto. Para instrumentos de oito cordas. Salmo. A Davi.

2. Socorro, Javé! O fiel sumiu!

Desapareceu a fidelidade entre os homens:

3. cada qual mente ao seu próximo

com lábios enganadores e segundas intenções.

4. Que Javé corte todos os lábios enganadores

e a língua arrogante

5. dos que dizem: “Nossa força está na língua

e nossas armas são os lábios;

quem poderá nos dominar?”

6. Javé declara: “Agora me levanto para defender

os pobres oprimidos e os necessitados que gemem;

vou salvar quem quer ser salvo!”

7. As palavras de Javé são palavras sinceras,

prata pura, sem impureza,

sete vezes refinada.

8. Sim, Javé, tu nos guardarás,

livrando-nos para sempre desta gente:

9. por toda parte rondam os injustos,

quando a corrupção é exaltada entre os homens.

I. O SALMO 12 E A CORRUPÇÃO EM ISRAEL

1. O salmo 12 é uma exortação profética

Dizem os especialistas que este é um salmo de exortação profética contra os ímpios. O profeta, no meio da multidão reunida para uma festa, denuncia os infiéis à aliança por seus atos, sobretudo a injustiça e a apostasia. Outros quatorze salmos poderiam ser classificados da mesma maneira (Cf. Marina Mannati. Les Psaumes I. Paris: Desclée de Brou­wer, 1966, p. 57-59; Para rezar com os Salmos. São Paulo: Paulinas, 1981, p. 69).

Vamos acompanhar a leitura do salmo 12 com dois olhares: um voltado para o passado, outro para o presente. No passado, vamos investigar o contexto, o sentido e as propostas do salmo 12. No presente, abordaremos o tema da corrupção, tratado pelo salmo, e tão em evidência nos dias que correm.

Pois, como diz Ivo Storniolo, este salmo nos convida “a olhar para o fracasso e a derrota, o sofrimento e a marginalização do povo, aceitando o desafio de descobrir as estruturas do mal, escondidas por trás das estruturas e instituições da sociedade e da política internacional” (Luís Alonso Schökel e Ivo Storniolo. Salmos e Cânticos, a oração do povo de Deus. 2ª ed. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 548).

Encontramos o assunto do Sl 12 em vários profetas. Com destaque para Oseias, Miqueias, Jeremias e Trito-Isaías.

Em Os 4,1-3, por exemplo, o profeta observa que a aliança javista não é mais respeitada no norte do país. Isto se manifesta como ausência de integridade e solidariedade nas relações sociais. Por isso aumentam o perjúrio, o assassínio, o roubo, o adultério.

Mq 7,1-7, no sul, denuncia o desaparecimento da fidelidade e da justiça na sua época. E garante que existe tremenda aptidão de seus contemporâneos para o exercício do mal:

“Para fazer o mal as suas mãos são hábeis:

o príncipe exige,

o juiz julga por suborno

e o grande expressa a sua ambição” (v. 3).

Oseias e Miqueias pertencem ao século VIII a.C. Jeremias é do século seguinte. Mas a corrupção continua. É só ler Jr 7,1-15 e 9,1-8. São duas intervenções do profeta na época do governo de Joaquim (609-598 a.C.), quase no final do reino de Judá, destruído poucos anos mais tarde. Em ambas ele denuncia o engano e a corrupção reinantes no país. O tema da língua/palavra, usada como arma destruidora, é central nas palavras do profeta.

“A radiografia impiedosa e pessimista que Jeremias faz da sociedade de seu tempo é, na prática, a mesma que o nosso salmista registra amargamente também para o seu tempo” (Gianfranco Ravasi. Il libro dei Salmi I. Bolonha: EDB, 1981, p. 244).

Mas também no imediato pós-exílio um profeta anônimo, hoje citado como Trito-Isaías, grita:

“O direito foi expelido,

a justiça se pôs à distância

porque a verdade estrebuchou na praça

e a retidão não pode apresentar-se” (Is 59,14).

Vemos, em todas estas passagens proféticas, a denúncia da prática da injustiça e da violação do direito, acobertadas pelo próprio poder e mistificadas por um discurso enganador.

Estes paralelos levam-nos a pensar numa possível situação para o surgimento do Sl 12. Durante uma festa, como em Jr 7,1-15, um profeta adverte Israel contra a infidelidade à aliança (vv. 2-3). Consciente de seus danos, ele se dirige a Javé (vv. 4-5) pedindo justiça. Transmite, em seguida, na forma de um oráculo, a resposta solene de Deus (v. 6), terminando em sábio comentário (vv. 7-9).

Continue a leitura na Vida Pastoral clicando aqui.

Leia Mais:
Sobre minhas publicações

A vocação do profeta Jeremias

Arrancar e destruir, construir e plantar: A vocação de Jeremias. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 15, p. 11-22, 1987.

Convido o leitor para uma viagem ao passado. Uma volta, no tempo, de uns 2600 anos. Primeira parada: Jerusalém, ano 605 a.C.

E aí o drama: a Jeremias, experiente profeta de 45 anos de idade, foi proibida a entrada no pátio do Templo. Após 22 anos de labuta, “homem de disputa e homem de discórdia para toda a terra” (Jr 15,10), o governo e os sacerdotes do Templo querem calar, definitivamente, a sua boca, afastando-o do povo.

Ele, porém, não é de desistir. Convoca seu secretário Baruc, a quem dita sua mensagem aos israelitas. Mensagem que, em seguida, é lida para o povo, para os altos funcionários do governo e até para o próprio rei.

Neste livro encontra-se uma página de extraordinária beleza e rico significado: é a que conta como Jeremias tornou-se um profeta (Jr 1,4-19). É a história de sua vocação. Não é um relato imediato dos acontecimentos, mas reflexão madura e revisão condensada daqueles 22 anos de luta profética. A chave que abre o sentido da vida e da ação de Jeremias.

Gostaria que o leitor me acompanhasse na leitura deste texto. Pois acredito que o espírito combativo de Jeremias pode nos estimular, hoje, diante das contantes crises que enfrentamos. Afinal, uma leitura da Bíblia que sirva de inspiração e luz para a vida real das pessoas é mais do que nunca necessária.

Penso fazer os seguintes passos:

  1. é absolutamente necessário começar com uma leitura atenta do texto, com a observação cuidadosa de seus elementos e de sua organização
  2. depois, pode-se verificar a situação da época. Aquilo que vem antes do texto
  3. em seguida, o porquê do texto, ou  a análise da situação feita pelo profeta, que lê os fatos à luz da fé
  4. agora, qual foi o comportamento de Jeremias naquela situação concreta?
  5. finalmente, a sua proposta de saída da crise

O artigo tem os seguintes itens:

1. Farei de minhas palavras um fogo em tua boca: o texto
1.1. Homem de disputa e homem de discórdia
1.2. Anuncia-se desastre sobre desastre
1.3. Estou cansado de ter piedade

2. De repente, chega sobre nós o devastador: a situação
2.1. Eu trago do norte uma desgraça
2.2. Devorará os teus filhos e as tuas filhas
2.3. Vós vos fiais em palavras mentirosas, que não podem ajudar

3. Eu chorarei em segredo pelo vosso orgulho: a análise
3.1. Tu me seduziste, Javé, e eu me deixei seduzir
3.2. Tu serás como a minha boca
3.3. Eles lutarão contra ti

4. Sempre que falo devo gritar: “Violência, opressão”: a ação
4.1. Um desastre enorme se anuncia
4.2. Tuas palavras eram para mim contentamento
4.3. Esta é a tua maldade, como é amarga
4.4. Eles cuidam da ferida de meu povo superficialmente
4.5. O rebanho de Javé é conduzido para o exílio

5. Então eu serei seu Deus e eles serão meu povo: a proposta

O leitor pode acessar em minha página, o texto Perguntas mais frequentes sobre o profeta Jeremias, onde, após 34 perguntas e respostas sobre Jeremias, encontrará uma competente e atualizada bibliografia sobre o profeta e seu livro.

Lembro ainda aos interessados em Jeremias que escrevi um livro sobre a vocação do profeta, publicado em 1992 – atualmente esgotado – partindo exatamente da estrutura deste artigo. Veja:

Nascido profeta: A vocação de Jeremias. São Paulo: Paulus, 1992, 143 p. – ISBN 8505012660.

A apresentação feita por Alberto Antoniazzi está no blog e pode ser conferida aqui.

Leia Mais:
Sobre minhas publicações

Os dez mandamentos e seu contexto social

Leis de vida e leis de morte: Os Dez Mandamentos e seu contexto social. Estudos Bíblicos n. 9,  p. 38-51, 1986.

Vamos falar dos dez mandamentos e da sociedade que os produziu. Vamos relacionar os preceitos e o seu contexto de elaboração e aplicação. E para começar, queremos esclarecer os pressupostos de nossa leitura.

Faremos uma abordagem sociológica da questão, o que já delimita, de saída nossa visão do objeto tratado. Por isso, vamos olhar a religião israelita e sua função, sob talGRUEN, W. et al. Os dez mandamentos: várias leituras. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, 1987. ponto de vista, como um produto de relações sociais específicas e, vice-versa, como produtora de relações sociais. Deixamos aos teólogos o tratamento de outros possíveis sentidos. Oferecemos aqui somente uma mediação histórico-crítica para posteriores elaborações.

Assumimos também a teoria que afirma ser a consciência dos homens determinada pelo seu ser social. E que este é condicionado pelo modo de produção da vida material.

Além disso, preferimos ler a sociedade israelita a partir de baixo, do ângulo dos grupos dominados, onde ela se define como luta, como confronto. Rejeitamos a tendência funcionalista que privilegia a ideia de ordem, de equilíbrio. Nossos critérios para tal opção são, em primeiro lugar, éticos e, só em seguida, científicos, pois acreditamos que os últimos dependem dos primeiros.

Há vários textos, na Bíblia, com dez e até doze mandamentos. Entre eles, dois são mais conhecidos: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21. Estes são os nossos dez mandamentos. Ou quase. E são muito parecidos entre si. Seriam gêmeos? Não. Nasceram em épocas diferentes. São apenas irmãos. O mais velho é Ex 20,1-17. Por isso o escolhemos. Pode nos contar mais histórias.

Agora, olhando Ex 20,1-17 mais de perto, notamos outra coisa: lá dentro, os mandamentos, cada um, têm um jeito diferente. Oito deles são escritos de forma negativa. Começam com um “não”: não matarás, não roubarás, não terás… Dois, porém, são positivos: lembra-te… honra… Ainda: alguns deles são curtos e diretos, como o “não matarás” ou o “não cometerás adultério”. Outros explicam o motivo do mandamento. Como o do sábado ou o das imagens.

Por que esta diferença? Por que alguns precisam de explicação e outros não?

Uma especialista alemã explica: “Os mandamentos que são por si mesmo razoáveis e compreensíveis no seu ambiente social não têm motivação; esta aparece somente quando um preceito torna-se problemático. Duplas ou tríplices argumentações são um sinal claro de que o mandamento é discutido, ou que é difícil compreendê-lo ou reinterpretá-lo” (H. Schüngel-Straumann. Decalogo e comandamenti di Dio. Brescia: Paideia, 1977, p. 93).

O que isto nos sugere é uma história redacional dos dez mandamentos. Provavelmente, eles, na sua origem, não eram dez. Seriam séries independentes, pequenos grupos de dois, três ou cinco preceitos. Quem os agrupou, formando o número dez, foi o redator de Ex 20,1-17. Ele é conhecido como o eloísta* e escreveu seu texto entre os anos 850 e 750 a.C. Foi certamente este teólogo quem inseriu os mandamentos no ambiente da aliança feita no Sinai entre Iahweh e Israel.

Daqui já nascem duas perguntas:

  • Se o lugar original de nascimento dos dez mandamentos não é o monte Sinai, de onde eles vêm então?
  • Por que razão o eloísta reuniu e escreveu os mandamentos muito tempo depois de seu nascimento?

Estas perguntas conduzem a duas hipóteses que guiarão nossos passos nas páginas seguintes:

1a hipótese: o lugar original dos mandamentos, ou pelo menos de alguns deles, é a sociedade israelita pré-monárquica, organizada a partir das relações de parentesco e conhecida como sociedade tribal seminômade.

2a hipótese: o eloísta, ao reunir numa lista estes dez preceitos, queria evitar, em Israel, o restabelecimento da opressão do povo, como aquela antigamente sofrida no Egito.

Depois disso, no final, faremos uma proposta: hoje, para lermos com criticidade os dez mandamentos, devemos perguntar qual é a ética dominante da sociedade capitalista e sua relação com tão antigos preceitos. Como deveriam ser lidos hoje? Seu tempo já passou ou conservam ainda alguma validade?

* Observo que este artigo, assim como outros das décadas de 80 e 90 do século XX, já estão ficando anacrônicos no tratamento de certas questões, especialmente quando o assunto é o Pentateuco ou a História de Israel. Por exemplo, hoje ninguém bem informado falaria assim com tanta segurança sobre uma redação eloísta de qualquer perícope do livro do Êxodo, como fiz em 1986. Veja sobre isto aqui, onde se afirma que já em 1975, 1976 e 1977 apareciam os estudos de John Van Seters, Hans Heinrich Schmid e Rolf Rendtorff, estilhaçando o consenso wellhauseniano do Pentateuco.

Na sequência, o artigo traz os seguintes itens:

1. Os dez mandamentos na sociedade tribal
1.1. O contexto e a forma original dos mandamentos
1.2. A organização social dos hebreus seminômades
1.3. Os mandamentos da sociedade tribal

2. Os dez mandamentos na sociedade tributária
2.1. Israel torna-se uma monarquia tributária
2.2. Os mandamentos e a sociedade tributária

3. Os dez mandamentos na sociedade capitalista
3.1. Como ler hoje os dez mandamentos?
3.2. Os mandamentos do capital
3.3. Em defesa da vida

Uma bibliografia acessível sobre o tema, em português, poderia ser:

CRÜSEMANN, F. Preservação da Liberdade: O Decálogo numa Perspectiva Histórico-Social. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST/CEBI, 2008.

GARCIA LOPEZ, F. O decálogo. São Paulo: Paulus, 1997.

GRUEN, W. et al. Os dez mandamentos: várias leituras. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, 1987 [é neste número da revista que está o meu artigo].

GERSTENBERGER, E. et al. A Lei. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 51, 1996.

STORNIOLO, I. Mandamentos, ontem e hoje (Entrevista com Pe. Ivo Storniolo). Vida Pastoral, São Paulo, n. 149 , p. 27-29, nov./dez. 1989.

Leia o artigo completo e atualizado aqui.

O retorno da consciência apocalíptica

Nestes últimos dias de aula de 2014 estou trabalhando, com o Segundo Ano de Teologia do CEARP, o tema da apocalíptica judaica na Literatura Pós-Exílica. Clique em Apocalíptica: busca de um tempo sem fronteiras e leia o texto que estamos estudando. O livro de Daniel é um dos textos abordados. Recomendo a bibliografia atualizada no final do artigo.

Pois é. O fascículo 3 de 2014 da Revista Internacional de Teologia Concilium, que recebi em setembro, trabalha também este tema: O retorno do apocalipticismo.

Diz:

Que papel desempenha a teologia no diagnóstico em que nos defrontamos do “retorno da consciência apocalíptica”? Sua tradição será uma fonte para as imagens que se adaptam ao espírito da época ou será que essa tradição judaico-cristã alberga também outros modos de leitura, que possivelmente estejam enterradas? O “fim” de um mundo e de um tempo estará apontando para o começo de um novo mundo e de um novo tempo? Ou será que esse pensamento representa apenas uma fuga da atualidade, que do contrário poderia parecer insuportável? Esse fascículo aborda o que significa “apocalíptica” na tradição bíblica, como essa tradição bíblica continua viva ou é absorvida de uma maneira nova na teologia cristã atual – e quais as consequências que surgem daí. Além disso, pedimos a alguns de nossos autores para analisarem de maneira bem concreta e explícita o tema da apocalíptica a partir de sua própria perspectiva cultural-religiosa…

The Return of Apocalypticism: In general, ‘apocalyptic’ (‘‘apocalyptic imagination’, ‘apocalyptic writing’, and so on) is now taken as referring to ‘eschatology’ (the theological doctrine of the ‘last things’), or to the onset of some ultimate horror or catastrophe, and to a compaction of historical time seemingly inimical to utopian visions or to hopeful signs of a new beginning. As association with the literal sense of the Greek apokaluptikos (=’revelation’; from apokaluptein = ‘uncover’) suggests the prospect of profound changes that might justify optimism or pessimism. An essentially negative aspect of this revived apocalyptic sensibility betrays a certain disorientation amidst the upheavals of the early twenty-first century customarily interpreted as anxiety arising from our contemporary situation or as fear of the future. Disasters are experienced as so overwhelming that images of the ‘last days’ are treated as cultural metaphors for a present age without a future, this present age being one that sees the possibilities of life as predetermined and unaffected by the shaping force of human action. Those apocalyptic images also become a signature of ‘post-modern’ culture, which treats all traditional symbols aesthetically and playfully, without any association with ethical, political or even religious convictions. One might almost be tempted to say that the more widespread this appreciation of an aestheticized apocalypticism becomes, the less attention is paid to those who are actually exposed to disasters that do indeed bear all the signs of ultimate catastrophe. Is nothing said or done about the victims of civil wars, extreme poverty, and climate disasters, precisely because their suffering is very real and not so easily assigned to the culture industry as the symbolic instances of art, culture and scholarship? Is there a similar indifference to the 85 wealthiest people in the world, who have accumulated more riches that the lesser half of the world population, or 3.5 billion people, as Oxfam asserts, because we are totally incapable of grasping this outrageous ratio? What is the role of theology in this revival of apocalyptic awareness? Is theological tradition a source of images that happen to fit the spirit of our age, or does Judaeo-Christian tradition offer other interpretation? Does the ‘end’ of this particular world and this particular age refer us to the beginning of a new world and a new age? Or does this notion merely represent a flight from present conditions that would be unbearable otherwise? This issue of Concilium enquires into the meaning of ‘apocalyptic’ in biblical tradition; how that tradition persists in, or is re-introduced into present-day Christian theology; and the consequences…….

Leia Mais:
Concilium comemora 50 anos em 2015

II Colóquio de Exegese do AT na UFRJ

II Colóquio Internacional de Exegese do Antigo Testamento

:: Grupo de Pesquisa DIPRAI – As dimensões proféticas da religião do Antigo Israel

:: Data
13 a 15 de outubro de 2014

O II Colóquio Internacional de Exegese do Antigo Testamento, organizado pelo Grupo de Pesquisa DIPRAI ( = As Dimensões Proféticas da Religião do Antigo Israel), visa, sobretudo, ao estudo literário-histórico e teológico das tradições bíblicas que apresentam o evento do ‘êxodo’ (Ex, Lv, Nm, Dt). Serão acolhidas também pesquisas avançadas sobre outros textos pertencentes à Bíblia Hebraica, desde que estas, em sua reflexão teológica e literária, façam referência à experiência do ‘êxodo’ – programação em fase de elaboração. Aceitamos propostas de trabalho de docentes e pós-graduandos até 14 de agosto. A 1ª reunião da comissão organizadora será no dia 15 de agosto.

:: Organizadores
Prof. Dr. Matthias Grenzer – PUC-SP — Líder do Grupo de Pesquisa DIPRAI
Prof. Dr. Leonardo Agostini Fernandes – PUC-Rio
Profa. Dra. Cláudia Andréa Prata Ferreira – FL/UFRJ

:: Realização
Setor de Língua e Literatura Hebraicas – Departamento de Letras Orientais e Eslavas – FL/UFRJ, PUC-Rio, PUC-SP

:: Apoio
Setor de Cultura e Extensão da FL/UFRJ e Laboratório de Línguas da FL/UFRJ

:: Local
Faculdade de Letras da UFRJ. Campus: Cidade Universitária, Ilha do Fundão. Rio de Janeiro, RJ.

:: Horário
8:00 às 17:00 – Auditório: G-2

:: Inscrição (ouvintes) gratuita no local antes do início da atividade acadêmica (1º dia).

:: Informações
claudiaprata@letras.ufrj.br

Confere-se certificado – envio por e-mail.

O mal no Judaísmo do Segundo Templo e no Cristianismo Primitivo

Nos dias 23 e 24 de maio de 2014 o Centro para o Estudo Socioantropológico da BíbliaCentre for the Social-Scientific Study of the Bible – da St Mary’s University, Twickenham, Londres, realizou uma conferência sobre o mal no judaísmo do Segundo Templo e no Cristianismo Primitivo, com abordagens culturais, históricas e textuais.

Evil in Second Temple Judaism and Early Christianity: Cultural, Historical and Textual Approaches

Leia mais sobre o evento aqui e aqui. Conferencistas de renome estiveram presentes.

O interessante é que, agora, alguns vídeos das conferências estão disponíveis online. Aqui ou aqui.

O tema sempre foi muito debatido por biblistas, teólogos e filósofos em todos os tempos. Por exemplo: anteontem, dia 15, fizemos mais uma reunião dos Biblistas Mineiros na FAJE, em Belo Horizonte, MG, e o tema do mal no judaísmo e no cristianismo, entre outros, foi um dos nossos assuntos (sobre a reunião dos Biblistas Mineiros publicarei um post em breve).

Resenhas de uma dezena de estudos bíblicos recentes sobre o problema do mal podem ser lidas na página da RBL aqui.

Leitura ecológica de Gn 1: faça o download do texto

Proposta de uma leitura ecológica do relato sacerdotal da criação (Gn 1,1-2,4a):  esta é a monografia de conclusão do Curso de Teologia de Sebastião de Magalhães Viana Junior, estudante da FARP – Faculdade de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Ribeirão Preto. No ano passado, 2013, fui o orientador de Sebastião na elaboração deste estudo e José Luiz Gonzaga do Prado foi o leitor. Insisti com Sebastião, atualmente cursando o quarto e último ano de Teologia, para que o publicasse, pois sua leitura pode ser interessante para muita gente.

Observe sua perspectiva.

Ele diz, na Introdução da monografia, que “não é admissível que um teólogo pense Deus sem pensar o mundo. A criação é um episódio teologicamente importante, e é por isso que nós procuramos apresentar algumas palavras sobre ela neste nosso trabalho.

Duas perguntas nos motivaram e o texto bíblico de Gn 1,1–2,4a, o relato sacerdotal da criação, ofereceu-nos base para respondê-las sem fugir do conteúdo bíblico-teológico. Em primeiro lugar nos perguntamos: se Deus criou o mundo, ‘e viu que era bom’, por que há uma realidade que sofre e faz sofrer? Referimo-nos à crise ecológica. A habitabilidade do mundo em que vivemos está ameaçada e isso representa uma interpelação à qual a fé não pode se furtar. Como já antecipamos, o nosso não será um discurso autônomo sobre o em-si do cosmos. Isso não é de competência da teologia. Mas o que a teologia bíblica pode dizer a esse respeito, isso nós procuramos apresentar aqui. A base da nossa reflexão é o que diz a Tradição cristã. Justamente porque não é possível fazer teologia sobre o mundo dando as costas à gravidade do problema ecológico, nós não pudemos nos conformar, ficando de braços cruzados.

Para provocar uma reflexão, partimos do texto genesíaco sacerdotal sobre a Criação e do que a Tradição guardou a seu respeito. Isso porque este texto bíblico foi muito utilizado como fonte legitimadora da  ‘dominação’, do consumo e da exploração predatória dos recursos naturais. Sendo assim – e aqui está nossa outra pergunta motivadora –, como podemos perceber que o texto, em vez de autorizar tal destruição, oferece uma mensagem de esperança e de salvação para nós hoje?

Graças a essas perguntas, o desenho do nosso trabalho se fez”.

Clique no link abaixo e faça o download de

Proposta de uma leitura ecológica do relato sacerdotal da criação (Gn 1,1-2,4a)

São 58 páginas em formato pdf e o arquivo tem 627 KB.

A luta pela justiça no Antigo Testamento

Como analisar a denúncia profética da opressão? Como contextuar a súplica do justo oprimido pelo ímpio? Como compreender o dever do rei e/ou do Estado de proteger o oprimido? Como situar a proposta profética de construção de uma comunidade solidária? Como interpretar as leis da Torá preocupadas com a proteção dos pobres endividados e com a restauração de um campesinato independente? Como entender as afirmações da necessidade da justiça divina?

Uma proposta hermenêutica para a análise de tais textos bíblicos deveria considerar, pelo menos, quatro elementos:

  1. tentar identificar as situações sociais reais em que os textos bíblicos foram produzidos
  2. observar os textos bíblicos como propostas que visam proteger os oprimidos a partir de um lugar social determinado
  3. analisar os textos bíblicos como a definição de valores éticos socialmente reconhecidos
  4. atualizar os textos bíblicos em seu persistente potencial de denúncia e anúncio

Confira uma proposta deste tipo em:

HOUSTON, W. J. Contending for Justice: Ideologies and Theologies of Social Justice in the Old Testament. London: Bloomsbury T & T Clark, 2008, 304 p. – ISBN 9780567033543.

Sobre o livro:

Contending for Justice analyses texts on social justice in the Old Testament and argues that despite their ideological character they may still assist in shaping a Christian theological approach to social and global injustice. The book argues on the one hand that a class interest is involved in all texts on the subject of social justice, and on the other that, that the very interest demands that they should appeal to the broadest possible public by using generally accepted ethical and theological ideas. Four elements are set out in a hermeneutical proposal: texts should be understood as rhetoric in real social situations, as ideology protecting a social position, as defining recognized ethical values, and theologically as having a critical and constructive potential for the interpreter’s own situation. A second chapter attempts to sketch the social conditions in which such texts were formed. The hermeneutical scheme is then applied, but not rigidly, to a wide range of texts: prophetic denunciations of oppression, texts in a variety of genres defining the characteristics of the just individual, texts in the Psalms and Isaiah defining the duty of the king to protect the poor, visions of a just community in the prophets, words of Torah aimed at protecting the indebted poor and restoring an independent peasantry, and assertions of the justice of God. The book concludes with brief reflections on the value of the Old Testament as a resource in the struggle for justice.

VI Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica

O VI Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB), fundada em 2004, em Goiânia, acontecerá em Vitória, ES, na Faculdade UNIDA, de 9 a 11 de setembro de 2014.

O tema central será Bíblia e Cultura.

Estão confirmados os nomes dos conferencistas do VI Congresso: os biblistas Elsa Tamez, professora emérita da Universidade Bíblica Latino-americana, e Pablo Andiñach, do ISEDET, Argentina.

Visite a página da ABIB e veja mais detalhes.

Como e por que a Bíblia foi escrita?

The Bible’s primary purpose is not religious but political. O objetivo primário da Bíblia Hebraica? Político e não religioso.

Curso online gratuito. Confira a proposta, a data e o programa do curso.

The Bible’s Prehistory, Purpose, and Political Future – Jacob L. Wright – Emory University

Como e por que a Bíblia foi escrita? Este curso sintetiza pesquisas recentes fascinantes em estudos bíblicos e apresenta uma nova e poderosa tese: O propósito principal da Bíblia não é religioso, mas político. Enfrentando uma derrota catastrófica, os autores bíblicos criaram uma nova forma de comunidade. Sus conquistas estão diretamente relacionadas às questões modernas de política, economia e teologia.

Com as suas muralhas arrasadas pelos exércitos da Babilônia, Jerusalém juntou-se a uma longa linha de antigas cidades vencidas – desde Ur e Nínive e Persepolis até a própria Babilônia. Enquanto alguns se recuperaram da destruição, outros não. Mas ninguém respondeu à catástrofe política criando o tipo de monumento elaborado e duradouro à sua própria queda que encontramos na Bíblia. A maioria das populações conquistadas via a sua subjugação como uma fonte de vergonha. Eles a entregaram ao esquecimento, optando, em vez disso, por exaltar as idades de ouro do passado. Os autores bíblicos, pelo contrário, reagiram à perda compondo extensos escritos que reconhecem o fracasso colectivo, refletem profundamente sobre as suas causas e descobrem assim uma base para a esperança coletiva.

Trabalhando através de variados textos bíblicos e do antigo Oriente Médio, e recorrendo a uma série de exemplos comparativos, o curso ilustra a maneira minuciosa com que os autores bíblicos responderam à derrota, avançando uma agenda demótica que coloca a comunidade no centro. O objetivo dos autores bíblicos era criar uma nação, e eles procuraram realizar esse objetivo através de um texto compartilhado, que inclui histórias e canções, sabedoria e leis.

 

“How and why was the Bible written? This course synthesizes fascinating recent research in biblical studies and presents a powerful new thesis: The Bible’s primary purpose is not religious but political. Facing catastrophic defeat, the biblical authors created a new form of community. Their achievements bear directly on modern questions of politics, economics, and theology.

With its walls razed to ground by Babylon’s armies, Jerusalem joined a long line of ancient vanquished cities—from Ur and Nineveh and Persepolis to Babylon itself. While some recovered from the destruction, others did not.  But none responded to political catastrophe by fashioning the kind of elaborate and enduring monument to their own downfall that we find in the Bible. Most conquered populations viewed their subjugation as a source of shame. They consigned it to oblivion, opting instead to extol the golden ages of the past.  The biblical authors in contrast reacted to loss by composing extensive writings that acknowledge collective failure, reflect deeply upon its causes, and discover thereby a ground for collective hope.

Working through colorful biblical and ancient Near Eastern texts, and drawing on an array of comparative examples, the course illustrates the thoroughgoing manner with which biblical authors responded to defeat by advancing a demotic agenda that places the community at the center. The aim of the biblical authors was to create a nation, and they sought to realize this goal via a shared text, which includes stories and songs, wisdom and laws”.

Leia o texto completo.

Descobri o curso aqui. Obrigado Charles Jones, do AWOL – The Ancient World Online. Onde há muitas coisas interessantes.