A História de Israel na pesquisa atual

A História de Israel na pesquisa atual. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 71, p. 62-74, 2001.

Este artigo foi publicado, de forma mais ampliada, na Ayrton’s Biblical Page, onde acréscimos ao texto são feitos sempre que surgem novidades. A bibliografia foi atualizada em 2018.

Poucas pessoas no Brasil, na virada do milênio, mesmo entre os especialistas, estavam informadas sobre as novas pesquisas na área da “História de Israel”. E não havia quase nenhum debate sobre o tema. Quando eventualmente este acontecia, causava curiosidade, espanto ou, mais frequentemente, como posso testemunhar, rejeição. Eu mesmo senti este impacto nas primeiras leituras, como disse aqui nesta entrevista:

(…) quando li, em 1998, o livro de Philip R. Davies, In Search of ‘Ancient Israel’ [Em busca do ‘Antigo Israel’], minhas certezas sobre o antigo Israel desabaram. Este livro me deixou muito incomodado. O consenso, que eu ainda pensava existir, fora rompido. Afinal: quem é Israel e como surgiu esta entidade? O antigo Israel, de um dado aparentemente conhecido através dos relatos bíblicos, tornou-se um problema a ser abordado com outros recursos, como a arqueologia, a análise socioantropológica etc (…)  Isto me fez partir para muitas e novas leituras. Infelizmente, a maioria em inglês ou alemão, inacessível para meus alunos ou, como percebi, desinteressante para muitos colegas biblistas ou até mesmo de aparência agressiva, pois desestabilizadora, para os teólogos sistemáticos com os quais eu trabalhava.

Esta, uma das razões porque este número da revista Estudos Bíblicos foi, a pedido da Vozes, ampliado e publicado em livro:

FARIA, J. de Freitas (org.) História de Israel e as pesquisas mais recentes. Petrópolis: Vozes, 2003, 181 p.  – ISBN 8532628281. O meu texto, que aborda as novas pesquisas, está nas p. 43-87.

A primeira edição esgotou-se em 2 meses. Uma segunda edição foi imediatamente lançada, mas também já está esgotada.

Transcrevo aqui trecho da resenha feita pelo exegeta argentino José Severino Croatto:

Escrito por um grupo de cinco biblistas mineiros, esse livro é uma tentativa de situar a História de Israel na pesquisa atual. Jacir de Freitas Faria, organizador, inicia o livro fazendo um apanhado dos “personagens” bíblicos mais notáveis, assim como são apresentados na Bíblia, enfocando em cada caso ou época a problemática da terra (…) As Bíblias servem para reconstruir a história real – não a reconstrução “teológica” – de Israel? Em poucas palavras, Romi Auth explica o problema no capítulo 2. Um ensaio sumamente útil para o leitor é o de Airton José da Silva (cap. 3) sobre “A história de Israel na pesquisa atual” (p. 43-87). Os pontos essenciais da problemática histórica: patriarcas, história javista, diferença entre Canaã e Israel, existência de um império davídico-salomônico ou do exílio babilônico, assim como a questão do “Israel” das origens, são tratados de forma muito sintética, mas clara. É excelente a referência aos mais recentes autores que estão discutindo estes assuntos, e valiosa a bibliografia utilizada, que, aliás, inclui dados informativos. Realmente, uma síntese inteligente do tema, tal como está sendo debatido nos círculos acadêmicos. Uma outra visão, não historiográfica, mas da tradição teológica, é apresentada por Johan Konings no capítulo 4. Neste caso, interessam a forma literária e os temas de cada um dos livros, os quais chamamos “históricos”, em nossa linguagem. Quais elementos historiográficos eles trazem? Que tipo ‘história’ eles representam? (…) Qual é a visão do profeta Amós sobre a historia de Israel? É o que apresenta Jaldemir Vitório no capítulo 5. Esta visão, crítica em termos religiosos, é ressaltada pelo autor como um dado importante neste livro profético. O final do livro está também sob os caprichos da ‘pena’ do seu organizador, Jacir de Freitas Faria (cap. 6), quem nos descreve como a história de Israel é recebida e relida nos Salmos.

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A História de Israel no debate atual

A História de Israel no Debate Atual. Cadernos de Teologia, Campinas, n. 9, p. 42-64, 2001.

Até meados da década de 70 do século XX, havia um razoável consenso na História de Israel. Entre outras coisas, o consenso dizia que a Bíblia Hebraica era guia confiável para a reconstrução da história do antigo Israel. Dos Patriarcas a Esdras, tudo era histórico. Se algum dado arqueológico não combinava com o texto bíblico, arranjava-se uma interpretação diferente que o acomodasse ao testemunho dos textos, como no caso da destruição das (inexistentes) muralhas de Jericó pelo grupo de Josué

(…)

Mas, a ‘História de Israel’ está mudando. O consenso foi rompido. A paráfrase racionalista do texto bíblico que constituía a base dos manuais de ‘História de Israel’ não é mais aceita. A sequência patriarcas, José do Egito, escravidão, êxodo, conquista da terra, confederação tribal, império davídico-salomônico, divisão entre norte e sul, exílio e volta para a terra está despedaçada.

O uso dos textos bíblicos como fonte para a ‘História de Israel’ é questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e falar de ‘arqueologia bíblica’ hoje é proibido: existe uma ‘arqueologia da Palestina’, ou uma ‘arqueologia da Síria/Palestina’ ou mesmo uma ‘arqueologia do Levante’.

O uso de métodos literários sofisticados para explicar os textos bíblicos, afasta-nos cada vez mais do gênero histórico, e as ‘estórias bíblicas’ são abordadas com outros olhares. A ‘tradição’ herdada dos antepassados e transmitida oralmente até à época da escrita dos textos frequentemente não consegue provar sua existência.

A construção de uma ‘História de Israel’ feita somente a partir da arqueologia e dos testemunhos escritos extrabíblicos é uma proposta cada vez mais tentadora. Uma ‘História de Israel’, que dispense o pressuposto teológico de Israel como ‘povo escolhido’ ou ‘povo de Deus’ que sempre a sustentou. Uma ‘História de Israel e dos Povos Vizinhos’, melhor, uma ‘História da Síria/Palestina’ ou uma ‘História do Levante’ parece ser o programa para os próximos anos.

E há pesquisadores de renome na área, como Rolf Rendtorff, exegeta alemão, professor da Universidade de Heidelberg, falecido em 2014, que já em 1993 afirmava em artigo na revista Biblical Interpretation 1, p. 34-53, que os problemas da interpretação do Pentateuco estão intimamente ligados aos problemas mais amplos da reconstrução da história de Israel e da história de sua religião.

Este artigo quer traçar um panorama destas mudanças pelas quais vem passando a ‘História de Israel’ nos últimos trinta e tantos anos, apontar as dificuldades que a crise vem criando e propor algumas pistas de leitura para os interessados no assunto.

Este artigo foi publicado, de forma mais ampliada, na Ayrton’s Biblical Page, onde acréscimos ao texto são feitos sempre que surgem novidades. A bibliografia foi atualizada em 2015. Clique aqui para ler o artigo.

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Vale a pena ler os profetas hoje?

Vale a pena ler os profetas hoje? Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000. A bibliografia foi atualizada em 2015.

Ainda vale a pena ler os profetas hoje? Que valor têm as suas palavras para nós hoje? O mundo mudou muito, e nós o que temos a ver com os problemas e as propostas de profetas israelitas que viveram há mais de 2500 anos?

O mundo mudou muito, mas as crises vividas pelos profetas ainda acontecem. Em contextos diferentes, é claro. Entretanto, os problemas da opressão, do domínio, do poder despótico, da manipulação da religião, da falsa consciência são mais atuais do que nunca. E é aí que entram os profetas: eles podem, com suas palavras tão antigas e tão atuais, nos ajudar a enfrentar as agudas situações de crise neste terceiro milênio.

Isto depende, porém, de um enfoque correto, de uma abordagem adequada dos textos dos profetas israelitas. O que nem sempre é fácil. Persistem ainda muitos obstáculos. Que, curiosamente, não vêm da antiguidade e da complexidade dos textos dos profetas. Vêm de nossa época e de nosso olhar: são os condicionamentos culturais ocidentais os que mais nos afastam de uma leitura proveitosa dos profetas.

É toda uma mentalidade, uma secular visão de mundo que nos domina, de tal modo que quase sempre a sobrepomos ao texto bíblico, ocultando o seu sentido original e inutilizando-o frente aos problemas reais do mundo atual.

Por isso, o que aqui proponho é a abordagem de alguns dos obstáculos hermenêuticos mais comuns, nos quais constantemente tropeçamos. Obstáculos hermenêuticos são armadilhas do pensamento. Isto servirá de alerta e alarme para nós. Pois só uma constante vigilância ideológica manterá aberta a nossa mente para a experiência do nascimento do sentido que acontece na operação de leitura dos textos proféticos.

O filósofo francês da ciência Gaston BACHELARD trabalhou de maneira muito interessante a questão dos obstáculos epistemológicos, noção na qual me inspirei para falar de obstáculos hermenêuticos. O texto de Bachelard está em sua obra La formation de l’esprit scientifique: contribution à une psychanalyse de la connaissance objective. 15. ed. Paris: Vrin, 2000, mas pode ser lido, em português, em BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003.

Este texto foi adaptado de meu livro Nascido Profeta: a vocação de Jeremias. São Paulo: Paulus, 1992, p. 110-122.

SOTER 2000: Teologia na América Latina

Teologia na América Latina: Prospectivas. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000.

Realizou-se em Belo Horizonte, nos dias 24-28 de julho de 2000, o Congresso da SOTER, Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. O tema, neste ano de balanços, foi Teologia na América Latina: Prospectivas. Do Congresso, que contou, pela primeira vez, com a adesão de vários países da América Latina, participaram 234 teólogos, teólogas e cientistas da religião. Destes, 77 vieram da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai, além de convidados da Áustria, Canadá, Espanha, Estados Unidos e Itália.

Alguns nomes de destaque na Teologia Latino-Americana que se fizeram presentes: Leonardo Boff, Clodovis Boff, Gustavo Gutiérrez (Peru), José Comblin, João Batista Libânio, Antônio Moser, Benedito Ferraro, Marcelo Barros, Alberto Antoniazzi, Faustino Teixeira, Pablo Richard (Costa Rica), Ronaldo Muñoz (Chile), Sergio Silva Gatica (Chile), Alberto Parra (Colômbia), José Duque (Costa Rica) e tantos outros. Sem nos esquecermos da presença do Vice-Presidente da Sociedade Europeia de Teologia e do Secretário da Sociedade Católica de Teologia dos Estados Unidos, ou do polêmico teólogo italiano Giulio Girardi, nem do fato inédito da participação e filiação à SOTER de Dom Emanuel Messias de Oliveira, Mestre em Bíblia, [então] bispo da Diocese de Guanhães, MG [atualmente, em 2015, Dom Emanuel é bispo de Caratinga, MG].

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