Dos danos políticos da mídia alienada

Quem desconfia fica sábio…

Acabei de ler um texto no site de CartaCapital, revista que aprecio e admiro, mas que hoje me deixou perplexo, por reproduzir um típico pensamento alienado e alienante.

Trata-se do artigo Papa é um Feliciano com muito mais poder e o apoio da Globo.

Foi escrito pelo editor de mídia online da revista, Lino Bocchini, no Blog do Lino, e representa, se diz na página, sua opinião sobre a visita do papa. Publicado em 23/07/2013 às 14h49. Última modificação: 23/07/2013 às 16h34.

Por que considero o texto alienado e alienante?

Vejamos: o processo de fetichização ou alienação ocorre quando as relações sociais entre os homens aparecem como relações entre coisas, como realidades naturais e independentes de suas ações. Os produtos de suas atividades revelam-se alheios à sua essência: há uma cisão entre essência (práxis criadora) e existência (vida social).

Ora, quando o pensamento não supera o imediatismo e o espontaneísmo, capta-se somente a forma aparente da realidade e não se atinge a sua essência. Várias manifestações do pensamento atual, sejam elas racionalistas ou irracionalistas, objetivistas ou subjetivistas, possuem esse traço fetichizador. Limitando-se à apreensão imediata da realidade, não elaborando as categorias a partir de sua essência econômica, o pensamento acaba servindo aos interesses da burguesia.

Este pensamento elege a subjetividade como única fonte de valores autênticos, subjetividade que acaba negando o real contraditório. E o que ocorre? Este protesto subjetivo transforma-se fatalmente em conformismo real. É um pensamento reprodutor do mecanismo capitalista, pois ataca sua aparência, deixando intacta sua essência.

E mais: esta contradição é sublimada na fuga do real pela transformação do ressentimento – sentimento considerado negativo e inaceitável – em indignação moral, atitude considerada positiva e corajosa.

Pergunto: CartaCapital não mereceria um editor de mídia online um pouco mais atento aos atuais interesses políticos em jogo tanto no Brasil quanto no Vaticano?

 

Atualização: 24.07.2013 – 11h40:
O autor do texto, Lino Bocchini, está apanhando feio dos leitores do site de CartaCapital nas centenas de comentários postados. Nota-se espanto e indignação da maioria por encontrar texto tão leviano no site de sua revista preferida.

Como gosta de dizer Mino Carta, é do conhecimento até do mundo mineral que o nivelamento de Francisco a Feliciano não tem cabimento.

Vale aqui citar um comentarista chamado Franco, que escreveu hoje: Lino Bocchini, pare tudo e comece de novo. Começando com um pedido de desculpas pelo infeliz texto. Carta Capital é maior que essa sua visão equivocada.

 

Atualização: 31.07.2013 – 14h02
Os comentários já passam de 600. E o desagrado da maioria dos comentaristas com o texto de Lino Bocchini continua. Pois é patente o “salto epistemológico” do autor ao comparar duas grandezas tão distintas como Francisco e Feliciano.

Como disse muito bem o comentarista Urbano Lopes da Silva Junior, 7 dias atrás: A comparação seria válida se as alegações feitas por ambos estivesse no mesmo contexto institucional. O Papa fala segundo a perspectiva da Igreja e ninguém (pelo menos na atualidade) é obrigado a ser católico. Felicianos e outros políticos protestantes usam as suas atribuições públicas para procurar traduzir as suas perspectivas religiosas, cujas recompensas devem ser atemporais e de outra dimensão que não a terrena, para um contexto temporal, terreno, transformando em imposição legal aspectos onde a laicidade é a forma menos desigual de conduzir os rumos da sociedade. São duas coisas fundamentalmente diferentes. Da mesma, não vejo problema de os protestantes fazerem coro de suas convicções a fim de orientar seus adeptos na sua vida espiritual. São esferas diferentes da vida. 

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