Fazendo Teologia no umbral de Planck?

No post anterior recomendo dois artigos muito bons que realmente fazem pensar. Mas, quanto a este, li e fiquei sem saber o que pensar… Há um problema epistemológico neste tipo de raciocínio? Ou não?

Em meu artigo Inventando o Universo: Pensar Deus a partir da Nova Física, escrevi ainda no começo do milênio:
“Einstein disse certa vez que estava interessado mesmo era em saber como Deus criara este mundo. Ora, já se passou quase um século desde que a teoria da relatividade e a mecânica quântica começaram a ajudar os homens a compreenderem melhor como é feito este mundo em que vivemos. Porém, muitos teólogos ainda encontram sensíveis dificuldades em pensar Deus e o homem a partir da cosmologia que surgiu com as descobertas da física do século XX. Em pleno terceiro milênio, teólogos há que, por razões diversas, ainda continuam a ler os textos bíblicos e a elaborar suas reflexões como se as cosmologias antiga e medieval fossem mais do que suficientes para explicar o universo e o lugar do homem nele. Tempo, espaço, matéria, Deus, causalidade, alma, criação, salvação, redenção, determinismo, livre-arbítrio e tantos outros conceitos precisam ser revisitados sob o olhar vigilante da nova física”.

De qualquer maneira aí está:

 

Um Deus do qual surge o espaço-tempo – IHU: 13/4/2008

O Prêmio Templeton 2008 foi concedido ao professor polonês Michael Heller, filósofo, físico, cosmólogo e matemático, além de sacerdote católico. Este Prêmio é concedido anualmente pela Fundação John Templeton e é dotado com 1,6 milhão de dólares. É atualmente o Prêmio de maior quantia no mundo concedido a um único indivíduo. Ao revisar as pesquisas de Heller, que lhe valeram este prestigioso Prêmio, se colocam de novo alguns dos grandes temas da moderna física teórica, da cosmologia e dos modelos matemáticos aplicados à interpretação da realidade na ciência. O modelo teórico proposto por Heller responde à ideia tradicional de um Deus transcendente que, por outro lado, é a origem criadora, o fundamento do ser, do qual surge o espaço-tempo do mundo criado. A reportagem é de Javier Monserrat e publicada no sítio Tendências 21, 25-03-2008. A tradução é do Cepat.

O Prêmio Templeton 2008 foi anunciado no dia 17 de março por ocasião de uma entrevista coletiva no Church Center das Nações Unidas em Nova York. O Prêmio foi outorgado a Michael Heller por seu trabalho de mais de quarenta anos e pela contribuição de conceitos surpreendentes e agudos sobre a origem e a causa do universo.

Heller foi professor de filosofia, mas sua formação provém da matemática, da física, da cosmologia, assim como também da filosofia e da teologia. Suas contribuições são, em muitos sentidos, estritamente físicos, ainda que não experimentais, mas teóricas: na realidade, são propostas de modelos matemático-formais especulativos. De fato, foram publicadas em prestigiosas revistas internacionais de física.

Mas, o fundo das preocupações de Heller aponta sempre para a filosofia ou a metafísica do universo, onde o fundamento do real põe em relação as raízes ontológicas do universo com a ontologia da Divindade e o ato criador.

Pode-se estar ou não de acordo com as especulações de Heller, avaliar como mais ou menos verossímeis e melhor ou pior construídas formalmente, mas quem o lê não deixa de ter a impressão de seguir um físico-filósofo extraordinariamente bem informado, preciso e profundo em todas as suas afirmações.

Uma circunstância significativa na vida de Heller foi sua relação com o Papa João Paulo II que se iniciou já antes que o cardeal Karol Wojtyla chegasse ao Pontificado. Em reuniões privadas com Heller e outros cientistas poloneses, João Paulo II teve ocasião de refletir sobre a projeção das grandes questões científicas sobre a teologia.

Aparentemente (já que oficialmente não afirmamos obviamente nada), Heller é o autor da carta de João Paulo II a George Coyne em 1996, então diretor do Observatório Romano. Esta carta, reproduzida na internet da Cátedra, é um dos documentos teológicos mais matizados e abertos de João Paulo II. Nela, o Papa faz eco à necessidade de que assim como na Idade Média se fez uma teologia inspirada em Aristóteles, hoje se deveria fazer uma teoria inspirada na imagem do mundo na ciência.

Para ajudar – ou para complicar – leia ainda:
Cosmólogo recebe prêmio defendendo existência de Deus – BBC Brasil: 14 de março de 2008
Prémio Templeton 2008 – De Rerum Natura: 24 de março de 2008
Newest Templeton Prize winner rejects “intelligent design” – National Center for Science Education: March 20, 2008
Templeton Prize
Sir John Templeton