História de Israel 26

Páginas 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 | 17 | 18 | 19 | 20 | 21 | 22 | 23 | 24 | 25 | 26 | 27 | 28 | 29 | 30 | 31 | 32 | 33 | 34

leitura: 18 min

9. Os Macabeus I: a resistência

Com a proibição das tradicionais práticas judaicas em 167 a.C. desencadeia-se feroz perseguição àqueles que não se submetem às ordens do rei selêucida Antíoco IV Epífanes. A posse de livros da Lei, a prática da circuncisão ou qualquer observância de um ritual judaico leva a pessoa à morte.

Recusando-se a prestar culto aos deuses gregos, um sacerdote de Modin, que se retirara de Jerusalém desgostoso com o rumo das coisas, chamado Matatias, começa um movimento de rebelião armada contra os gregos e seus associados da aristocracia judaica.

Com seus cinco filhos e grande grupo de camponeses fiéis às tradições judaicas ele faz uma guerra constante aos helenizantes, que culminará, nesta primeira fase, com seu filho Judas Macabeu, na libertação de Jerusalém e na purificação do Templo apenas três anos após a proibição dos sacrifícios javistas.

Jônatas, irmão de Judas Macabeu, será o primeiro sumo sacerdote da família, ocupando um cargo que, embora esteja vago, não lhe pertence. Isto começa a criar divisões internas, pois os judeus mais tradicionais não podem admitir esta atitude.

Aproveitando-se do aprofundamento da divisão interna do império selêucida e de seu enfraquecimento político e econômico, os irmãos Macabeus vão pouco a pouco consolidando as suas conquistas na Judeia.

Neste capítulo abordarei exatamente a luta de Matatias, de Judas Macabeu e de Jônatas pela independência da Judeia.

 

9.1. Matatias e o começo da revolta

Como vimos, é em 167 a.C. que as práticas tradicionais do judaísmo são proibidas pelo decreto de Antíoco IV Epífanes e o culto de Zeus Olímpico é introduzido no Templo de Jerusalém.

É então que muitos judeus fiéis à Lei morrem, mas não abdicam da aliança javista herdada de seus pais. Falando da perseguição desencadeada pelo decreto real e da resistência dos judeus fiéis, assim descreve 1Mc 1,56-64 os fatos:

“Quanto aos livros da Lei, os que lhes caíam nas mãos eram rasgados e lançados ao fogo. Onde quer que se encontrasse, em casa de alguém, um livro da Aliança ou se alguém se conformasse à Lei, o decreto real o condenava à morte. Na sua prepotência assim procediam, contra Israel, com todos aqueles que fossem descobertos, mês por mês, nas cidades. No dia vinte e cinco de cada mês ofereciam-se sacrifícios no altar levantado por sobre o altar dos holocaustos. Quanto às mulheres que haviam feito circuncidar seus filhos, eles, cumprindo o decreto, as executavam com os mesmos filhinhos pendurados a seus pescoços, e ainda com seus familiares e com aqueles que haviam operado a circuncisão. Apesar de tudo, muitos em Israel ficaram firmes e se mostraram irredutíveis em não comerem nada de impuro. Eles aceitaram antes morrer que contaminar-se com os alimentos e profanar a Aliança sagrada, como de fato morreram. Foi sobremaneira grande a ira que se abateu sobre Israel”.

O dia 25 de cada mês é a data do aniversário do rei e da inauguração do altar a Zeus Olímpico: o dia 25 de Casleu, que equivale, em nosso calendário, ao dia 15 de dezembro. A comemoração do aniversário do rei é uma prática persa retomada pelos macedônios no Oriente. Temos, desta prática, importante testemunho de Platão:

“Quando nasce o primogênito, herdeiro presuntivo da coroa, logo é festejado o acontecimento por todo o povo e os próprios governantes; daí por diante, todos os anos, no dia do aniversário do príncipe, a Ásia inteira comemora a efeméride com festejos e sacrifícios”[1].

Segundo 2Mc 6,7, os judeus devem participar também da festa de Dionísio:

“Eram arrastados com amarga violência ao banquete sacrifical que se realizava cada mês, no dia do aniversário do rei. E ao chegarem as festas dionisíacas, obrigavam-nos a acompanharem, coroados de hera, o cortejo em honra de Dionísio”.

Dionísio, na mitologia grega, é filho de Zeus e da princesa Semele. Dionísio é um deus da vegetação, que morre e ressuscita, sendo também o deus do vinho – o Baco, também celebrado em Roma, donde “bacanal” -, que libera as forças do inconsciente humano e inspira a música e a poesia. Os rituais dionisíacos são repletos de êxtases, misticismos e orgias sagradas que celebram a vida, obviamente, com grande ênfase na sexualidade.

Na Grécia, especialmente em Atenas, celebram-se quatro grandes festas em honra de Dionísio: as Dionisíacas Rurais (em dezembro), as Lenéias (em fins de janeiro, começo de fevereiro), as Antestérias (a “festa das flores”, celebrada em fins de fevereiro, começos de março, festa que comemora o renascimento da natureza) e as Grandes Dionísias ou Dionísias Urbanas (em março/abril, durante seis dias)[2] .

C. Saulnier pensa que a resistência dos judeus piedosos assuma, aos olhos de Antíoco IV, as características de uma verdadeira revolta e de uma oposição política perigosa. “Ao mesmo tempo, a profunda divisão dos judeus permite-nos compreender que os helenistas deviam se sentir ameaçados e acolhessem de boa vontade o apoio e a proteção das forças gregas. Assim, o começo desta crise é ambivalente, porque mistura a perseguição religiosa à guerra civil. Então, o que é interpretado em termos de perseguição pela literatura judaica, pode ser compreendido pelo historiador como uma reação contra a agitação que não parava de aumentar e a repressão de uma verdadeira revolta armada”[3] .

Reafirma esta interpretação religiosa judaica o 2º livro dos Macabeus, que faz uma verdadeira teologia do martírio. O livro descreve detalhadamente os suplícios sofridos pelo velho escriba Eleazar (2Mc 6,18-31) e o martírio dos sete irmãos com sua mãe (2Mc 7,1-42).

2Mc 6,12-13 garante ainda que o castigo que se abate sobre a nação judaica é a punição pelos pecados do povo e só servirá para purificá-lo e encaminhá-lo para o reto caminho. Pecados cometidos pelos helenizantes que violam a Lei sagrada:

“Agora, aos que estiverem defrontando-se com este livro, gostaria de exortar que não se desconcertem diante de tais calamidades, correção de nossa gente. De fato, não deixar impunes por longo tempo os que cometem impiedade, mas imediatamente atingi-los com castigos, é sinal de grande benevolência”.

Ao explicar a pilhagem do Templo por Antíoco IV, 2Mc 5,17 apresenta a mesma perspectiva:

“Antíoco subia até às alturas em seu pensamento, não percebendo que era por causa dos pecados dos habitantes da cidade que o Senhor estava irritado por um tempo, e que era por isso que se verificava essa sua indiferença para com o Lugar”.

É bom lembrarmos que a perseguição atinge apenas os judeus do distrito de Jerusalém. Não há sinal de perseguição entre os judeus da diáspora, por exemplo, entre os de Tiro e de Antioquia. Mas é interessante observarmos também a atitude dos samaritanos durante estes acontecimentos.

Flávio Josefo traz um texto a propósito dos samaritanos datado de 166 a.C. É um rescrito (= decisão do rei comunicada por escrito) de Antíoco IV aos sidonianos de Siquém, que é como os samaritanos, segundo Flávio Josefo, se designam nesta época.

“Memorando dos sidonianos de Siquém ao rei Antíoco Théos Epífanes: ‘Nossos ancestrais, por causa das secas que assolavam o país, obedecendo a um velho escrúpulo religioso, adotaram o costume de celebrar o dia que os judeus chamam de sábado, ergueram sobre o Garizim um templo anônimo e ofereceram os sacrifícios que lhes convinham. Hoje, quando tu tratas os judeus como merecem por sua maldade, os oficiais reais, pensando que é por causa de nosso parentesco com eles que nós seguimos as mesmas práticas, nos envolvem nestas mesmas acusações, enquanto que, por origem nós somos sidonianos, como o demonstram claramente as atas públicas. Nós te suplicamos, portanto, tu, o benfeitor e o salvador, de ordenar a Apolônio, chefe do distrito e a Nicanor, agente real, de não nos molestar fazendo contra nós as mesmas acusações que contra os judeus que nos são estranhos tanto pela raça como pelos costumes, e de chamar ao nosso templo anônimo, templo de Zeus. Deste modo, nós não seremos mais molestados e, podendo ocupar-nos com segurança de nossos trabalhos, nós aumentaremos as tuas rendas’. A tal pedido dos samaritanos, o rei deu a seguinte resposta: ‘O rei Antíoco a Nicanor. Os sidonianos de Siquém nos apresentaram o memorando que segue. Já que seus emissários, diante de nós, e de nossos amigos reunidos em conselho, asseguraram que eles nada têm a ver com o que é censurado nos judeus, mas que eles desejam viver segundo o costume dos gregos, nós os isentamos de todas as acusações e ordenamos que o seu templo, como eles o pediram, seja chamado templo de Zeus'”[4].

Entre os judeus que permanecem fiéis à Lei, encontra-se um sacerdote chamado Matatias, da linhagem de Joiarib, neto de Simeão, bisneto de um certo Asmoneu[5].

Matatias se recusa a oficiar no Templo profanado pelo culto estrangeiro e se retira com a sua família para a sua propriedade situada em Modin, povoado localizado a cerca de 12 km a leste de Lida/Lod.

Matatias tem cinco filhos, como nos relata 1Mc 2,2-5:

“Tinha cinco filhos: João, com o cognome de Gadi, Simão, chamado Tasi, Judas, chamado Macabeu, Eleazar, chamado Abaron, e Jônatas, chamado Afus”.

Os cognomes dos filhos de Matatias significam o seguinte: Gadi é o “afortunado”; Abaron é o “desperto”; Afus é o “favorecido”; Tasi tem significado incerto; Macabeu pode significar, do hebraico maqqabiahu, “designado por Iahweh”, ou do grego, “martelo”, possível alusão à sua força física ou, talvez, à forma de sua cabeça.

Quando os emissários reais chegam a Modin e convocam a população para o sacrifício sacrílego, pedindo a Matatias que oficiasse por ser um chefe ilustre na localidade, ele não só se recusa, mas ainda mata outro sacerdote que se oferecera no seu lugar e mata também o emissário real.

Convoca, em seguida, os judeus fiéis e foge com seus filhos para as montanhas (1Mc 2,27-28). Começa assim a luta desta célebre família contra os Selêucidas e seus aliados helenistas de Jerusalém e povoados vizinhos.

Mas a família de Matatias não está sozinha nesta luta. Diz 1Mc 2,29 que

“Muitos que amavam a justiça e o direito desceram ao deserto para ali se estabelecerem, eles, seus filhos, suas mulheres e seu gado, porque se tinham multiplicado os males sobre eles”.

E 1Mc 2,42 acrescenta que os assideus, homens valorosos e apegados à Lei se unem a Matatias e a seus filhos [6].

Matatias e os seus percorrem o território destruindo altares sacrílegos, circuncidando à força os meninos incircuncisos e recuperando a Lei das mãos dos gentios. Esta é a curta notícia que nos dá 1Mc 2,45-48.

As proibições de Antíoco IV Epífanes tocam em práticas bastante arraigadas no judaísmo pós-exílico. Vamos comentar algumas delas.

A prática do sábado parece ser muito antiga. A etimologia da palavra é incerta. Pode derivar do acádico shabattu ou shapattu, que significa “duas vezes sete” e indica o dia da lua cheia para os babilônios. Aliás, os calendários mesopotâmicos assinalam como dias de azar, ou dias tabu, as passagens das fases da lua, quando então o rei, o sacerdote e o médico, por exemplo, não devem exercer suas funções.

Para os judeus é um dia de descanso e dedicação do tempo a Iahweh. A ênfase sobre a observância do sábado cresce a partir do exílio e se torna lei, porque ela passa a ser uma marca característica do judeu fiel[7].

A circuncisão, que consiste na remoção do prepúcio, operação feita pelo pai da criança, deve ser cumprida no oitavo dia pós o nascimento, segundo Lv 12,3. Para a cerimônia usam os israelitas, naqueles tempos, facas de pedra lascadas, o que atesta a sua origem arcaica.

Entretanto, a circuncisão não é um ritual exclusivamente israelita: tribos africanas, americanas e australianas praticam-na. Quem não a conhece são os indo-europeus e os mongóis. Egípcios, edomitas, moabitas, amonitas, árabes, fenícios e cananeus usam igualmente a circuncisão. Dos povos palestinos com os quais Israel entra em contato, somente os filisteus (que são indo-europeus) não são circuncidados.

Quanto à sua origem, claro que um motivo higiênico pode estar oculto pelos rituais e cerimônias. Mas a circuncisão é, em tempos mais remotos, provavelmente um rito de iniciação à puberdade: uma cerimônia pela qual os rapazes são reconhecidos como homens adultos.

O seu uso israelita como símbolo de pertença a Iahweh data dos tempos do exílio babilônico, quando, progressivamente os outros povos da região vão deixando-na de lado. Daí a ênfase dada ao rito pelo judaísmo como marca característica do povo israelita[8].

As três principais festas (hag = peregrinação) israelitas, agora proibidas por Antíoco IV, são: a Páscoa/Ázimos; a festa das Semanas ou Pentecostes e a festa dos Tabernáculos ou das Tendas.

A Páscoa (pesah), termo de etimologia incerta, é um ritual muito antigo tipicamente pastoril, celebrado na primeira lua cheia da primavera, quando se sacrifica um animal novo para garantir a fecundidade de todo o rebanho. O seu sangue serve para aspergir as estacas da tenda, mais tarde os portais das casas, para afastar delas os poderes malignos.

Os Ázimos (massôt) são pães sem fermento. Esta festa marca o começo da colheita da cevada, no mês de Nisan (março/abril) e se celebra durante uma semana, de sábado a sábado.

Durante os sete primeiros dias da colheita, os sete dias da festa, come-se somente pão feito com farinha de grão novo, pão sem fermento. É excluído o que vem do “ano velho”, simbolizando um novo ponto de partida. E é realizada uma primeira oferta das primícias a Iahweh.

A partir da reforma de Josias (629-609 a.C.) celebra-se a Páscoa na primeira lua cheia da primavera (14 de Nisan) e os Ázimos a partir do dia 15. Dá-se também às duas festas um novo sentido: a celebração da libertação do Egito.

A tradição sacerdotal, posterior ao exílio, estabelece, em Lv 23,5-8; Nm 28,16-25; Ex 12,1-20.40-51, o seguinte: no dia 10 de Nisan cada família escolhe um cordeiro macho, sem defeito e de um ano. No dia 14, entre as duas luzes (à noite) o cordeiro é degolado e o seu sangue aspergido nos portais de cada casa. Durante esta noite de lua cheia assam e comem o cordeiro. Não se pode quebrar nenhum osso e o que sobrar é queimado. Também são consumidos nesta noite pães ázimos e ervas amargas, estando todos vestidos para viajar. Quando a família é pequena demais para comer todo o cordeiro, une-se aos vizinhos. Os escravos e os estrangeiros residentes também podem participar, desde que sejam circuncidados.

No dia 15 começa a festa dos Ázimos, que dura uma semana. No primeiro e no sétimo dia são feitas celebrações religiosas.

A festa das Semanas ou Pentecostes é celebrada 50 dias após a apresentação do primeiro molho de cevada na festa dos Ázimos, daí ser chamada pentecostés, “cinquenta”, em grego. A cerimônia consiste em oferecer dois pães fermentados, feitos com a nova farinha de trigo. Celebra o término da colheita, quando os primeiros frutos da lavoura, as primícias, são oferecidos a Iahweh. Foi posteriormente ligada ao Sinai, pois segundo a tradição, o povo libertado do Egito chega ao monte naquele época do ano.

A festa dos Tabernáculos ou Tendas é a mais importante das três festas de peregrinação em Israel. Primeiramente chamada de festa da colheita (asip), esta festa passa a chamar-se mais tarde sukkot, que se traduz por “cabanas”, “tendas” ou “tabernáculos”.

É, como as outras duas, uma festa agrícola, celebrada no outono, sem data precisa. Mais tarde a festa passa a ser celebrada, segundo as leis sacerdotais, a partir do dia 15 de Tishri (o mês de Tishri corresponde a setembro/outubro), com uma duração de sete dias, terminando com um dia solene de descanso.

No outono terminam todas as colheitas e se encerra o ano agrícola. Por isso, esta é uma festa muito alegre, como nossas festas juninas.

O nome sukkot vem da seguinte prática: durante as colheitas, o povo constrói cabanas ou abrigos nos pomares e vinhas, para se proteger do sol. Inicialmente a festa é celebrada ao ar livre e certamente assume o nome das cabanas (sukkot) que se espalham entre as plantações.

Mais tarde, a festa assume outro significado: o povo deve recordar o período em que vivera em tendas, no deserto, após a libertação do Egito (Lv 23,43). Naturalmente esta é uma associação litúrgica e não histórica[9].

Além destas três grandes festas, é preciso lembrar que há outras celebrações no Israel da época grega, que são igualmente proibidas por Antíoco IV Epífanes. Como o Yom Kippur, ou Dia da Expiação pelo santuário, clero e povo, celebrada no dia 10 de Tishri; ou a festa dos Purim, celebrada nos dias 14 e 15 de Adar (fevereiro/março), recordando a vitória dos judeus da Pérsia contra aqueles que querem exterminá-los, segundo o livro de Ester.

Há ainda um culto diário, típico do pós-exílio, celebrado de manhã e à tarde, segundo Ex 29,38-42 e Nm 28,2-8.

A luta contra a helenização é comandada por um grupo sacerdotal, os Macabeus, o que faz parecer que os motivos religiosos sejam prioritários ou mesmo os únicos para a resistência. Como, aliás, insistem os livros dos Macabeus.

Mas é preciso lembrar que há uma coincidência de interesses dos sacerdotes e levitas empobrecidos com os interesses dos camponeses. Por isso lutam lado a lado.

Sacerdotes e levitas vivem da contribuição dos camponeses, pois o culto e o sacerdócio não têm propriedades, excetuando-se, é claro, uns poucos sacerdotes da nobreza. Os sacerdotes prestam serviços em Jerusalém só de tempos em tempos, morando no mais, em suas cidades e aldeias. O financiamento do culto fica, na maioria das vezes, por conta do Estado.

Assim, a classe sacerdotal sem terras está interessada no controle público das terras, como manda a Lei, e não na privatização da propriedade da terra, que é a tendência da aristocracia filo-helênica. Só assim os sacerdotes podem ter certeza das contribuições para o Templo e para o sustento de suas famílias.

Se a terra pertence a Iahweh, como diz a Lei, e os sacerdotes são os intermediários entre Iahweh e o povo, através da instituição do Templo, a sua sobrevivência está garantida. Mas se a terra pertence ao rei, como o quer o direito do conquistador grego, os sacerdotes que não pertencem à aristocracia e não se associam aos gregos são prejudicados[10].

Página 27


[1]. PLATÃO, O primeiro Alcibíades 121c. Em Diálogos vol. V. Belém: Universidade Federal do Pará, 1975, p. 226. A partir de 2000, a Universidade Federal do Pará iniciou a reedição gradual dos Diálogos de Platão, sob a coordenação do filósofo Benedito Nunes.

[2]. Cf., sobre o tema, DE SOUZA BRANDÃO, J. Mitologia grega II. 21. ed. Petrópolis, Vozes, 2011, p. 113-140; ELIADE, M. História das crenças e das ideias religiosas. Vol. 1: Da Idade da Pedra aos mistérios de Elêusis. Rio de Janeiro: Zahar, 2010; BICKERMAN, E. The God of the Maccabees. Studies on the Meaning and Origin of the Maccabean Revolt, Leiden: Brill, 1979,  p. 74-75, acredita que estas festas, celebradas em Jerusalém, fazem renascer, ou melhor, são meros disfarces dos antigos cultos cananeus da fertilidade, tão fortes em Israel até o exílio.

[3]. SAULNIER, C. Histoire d’Israel III, p. 126.

[4]. JOSEFO, F. Antiquitates Iudaicae XII, 258-264; cf. SAULNIER, C. Histoire d’Israel III, p. 379-380.

[5]. Joiarib é, segundo 1Cr 24,7, o chefe da primeira das vinte quatro classes sacerdotais que servem no Templo. Mas é possível que esta posição de destaque seja uma reformulação do texto após as vitórias dos Macabeus e seu acesso ao sumo sacerdócio. Os descendentes de Matatias são conhecidos como “Macabeus”, do nome de seu filho Judas Macabeu, ou “Asmoneus” por causa de um bisavô de Matatias, segundo JOSEFO, F. Antiquitates Iudaicae XII, VIII, 1.

[6]. Assideus é a forma grecizada do hebraico hassidim, os “piedosos”. 1Mc 2,42 diz que “a partir daí, uniu-se a eles os grupos dos assideus (hê synagôgê ton assidáiôn), que eram israelitas fortes, corajosos e fiéis à Lei”.

[7]. Cf. DE VAUX, R. Ancient Israel. Its Life and Institutions.  2. ed. London: Darton, Longmann & Todd, 1968, p. 475-483. Em português: DE VAUX, R. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2004.

[8]. Cf. Idem, ibidem, p. 46-48.

[9]. Cf. Idem, ibidem, p. 415-517. Cf. também BICKERMAN, E. The God of the Maccabees, p. 88-90. 

[10]. Cf. KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997, p. 59-64.

Última atualização: 10.11.2019 – 17h02

Print Friendly, PDF & Email